quarta-feira, dezembro 28

Velejar em sonhos


" Imaginar-se rumando para o melhor sucede, num primeiro momento, apenas interiormente. É um indicativo de quanta juventude reside no ser humano. O que caracteriza o amplo espaço da vida ainda aberta e ainda incerta é a possibilidade de velejar em sonhos, muitas vezes do tipo totalmente sem base na realidade. (...) Aquilo que agora é pântano pode ser drenado. Redobrando-se a coragem e o saber, o futuro não virá como fatalidade sobre o ser humano, mas o ser humano virá sobre o futuro e ingressará nele com o que é seu "


Ernest Bloch, O princípio esperança


Feliz Novo Ano !

sexta-feira, dezembro 23

Natal: dia normal no Lixão de Babi


Fonte: Jornal Q!, 22/12/2005
 
Natal: dia normal no Lixão de Babi
Cestas do Natal Sem Fome não fazem a festa de quem vive no lixo, entre porcos e urubus

O odor, a sujeira e milhares de moscas ao redor não impedem que a dona de casa Maria Luiza Marques deixe as sandálias na porta, antes de entrar em seu barraco de madeira. O espaço tem pouco mais de quatro metros quadrados e o chão de barro limpo, em contraste com as toneladas de lixo produzidas pela população de Belford Roxo e jogadas à sua porta diariamente. Amanhã, Maria Luiza e sua família irão receber uma das cestas doadas pela campanha Natal Sem Fome. A chegada da comida é bem-vinda, mas não representa festa. "O Natal pra mim vai ser como um dia qualquer", resume, sem emoção.

Localizado em Belford Roxo, o Lixão Babi, onde Maria Luiza vive há cinco anos, é considerado o pior bolsão de miséria entre as comunidades atendidas pelo Natal Sem Fome no Rio. Com cinco filhos e o marido desempregado, Maria – que aparenta bem mais que seus 35 anos – sobrevive do que arrecada nos rejeitos. "Quando vem um pãozinho embalado e eu vejo que não está estragado, dou para as crianças", diz.

A situação é a mesma para as demais 30 famílias que moram ali e disputam com outros catadores garrafas, latas e papelão, vendidos para reciclagem. Solange da Silva Izidoro, 50, mudou-se para lá há 10 anos. Com sete filhos e grávida do oitavo, arrecada cerca de R$ 50 por semana, renda completada com o salário de motorista do marido. "A gente se mudou para cá porque não tinha como pagar aluguel. Aqui a gente também não paga água nem luz", explica.

Solange não se lembra em quem votou nas últimas eleições para presidente. Questionada se foi ou não no presidente Lula, diz: "Acho que talvez tenha sido nesse aí. Mas até agora acho que não mudou muita coisa, não é?".

O contato direto com o lixo e bichos como porcos e urubus, além das moscas, reflete-se na pele das crianças e das mães, cobertas por micoses e feridas. "Isso é normal, não é nada demais, não. O importante é que as crianças têm saúde", diz Solange, uma das moradoras que consegue manter os filhos na escola.

A costureira Mônica Valéria Barata, 38, é uma das voluntárias que se mobilizam anualmente para juntar as cestas na ONG Ação da Cidadania e levá-las para os moradores do lixão. "O problema é que nunca é suficiente. Eu dou prioridade aos que moram aqui. Quando acaba, as pessoas choram, mostram os filhos com fome. A gente se sente um nada", lamenta. Amanhã ela e a tia distribuirão insuficientes 160 cestas no lixão. Ao contrário do que se poderia esperar, a notícia da entrega não gera reações entusiasmadas. "Natal não é nada demais. O importante é que minha família vai ter o que comer", diz Marinete Ferreira, 60. - JAIME GONÇALVES FILHO
 
Brincadeiras no lixo

Embrenhado no interior da Baixada Fluminense e a poucos quilômetros do Rio, o Lixão Babi ocupa um espaço de 80 km² e recebe todos os dias o lixo produzido por aproximadamente 500 mil pessoas, população de um dos municípios mais pobres e violentos e do estado: Belford Roxo. O lugar é um dos 67 lixões que existem no estado, nos quais trabalham 2.762 famílias segundo pesquisa da Pastoral de Aterros Sanitários da Arquidiocese de Niterói. De acordo com o levantamento, são despejadas cerca de 200 toneladas de lixo por dia sem qualquer tratamento.

Em Belford Roxo, o ambiente é desolador. As pessoas catam e põem na boca qualquer alimento que encontram. Os restos de alimentos são disputados também por cachorros, porcos e bois. "É de cortar o coração, você ver crianças comendo alimentos mofados e molhados nesse lugar imundo", diz Mônica Valéria, uma das voluntárias do Natal Sem Fome.

No verão, com sol forte, o cheiro azedo do lixo se acentua; com a chuva, as valas feitas para escorrer o chorume do lixo transbordam e alagam as ruas já cheias de lama. "As crianças chegam à escola fedendo. Aí ninguém quer ir", diz a catadora Solange da Silva Izidora. Em meio à dureza do cotidiano, há espaço para brincadeiras. Cabeças de bonecas servem de brinquedos. E um rapaz saca do lixo uma máquina fotográfica velha e finge fotografar a equipe.
 
Eu só preciso de paz

Em época de festas e consumo desenfreado, era de se esperar que os mais necessitados nutrissem sonhos imensos. Não é o que acontece com a população do Lixão Babi. Nenhuma das pessoas ouvidas pela reportagem do Q! disse ambicionar bens materiais. O ex-vigia Valtenci dos Santos, 63, sonha alto, mas coletivamente. "Tudo que me falta é paz. Só isso", conta, depois de dizer que há 8 anos é catador do lixão. O trabalho lhe rende uma média de R$ 300 mensais para sustentar a família.
Valtenci encontra no avanço da tecnologia a razão para que um número tão grande de pessoas viva do lixo. "Isso são as máquinas ocupando o espaço da mão-de-obra humana. Ainda mais para uma pessoa na minha idade. Hoje, uma pessoa com 35 anos já está velha."
Créditos: Moskow

O lixão de Belford Roxo é uma das comunidades mais pobres do Rio

Créditos: Moskow


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quinta-feira, dezembro 22

O seu melhor presente



"O tempo é o maior tesouro que o homem dispõe. Embora inconsumível, o tempo é o nosso melhor alimento.
Sem medida que o conheça, o tempo é, contudo, nosso bem de maior grandeza. Não tem começo, não tem fim. Rico não é o homem que coleciona e se pesa num amontoado de moedas, nem aquele devasso que estende mãos e braços em terras largas. Rico só é o homem que aprendeu, piedoso e humilde, a conviver com o tempo, aproximando-se dele com ternura, não se rebelando contra seu curso, brindando-o antes, com sabedoria, para receber dele os favores e não a sua ira.O equilíbrio da vida está essencialmente nesse bem supremo, e quem souber com acerto a quantidade de vagar ou de espera que se deve pôr nas coisas, não corre nunca o risco, ao buscar por elas a defrontar-se com o que não é. Pois só a justa medida do tempo dá a justa natureza das coisas".

Trecho extraído do filme baseado no livro de Raduan Nassar "Lavoura Arcaica".

Caros,

Que as comemorações de natal possam acrescentar bons momentos ao indeterminado, porém finito, fluxo que é a nossa existência. Que esse tempo possa ser bem utilizado e aproveitado. Que seja vivido plena e intensamente. E que no seu decurso, desfrutemos toda a liberdade possível, com consciência e reflexão, colhendo o presente como uma dádiva e relembrando, sem arrependimentos, o tempo que ficou para trás.

Feliz Natal!


sexta-feira, dezembro 16

Quem não tem teto de vidro...

Antes de condenar, julguem-se!
Abraços e um ótimo fim de semana!


"Não existe talvez uma só pessoa, por maior que seja sua virtude, que a complexidade das circunstâncias não possa levar a viver um dia na intimidade do vício que condena de maneira mais formal"

Marcel Proust, O Caminho de Swann


" Uma vez que somos todos juízes, somos todos culpados uns perante os outros,

 todos Cristos à nossa maneira vil, crucificados um por um, e sempre sem saber. "

(...)

"Afinal, é isso mesmo que eu sou, refugiado num deserto de pedras, de brumas e de águas pútridas, profeta vazio para tempos medíocres; Elias sem Messias, cheio de febre e de álcool, encostado nesta porta bolorenta, de dedo erguido para um céu baixo, cobrindo de imprecações homens sem lei, que não conseguem suportar nenhum julgamento. Pois eles não conseguem suportar nenhum julgamento, meu caro, e esse é o problema. (...) o mais alto dos tormentos  humanos é ser julgado sem lei. "


Albert Camus, A Queda


sexta-feira, dezembro 9

Sobre o verbo sonhar

A sorte favorece aos que ousam...sonhar.
Bom fim de semana!



"Se alguém sonha, nunca fica parado no mesmo lugar.

Move-se, quase que ao seu bel-prazer, do lugar ou condição

em que se encontra naquele justo momento."

Ernst Bloch, Princípio Esperança





"Quando a criação do novo está em jogo, resignar-se ao provável e ao exeqüível é condenar-se ao passado e à repetição. No universo das relações humanas, o futuro responde à força e à ousadia do nosso querer. A capacidade de sonho fecunda o real, reembaralha as cartas do provável e subverte as fronteiras do possível. Os sonhos secretam o futuro. "

Eduardo Giannetti, O valor do amanhã



"Se o ser humano fosse completamente desprovido da faculdade de sonhar, se não pudesse, de vez em quando, adiantar o presente e contemplar em imaginação o quadro lógico e inteiramente acabado da obra que apenas se esboça em suas mãos, eu decididamente não poderia compreender  o que leva o ser humano a empreender e realizar vastos e fatigantes trabalhos na arte, na ciência e na vida prática. (...) O desacordo entre o sonho e a realidade nada tem de nocivo se, cada vez que sonha, o ser humano acredita seriamente em seu sonho, se  observa atentamente a vida, compara suas observações com seus castelos no ar e, de uma forma geral, trabalha conscientemente para a realização do seu sonho. Quando existe contato entre o sonho e a vida, então tudo vai bem."

Vladmir Lenin, O que fazer?



sexta-feira, dezembro 2

O defeito da vida

 
Abraço grande.


"Nem o sol nem a morte podem ser olhados fixamente"

La Rouchefoucauld


Iniciação

Fernando Pessoa

Não dormes sob os ciprestes,

Pois não há sono no mundo.

O corpo é a sombra das vestes

Que encobrem teu ser profundo.

Vem a noite, que é a morte,

E a sombra acabou sem ser.

Vais na noite só recorte,

Igual a ti sem querer.

Mas na Estalagem do Assombro

Tiram-te os Anjos a capa :

Segues sem capa no ombro,

Com o pouco que te tapa.

Então Arcanjos da Estrada

Despem-te e deixam-te nu.

Não tens vestes, não tens nada :

Tens só teu corpo, que és tu.

Por fim, na funda caverna,

Os Deuses despem-te mais.

Teu corpo cessa, alma externa,

Mas vês que são teus iguais.

A sombra das tuas vestes

Ficou entre nós na Sorte.

Não estás morto, entre ciprestes.

Neófito, não há morte.



" O fato espantoso é que, apesar de toda pretensa valorização da razão fria e de uma postura de completa objetividade diante das coisas, o ideal moderno é viver sob o mais metódico e fantasioso escapismo. É viver como se a morte não nos dissesse respeito. No ambiente moderno, secularizado e tecnicamente aparelhado, a experiência do "morrer antes do morrer", elaboração subjetiva e madura da inevitabilidade de própria morte, foi estigmatizada como uma espécie de anomalia ou morbidez a ser banida do campo de atenção consciente. Na caverna high-tech do alheamento, sob bombardeio de estímulos da grande metrópole, a sombra do efêmero ofusca a luz do mistério. A lâmpada elétrica apaga o céu noturno e o entretenimento eletrônico embala a morte-em-vida em que a consciência da morte adormece. O homem moderno cruza velozmente os ares, mas não mira o cosmos. Ele acumula anos adicionais de vida, mas evita pensar na eternidade (terror soberano) que o apavora. Sendo a morte e sua sombra os principais "defeitos da vida" (todo resto, supostamente, a técnica e a razão remedeiam), tudo se passa como se bastasse ignorá-las para que elas também nos ignore. "

 Eduardo Giannetti, O Valor do Amanhã


sexta-feira, novembro 25

Um de nós ?

Um ótimo fim de semana!
Abraços,

“Não tenho medo das perguntas difíceis: tenho pavor das respostas fáceis.”

 A. Malcot

" If God had a name what would it be?
And would you call it to his face?
If you were faced with him In all his glory
What would you ask if you had just one question?

(...)

What if God was one of us?
Just a slob like one of us
Just a stranger on the bus
Trying to make his way home "

  One Of Us, Joan Osborne


" Se os bois, os cavalos e os leões tivessem mãos e pudessem desenhar e esculpir como os homens, os cavalos fariam seus deuses como cavalos e os bois como um boi: cada um deles daria forma ao corpo de suas divindades conforme a imagem da sua própria espécie"

Xenófanes, poeta e filósofo





sexta-feira, novembro 18

Homo Consumens ?

Aos homo "sapiens" (*) ainda de plantão,
bom fim de semana!
Abraços à todos


" Existem poucas coisas que nós desejaríamos de forma intensa

se nós soubéssemos realmente o que queremos."

La Rochefoucauld, Máximas



" (..) se a mudança de valores não vier por bem, ela virá por mal. Se os bilhões de "excluídos" do planeta insistirem em conceber a busca da felicidade como a "interminável acumulação de bens de consumo", então o meio ambiente e a biosfera não suportarão o desaforo. O limite irá se impor de for a para dentro"

Eduardo Giannetti, Felicidade


"A vida consumista favorece a leveza e a velocidade; e também a novidade e a variedade que elas promovem e facilitam. É a rotatividade, não o volume das compras, que mede o sucesso na vida do homo consumens. Mas, usada repetidamente, a mercadoria adquirida impede a busca por variedade, e a cada uso a aparência da novidade vai se desvanecendo e se apagando. Pobres daqueles que, em razão da escassez de recursos, são condenados a continuar usando bens que não mais contêm a promessa de sensações novas e inéditas. Pobres daqueles que, pela mesma razão, permanecem presos a um único bem em vez de flanar entre um sortimento amplo e aparentemente inesgotável. Tais pessoas são excluídos na sociedade de consumo, os consumidores falhos, inadequados,  os incompetentes, os fracassados - famintos definhando em meio a opulência do banquete consumista. "

(...)

" Afinal, automóveis, computadores ou telefones celulares perfeitamente usáveis, em bom estado e em condições de funcionamento satisfatório são considerados, sem remorso, como um monte de lixo no instante em que novas e aperfeiçoadas versões  aparecem nas lojas e se tornam o assunto do momento. Alguma razão para que as relações sejam consideradas uma exceção à regra?"


Zgmunt Bauman,  Amor Líquido (Sobre a fragilidade dos laços humanos)


(*)Homo sapiens; ("homem sábio", nome científico dos seres humanos)

sexta-feira, novembro 11

Acredite !

"É difícil evitar que nossas visões mais elevadas pareçam loucuras e por vezes até crimes, quando chegam a ouvidos que não são capazes de compreendê-las."

Nietzsche, Alem do Bem e do Mal



Acredite

Eu vejo um mundo diferente do que me descrevem jornais e pessoas.

Eu enxergo matizes distintas do que pintam.

Eu creio em valores destituídos de medos ou pecados. Não creio em ameaças opressoras.

Eu acredito em liberdade conquistada, em pilares resistentes de caráter e ética próprios, versões personalizadas dos padrões vigentes, mas que jamais invadam espaços diferentes do meu.

Abomino preconceitos, pré-conceitos e formatações definitivas.

Definitiva só a nossa capacidade de vencer intempéries,ultrapassar obstáculos e lutar por nossos ideais.

Eu acredito em dinheiro como um meio, jamais como um fim. E os fins nem sempre justificam os meios, especificamente nesse caso, jamais.

Eu acredito em evolução, em consciência e em iluminação.

Não valorizo o sentimento de culpa, aplaudo quem tenta novamente, quantas vezes forem precisas até acertar.

Erros são necessários e correções sábias.

Eu amo o novo, mas respeito o antigo e suas lições.

Não creio em fatos iguais e procuro viver cada dia com a energia do ineditismo apoiada numa base indelével de conhecimento prévio.

Eu viajo no vento das mudanças, mas me direciono com a bússola da história.

O meu norte é a felicidade e trilharei quantos caminhos forem necessários para alcançá-la.

Meu coração é meu templo e o amor minha lei.

Eu acredito em mim.

Eu acredito em você.

Acredite !!!

Leonardo Andrade (poeta e amigo).

sexta-feira, novembro 4

Em busca do Tempo Perdido

Lembre-se agora de um momento especial de sua vida…
Abraços e um ótimo fim de semana,


" Mas, quando nada subsiste de um passado antigo, depois da morte dos seres, depois da destruição das coisas, sozinhos, mais frágeis porém mais vivazes, mais imateriais, mais persistentes, mais fiéis, o aroma e o sabor permanecem ainda por muito tempo, como almas, chamando-se, ouvindo, esperando, sobre ruínas de tudo o mais, levando sem se submeterem, sobre suas gotículas quase impalpáveis, o imenso edifício das recordações "

Marcel Proust, Em busca do Tempo Perdido



 

" You are much too exacting and hungry for this simple, easygoing, and easily contented world of today. You have a dimension too many. Whoever wants to live and enjoy his life today must not be like you and me. Whoever wants music instead of noise, joy instead of pleasure, soul instead of gold, creative work instead of business, passion instead of foolery, finds no home in this trivial world of ours..."

hermann Hesse


sexta-feira, outubro 28

Apologia a Reymond Sebond

Precisar é um verbo relativo…
Bom fim de semana
Abraços !


" É prova irrefutável de fraqueza de nosso julgamento
apaixonarmo-nos pelas coisas só porque são raras e
inéditas, ou ainda porque apresentam alguma dificuldade,
muito embora não sejam boas nem úteis."

Montaigne, Ensaios, Das vãs sutilezas



" Esses desejos supérfluos, introduzidos em nós pela ignorância do bem e a predominância de idéias falsas, são tão numerosos que rechaçam quase todos os apetites naturais "

Montaigne, Ensaios, Apologia a Reymond Sebond



"Se o homem fosse sensato, a cada coisa daria um valor, segundo sua utilidade e adequação a vida"

Montaigne, Ensaios, Apologia a Reymond Sebond

sexta-feira, outubro 21

O Amor

 
O que é o amor?
Abraços e um ótimo fim de semana,





" O amor nunca repousa.

 A incompletude é seu destino, pois a falta é sua definição.

 Dorme ao ar livre, perto das portas e caminhos e a indigência é sua eterna companheira;

Ora florescente e cheio de vida, ora morre, depois renasce.

Rico, no entanto, de tudo o que lhe falta e pobre para sempre, de tudo que o persegue

Sempre entre a fortuna e miséria, entre o saber e a ignorância, entre a felicidade e a infelicidade.

Filho da Boêmia, sempre na estrada, sempre em caminho, sempre em falta

Nunca saciado, nunca farto, nunca satisfeito "

Andre Comte Sponville,

Pequeno Tratado das Grandes Virtudes,

O Amor







"O que é amar? É carecer do que se ama e querer possuí-lo sempre"

Plotino



sexta-feira, outubro 14

Exortação à filosofia


Um ótimo fim de semana filosófico.
Abraço,



 "Nunca se protele o filosofar quando se é jovem, nem canse o fazê-lo quando se é velho, pois que ninguém é jamais pouco maduro nem demasiado maduro para conquistar a saúde da alma. E quem diz que a hora de filosofar ainda não chegou ou já passou assemelha-se ao que diz que ainda não chegou ou já passou a hora de ser feliz".

Epicuro




O valor da filosofia

" ( ...) O valor da filosofia, na realidade, deve ser buscado, em grande medida, na sua própria incerteza. O homem que não tem algumas noções de filosofia caminha pela vida afora preso a preconceitos derivados do senso comum, das crenças habituais de sua época e do seu país, e das convicções que cresceram no seu espírito sem a cooperação ou o consentimento de uma razão deliberada. Para tal homem o mundo tende a tornar-se finito, definido, óbvio; para ele os objetos habituais não levantam problemas e as possibilidades infamiliares são desdenhosamente rejeitadas. Quando começamos a filosofar, pelo contrário, imediatamente nos damos conta (como vimos nos primeiros capítulos deste livro) de que até as coisas mais ordinárias conduzem a problemas para os quais somente respostas muito incompletas podem ser dadas. A filosofia, apesar de incapaz de nos dizer com certeza qual é a verdadeira resposta para as dúvidas que ela própria levanta, é capaz de sugerir numerosas possibilidades que ampliam nossos pensamentos, livrando-os da tirania do hábito. Desta maneira, embora diminua nosso sentimento de certeza com relação ao que as coisas são, aumenta em muito nosso conhecimento a respeito do que as coisas podem ser; ela remove o dogmatismo um tanto arrogante daqueles que nunca chegaram a empreender viagens nas regiões da dúvida libertadora; e vivifica nosso sentimento de admiração, ao mostrar as coisas familiares num determinado aspecto não familiar."

Bertrand Russell

sexta-feira, outubro 7

A Sociedade do Espetáculo

Pois é…
Bom fim de semana,
Abraço,


" Wotcha man as the bills around you grow
Providing you take a loan to pay for them all
Help a hand when the one close by you falls
Depending if the fool keeps spending it all

You can have it all but you’ve got to pay
(You can have it!) Credit cards, mortgage, 

Home loans for your holiday "

Simply Red, Home Loan Blues


      "O espetáculo consiste na multiplicação de ícones e imagens, principalmente através dos meios de comunicação de massa, mas também dos rituais políticos, religiosos e hábitos de consumo, de tudo aquilo que falta à vida real do homem comum: celebridades, atores, políticos, personalidades, gurus, mensagens publicitárias tudo transmite uma sensação de permanente aventura, felicidade, grandiosidade e ousadia. O espetáculo é a aparência que confere integridade e sentido a uma sociedade esfacelada e dividida. É a forma mais elaborada de uma sociedade que desenvolveu ao extremo o ‘fetichismo da mercadoria’ (felicidade identifica-se a consumo). Os meios de comunicação de massa são apenas ‘a manifestação superficial mais esmagadora da sociedade do espetáculo, que faz do indivíduo um ser infeliz, anônimo e solitário em meio à massa de consumidores’".

      Guy Debord, A Sociedade do Espetáculo



sexta-feira, setembro 30

Nada contra a correnteza

Abraços e bom fim de semana!

 " Tudo o que diz respeito ao próximo me diz respeito igualmente;

qualquer acidente que lhe ocorra é uma advertência para qual atento.

Todos os dias e todas as horas dizemos de outrem o que mais justamente

poderíamos dizer de nós, se nos soubéssemos observar tão bem quanto aos outros"

Montaigne,

Ensaios, Da Afeição dos pais pelos filhos


Piracema

(Fabricio Carrijo)

Incessantemente move seu corpo

Nada contra a correnteza

Que se esforça para levá-lo rio abaixo.

Nada... mas tão forte é a corrente

Avança alguns metros

Logo é conduzido para traz

Torna-se estático... nada...

Olha ao redor

Muitos companheiros não estão mais lá

Uns não tiveram força para subir

Outros escolheram a inércia à luta

Nada... o peixe... nada...

Seu corpo está dolorido

Mas sua vontade parece indelével

Quanto mais avança

A solidão torna-se mais próxima.

Quão cômodo seria submeter-se

À força contra a qual nada.

Não há como lutar contra

O determinado pela natureza!

Quanto esforço poderia ser poupado

Ao deixar-se levar pela correnteza

A dor não haveria de existir

E a fadiga cederia ao descanso

Nada...o peixe... nada....

Todavia, e depois?

Passar sua existência conduzido.

Sem esforço, porém cativo

Pelo cárcere incolor

Das águas condutoras ao

Nada... o peixe... nada…



quinta-feira, setembro 22

Terra dos Homens

Como não vou poder comparecer ao trabalho esta sexta, resolvi antecipar…
Tudo de melhor para vocês,
Ótimo fim de semana!
Abraços,






" O grande homem é, pois, aquele que reconhece quando e em que é pequeno.
O homem pequeno é aquele que não reconhece a sua pequenez e teme reconhecê-la"

Wilhelm Reich

Livro: Escuta, Zé Ninguém!



“Construíste tua paz tapando com cimento, como fazem as térmitas,todas as saídas para a luz. Ficaste enroscado em tua segurança burguesa,em tuas rotinas, nos ritos sufocantes de tua vida provinciana; ergueste essa humilde proteção contra os ventos, e as marés, e as estrelas. Não queres te inquietar com os grandes problemas e fizeste um grande esforço para esquecer a tua condição de homem. "

(...) Ninguém te sacudiu pelos ombros quando ainda era tempo.”

Antoine De Saint-Exupery

Livro: Terra dos Homens

sexta-feira, setembro 16

DEVAGAR !


 
Um ótimo fim de semana,

" And you run and you run to catch up with the sun, but it’s sinking
And racing around to come up behind you again
The sun is the same in the relative way, but you’re older
Shorter of breath and one day closer to death "

Time, Pink Floyd


 

" Chegou o momento de questionar nossa obsessão de fazer tudo mais depressa. A velocidade nem sempre é a melhor política.(...) O problema é que o nosso amor à velocidade, nossa obsessão em estar fazendo cada vez mais em tempo cada vez menor, foi longe demais; transformou-se num vício, numa espécie de idolatria. Até mesmo quando a velocidade começa a dar para trás, invocamos o evangelho do mais depressa. Está ficando para trás no trabalho? Encontre um link mais rápido na Internet. Está sem tempo para ler um romance que ganhou no natal? Aprenda leitura dinâmica. A dieta não funciona? Vá para a lipoaspiração. Sem tempo para cozinhar? Compre um microondas. Mas acontece que certas coisas não podem e não devem ser aceleradas, quando esquecemos como é possível modelar o ritmo, sempre pagamos um preço."

Carl Honoré

Da obra: DEVAGAR

 Como um Movimento Mundial está Desafiando o Culto à Velocidade




" Nosso século, que começou e se desenvolveu sob o signo da revolução industrial,

 inventou a máquina e em seguida tomou-a como modelo de vida. Estamos

escravizados pela velocidade e sucumbimos ao mesmo vírus insidioso:

a vida rápida, que perturba nossos hábitos, permeia a privacidade

de nossas casas e nos obriga a comer Fast Food "

Manifesto do Movimento Slow Food




sexta-feira, setembro 9

Nossos desejos carecem de resolução e convicção

Bom fim de semana !



" O bem que não temos parece preferível ao resto;
quando obtemos a coisa desejada logo queremos outra, e a nossa sede é inestancável"

Lucano




" Quando viu que os mortais já dispõe de quase tudo o que lhes é necessário; que apesar das riquezas, das honrarias, da glória, dos filhos bem formados, não escapam … angústia nem aos dolorosos conflitos interiores, Epicuro compreendeu que o mal vem do próprio continente, o qual, por se haver corrompido, estraga o bem que se derrame dentro dele"

Lucrécio


" Nossos desejos carecem de resolução e convicção. Não sabemos conservar nem desfrutar convenientemente. Obcecado pela idéia de que o que possui é imperfeito, o homem entrega-se por inteiro e pela imaginação às coisas que não tem e que não conhece, nelas concentra seu desejo a sua esperança e as encara com respeito e amor"

Michel Montaigne

sexta-feira, setembro 2

Uma ilusão perpétua

Um ótimo fim de semana!
Abraços,



" Dizer a verdade é útil àquele a quem dizem, mas desvantajoso aos que a dizem, porque eles se fazem odiar. (...) Assim, a vida humana não é senão uma ilusão perpétua; não se faz outra coisa senão enganar-se e adular-se mutuamente. Ninguém fala de nós em nossa presença como fala em nossa ausência. O homem não é, pois, senão disfarce, mentira e hipocrisia, quer em si mesmo, quer em relação aos outros. Não quer que lhe digam a verdade, evita dizê-la aos outros; e todas essas disposições, tão afastadas da justiça e da razão, têm uma raiz natural em seu coração."

" É sem dúvida um mal ser cheio de defeitos; mas, é ainda mal maior ser cheio deles e não querer reconhecê-los, de vez que isso é ajuntar-lhe ainda de uma visão ilusória voluntária. Não queremos que os outros nos enganem; não achamos justo que queiram ser estimados por nós mais do que merecem: não é, pois, justo também que os enganemos e queiramos que nos estimem mais do que merecemos."

Blaise Pascal, da obra: Pensamentos

sexta-feira, agosto 26

Da Relação dos Homens com os Animais


Interessante ...
Abraços e um ótimo fim de semana,


Da Relação dos Homens com os Animais
Por La Rochefoucauld


Há tantas espécies de homens quantas de animais, e são os homens para os outros homens o que as diferentes espécies de animais são entre si, e uma para as outras:

Quantos homens não vivem do sangue e da vida dos inocentes!
Uns, como tigres, são sempre bravios e cruéis;
Outros como leões, guardam certa aparência de generosidade;
Outros, como ursos, são ávidos e grosseiros;
Outros como lobos, são raptores impiedosos;
Outros como raposas, vivem de sua indústria, têm por ofício lograr.
Quantos homens não têm parte com os cães! Destroem sua própria espécie, caçam para o prazer de quem lhes dá de comer, às vezes, seguem os donos, outras lhe guardam a casa.

Há lebréus de guerra que devem a vida ao próprio valor, que têm nobreza na coragem;
Há dogues encarniçados que só o furor têm por qualidade;
Há cães menos ou mais inúteis que ladram sempre e só às vezes mordem.
Há mesmo os cães de guarda que nem comem o que é do dono nem deixam os outros comerem.
Há símios e macacas que agradam pelas maneiras, que têm o espírito e fazem o mal;
Há pavões que só beleza têm, cujo canto desagrada e que destroem o lugar onde habitam.
Há pássaros que só se recomendam pela plumagem e pelas cores.
Quantos papagaios não falam sem cessar e nunca ouvem o que dizem;
Quantas pegas e gralhas não se deixam amansar para melhor furtar;
Quantas aves de rapina não vivem só da rapina;
Quantas espécies de animais pacíficos e tranquilos não servem só de comida aos outros animais!
Há gatos, sempre a espreita, maliciosos e infiéis, que têm pata de veludo;
Há víboras de língua venenosa cujo o restante tem emprego, há aranhas, moscas, pulgas e percevejos sempre incômodos e insuportáveis;

Há sapos que só dão pavor e veneno;
Há corujas que temem a luz.
Quantos animais não vivem debaixo da terra somente para se preservar!
Quantos cavalos não empregamos em tantas coisas e não abandonamos quando já não servem;
Quantos bois não trabalham a vida toda para enriquecer aquele que lhe impõe o julgo;
Quantas cigarras que passam a vida a cantar;
Lebres que de tudo têm medo;
Coelhos que se assustam e sossegam no prisco;
Porcos que vivem na devassidão e no lixo;
Canários domesticados que logram seus semelhantes e os atraem para rede;
Corvos e abutres que só vivem da podridão e corpos mortos!
Quantas aves de arribação vão de um mundo para outro e se expõem a perigos em busca da vida!
Quantas andorinhas sempre à procura de um bom tempo;
Besouros irrefletidos e sem rumo...
Borboletas que anseiam pelo fogo que as queima;
Abelhas que respeitam a rainha e com a regra se mantêm!
Quantos zangões errantes e preguiçosos que procuram se estabelecer as expensas das abelhas!
Quantas formigas cuja a previdência e economia lhes alivia as necessidades!
Quantos crocodilos que fingem derramar lágrimas para devorar quem com elas se comove!
E quantos animais subjugados porque ignoram sua força!




Da obra: Máximas e Reflexões, La Rochefoucauld, Editora Imago

quarta-feira, agosto 24

Da Conversação


O que faz que tão poucos sejam agradáveis na conversação é que cada qual pensa mais no que quer dizer do que no que dizem os outros. É preciso que escutemos os que falam, se quisermos ser escutados, é preciso dar-lhes a liberdade de se fazerem ouvir, e mesmo de dizerem coisas inúteis. Em lugar de os contradizer ou interromper, como sempre fazemos, devemos, ao contrário, mostrar que ouvimos, falar-lhes do que lhes interessa, louvar o que dizem, se merecer ser louvado, dar mostras de que é antes por escolha do que por complacência que louvamos. É preciso evitar contestar coisas indiferentes, raramente fazer perguntas, que são quase sempre inúteis, nunca deixar supor que pretendemos ter mais razão do que os outros e ceder com desenvoltura a vantagem da decisão.

Devemos dizer coisas naturais, fáceis e menos ou mais sérias segundo o humor e inclinação das pessoas com quem nos entretemos, não apressá-las a aprovar o que dizemos e nem mesmo a nos responder. Quando assim tivermos satisfeito os deveres da polidez, podemos falar de sentimentos, sem prevenção nem teimosia, deixando transparecer que buscamos apoiados na opinião de quem ouve.

É preciso evitar falar longamente de si mesmo e tomar-se como exemplo com freqüência. Não é de somenos o cuidado de conhecer a inclinação e o alcance daqueles com quem falamos, para fazer coro com o espírito de quem o tem mais que nós e para somar suas opiniões às nossas, deixando-os pensar, o mais possível, que é deles que as emprestamos. É hábito não esgotar os assuntos de que se trata e deixar que os outros tenham sempre algo a pensar e a dizer.

Nunca devemos falar com ares de autoridade, nem nos servirmos de palavras e termos maiores do que as coisas. Podemos manter nossas opiniões, se forem razoáveis, mas nunca, ao mantê-las, ferir os sentimentos dos outros, nem parecer chocados com o que dizem. É perigoso querer dominar a conversação e falar demasiadamente da mesma coisa; devemos entrar indiferentemente em todos os assuntos agradáveis que se apresentem, sem mostrar nunca que desejamos levar a conversa para o que temos vontade de dizer.


É  necessário observar que toda espécie de conversação, por honesta e espiritual que seja, não é igualmente própria para toda espécie de pessoas honestas: é preciso escolher o que convém a cada uma e escolher mesmo o momento de dizê-lo; se há arte em saber falar com propósito, não há menos arte em saber calar. Há um silêncio que é eloqüente: ele serve às vezes para aprovar e para condenar; há um silêncio que é mofa; há um silêncio respeitoso. Há, enfim, ares, tons e maneiras que fazem amiúde o agradável e o desagradável, o delicado e o chocante na conversação; o segredo para bem empregá-los é de poucos conhecido e enganam-se por vezes mesmo os que ditam as regras, as mais certa das quais, parece-me, é não ter nenhuma que não possa ser modificada,  é antes aparentar negligência que afetação no que se diz, é escutar, não falar e nunca forçar-se a falar.


Da obra: Máximas e Reflexões, La Rochefoucauld, Editora Imago


sexta-feira, agosto 19

Contemplando as ruínas


Agradecendo por mais um dia...
Um ótimo fim de semana!
Abraço,

"Memento mori"
" As ruínas falam da tolice que é abrir mão de nossa paz de espírito em nome das recompensas instáveis do poder terreno.
As ruínas nos convidam a "renunciar" a nossas lutas e a nossas imagens de perfeição e satisfação. Elas nos lembram de que não podemos desafiar o tempo e que somos joguete de forças de destruição que na melhor das hipóteses podem ser mantidas ao largo, mas jamais derrotadas. Podemos desfrutar de vitórias locais, alguns anos em que somos capazes de impor alguma ordem ao caos, mas tudo está destinado a ser derramado de volta à sopa primordial. Se essa perspectiva tem o poder de consolar, é talvez porque a maior parte de nossas angústias provém de um senso EXAGERADO da importância dos nossos projetos e preocupações. Somos torturados por nossos ideais e por um senso punitivamente arrogante da gravidade do que estamos fazendo.
Do ponto de vista da eternidade, muito pouco do que nos perturba tem importância. "

Alain de Botton
Da obra: Desejo de Status

quinta-feira, agosto 18

A Queda

Todos somos como pequenas estrelas…


"Uma estrela se autoconsome para existir"
Marcelo Gleiser

A Dança do Universo



" O primeiro trem faz tinir a sua campainha no ar úmido e toca a alvorada da vida na extremidade desta Europa, onde, no mesmo momento, centenas de milhões de homens, arrancam-se penosamente da cama, com a boca amarga, a fim de irem para o trabalho sem alegria. Então, planando em pensamento por cima de todo este continente que me é subordinado sem saber; bebendo a luz de absinto que se eleva, ébrio, enfim de palavras más, sou feliz, sou feliz, estou lhe dizendo, proíbo-o de não acreditar que sou feliz, que morro de felicidade!
Ah, sol, praias, e as ilhas sob os alísios, juventude cuja a lembrança desespera!"

Albert Camus

Da obra: A Queda

sexta-feira, agosto 12

Há quem viveu muito e não viveu

"Aproveitem" a vida !
Abraços,


" Qualquer que seja a duração da vossa vida, ela é completa. Sua utilidade não reside na duração e sim no emprego que lhe dais. Há quem viveu muito e não viveu. Meditai sobre isso enquanto o podeis fazer, pois depende de vós, e não do número de anos, terdes vivido bastante"

Montaigne

Ensaios

"Pensas que cada dia é teu último, e aceitarás com gratidão aquele que não mais esperava"

Horácio, Poeta Romano 65-8 aC


Personalidade em Mosaico ou Fragmentos de Personas

Numa cidade qualquer, num dia qualquer de um tempo medido apenas cronologicamente, ele se levanta.
Acorda para mais um dia e olha para seu cabide imaginário de personas pensando qual fantasia vestirá hoje.

Nesse mundo globalizado e sem fronteiras, ele acha melhor assim.

Se "veste" conforme a ocasião, age como crê que gostariam que agisse e sobrevive sendo apenas mais um na multidão, não sendo notado, só mais um rosto indiscernível no meio de tantos iguais.

Ele já foi diferente, já sonhou e viu seus castelos de areia desaparecerem em marés cíclicas e incontroláveis, já lutou Quixotescamente com moinhos de vento e viu suas quimeras desaparecerem em Brumas.

Ele precisa sobreviver. Para isso abre mão de vivenciar suas idéias, seus pensamentos, suas convicções. O preço de ser diferente é muito alto e seu cacife se esgotou, ele agora é apenas um jogador passivo que não aposta mais nada e sequer blefa ...

Sonhos não alimentam o corpo e a alma ele já perdeu leiloada por migalhas há tempos.
Que bom que existem suas personas !

Ele finge ser quem quiser e os outros acreditam (ou fingem que) num simbiótico e prático acordo.


Para que arriscar ser real se tudo é de mentira ?


Assim ele finge que é feliz e pode ser tudo que quiser, pode até querer ser feliz mesmo, num mosaico de fantasias e realidade entrelaçadas e confundidas. Nada é exatamente o que parece ser, mas também para que "ser" se o "estar", transitório e impermanente pode oscilar ao sabor da maré e trazer resultados mais práticos e bem menos dolorosos.

Hoje, ele definitivamente deixa de sonhar com um mundo diferente e seu último fragmento de alma, um literal fio de esperança, se solta desaparecendo para sempre.

Agora ele é irreversivelmente mais um da tribo dos sem-alma, vivendo em festas à fantasia com trajes previamente escolhidos pelos anfitriões de sua subsistência.

Hoje mais uma estrela se apagou e o mundo tornou-se ainda mais escuro

Leornado Andrade, poeta e amigo

sexta-feira, agosto 5

O grande propósito da vida humana

 
Bom fim de semana !!!
Abraços a todos


"Beatus ergo est iudicii rectus, beatus est praesentibus qualiacumque sunt contentus amicusque rebus suis; beatus est is cui omnem habitum rerum suarum ratio commendat"

...

" É feliz, portanto, quem tem um juízo reto; é feliz quem está contente com sua sorte atual, seja ela qual for e ama o que tem; é feliz aquele para quem a razão é que faz valer todas as coisas de sua vida "

Sêneca

Sobre a Vida Feliz



"Que propósito tem toda a labuta e a afobação deste mundo? Qual a finalidade da avareza e da ambição, da busca de poder e preeminência? Será suprir as necessidades da natureza? O salário do trabalhador mais medíocre pode supri-las. Quais são, então, as vantagens desse grande propósito da vida humana que chamamos de melhorar nossas condições?"

Adam Smith
Teoria dos Sentimentos Morais

quarta-feira, agosto 3

Da incoerência de nossas ações

Just think it over ….

Abração


"Porquê sou do tamanho do que vejo e não do tamanho de minha altura"
Fernando Pessoa
Da Obra: O Livro do Desassossego


(...) Nossa maneira habitual de fazer está em seguir os nossos impulsos instintivos para a direita ou para a esquerda, para cima ou para baixo, segundo as circunstâncias. Só pensamos no que queremos no próprio instante em que o queremos, e mudamos de vontade como muda de cor o camaleão. O que nos propomos em dado momento, mudamos em seguida e voltamos atrás, e tudo não passa de oscilação e inconstância:

“Somos conduzidos como títeres que o fio manobra” (Horácio).

Não vamos, somos levados como objetos que flutuam, ora devagar, ora com violência, segundo o vento:

Acaso não vemos todo mundo indeciso; uns procurando sem descontinuar, outros mudando de lugar, como para largar uma carga pesada demais?”(Lucrécio).

Cada dia nova fantasia, e movem-se as nossas paixões de acordo com o tempo:

“o pensamento dos homens assemelha-se na terra aos cambiantes raios de luz com que Júpiter a fecunda”(Cícero).


Hesitamos em tomar partido; nada decidimos livremente, de maneira absoluta, coerente.

Michel Montaigne (1533-1592)
Da Obra: Ensaios

segunda-feira, agosto 1

Silêncio


Bem aventurados os que tem a coragem de enfrentar a si mesmos...e aos seus fantasmas... Um abraço para um grande amigo e poeta.



Silêncio

O silêncio incomoda.
Porta voz não-nomeado dos meus pensamentos, sussurra-os, como se tentasse materializa-los e realizar o que minha covardia impediu.
Engasgado , grita aos quatro ventos todas as palavras não ditas por mim, por medo ou omissão.
Maldosamente gentil, convida meus fantasmas para uma reunião íntima no escuro e incita-os a me assombrar.
Senhor das entrelinhas e dos espaços vazios, explora-os ao máximo, preenchendo-os com dúvidas e incertezas.
Companheiro de nostalgia da solidão, ensina-nos verdades que só podem ser ditas fazendo trio com a escuridão.
O silêncio fere.
Açoita.
Tortura.
Dilacera.
Liberta a imaginação em um vale sem fim, dando-lhe asas coladas com cera e não prepara para a inevitável queda.
O silêncio é tudo que não preciso.
Quebre-o , afaste-o, vença-o e fale comigo.
Fale sobre as noites de solidão, sobre os castelos nos ar que nunca tiveram alicerces.
Fale sobre as quimeras, os planos vãos que jamais tiveram a pretensão de se realizar, os desvãos, Fale sobre as estrelas que ainda brilham mesmo já estando mortas.
Fale sobre nossos antigos e êfemeros sonhos febris, sobre nosso desejos que se evaporavam ao amanhecer e sobre a magia noturna que não resistia a realidade dos primeiros raios de sol.
Fale sobre o inexorável e infinito rio das mágoas, sobre a lenta e constante dor que insiste e persiste em habitar nossas almas.
Fale do ódio, tão oposto e tão próximo quanto possívl do amor, do outro lado da moeda, da porta que se deve manter fechada, dos cadáveres putrefados no armário.
Fale do filho que jamais irá nascer, da casa que nunca irá habitar, do lar que não terá.
Fale dos orgasmos vazios e solitários, do lado inabitado da cama de casal.
Fale das pragas e maldições que conjurar, do seu lado sado-masoquista de insistir em saber de vidas que não mais se entrelaçam com a sua e provavelmente sequer lembram de sua existência.
Fale qualquer coisa, mas fale, pois as palavras, quaisquer que sejam ferem muito menos que o silêncio ....

Leonardo Andrade

sexta-feira, julho 29

Quimeras

Um ótimo fim de semana!
Abraços,



" Seu passo precisa vencer esse aclive; se manterá firme, suportará todos os acontecimentos, não só pacientemente, mas com prazer; saberá que toda a dificuldade na vida é o efeito de uma lei da natureza e, como um bravo soldado, suportará seus ferimentos, contará suas cicatrizes e, transpassado pelos dardos, morrerá amando a causa por quem caiu"

Sêneca

De Vita Beata



"Todos viemos ao mundo cheios de pretensões de felicidade e prazer, e as conservamos com insensata esperança de fazê-las valer, até o momento que o destino nos aferra bruscamente e nos mostra que nada é nosso, mas tudo é dele, uma vez que ele detêm o direito incontestável não apenas sobre nossas posses e nossos ganhos, mas também sobre nossos braços e nossas pernas, nossos olhos e nossos ouvidos, e até mesmo sobre nosso nariz no centro do rosto. A experiência vem em seguida e nos ensina que a felicidade e o prazer não passam de uma quimera, mostrada a distância por uma ilusão, enquanto o sofrimento e a dor são reais e manifestam-se diretamente por si sós, sem a necessidade da ilusão e da espera. Se seu ensinamento se mostra frutífero, deixamos de buscar a felicidade e o prazer e passamos a nos preocupar apenas em fugir ao máximo do sofrimento e da dor"

Schopenhauer

Arte de ser feliz

quinta-feira, julho 28

Minhas manhãs de chumbo


Minhas manhãs de chumbo

Nas manhãs de chumbo
O brado dos barcos devoradores de gente
Dão para aqueles que vão, mas não sabem por quê,
O tom  para mais um dia que começa.
Vagam na cadência das marés, sob o chicote da pressa,
Vazios de expressão e cheios de sonhos.
Prisioneiros da rotina, que a exemplo dos seus pais,
Aprenderam a cultivar e agora dependem...
Trazem em suas bolsas e carteiras, além de suas identidades funcionais,
Dinheiro, lembranças dos parvos prazeres gozados no fim de semana,
Planos, ilusões sobre sua importância no mundo,
Remédio para dor de cabeça e uma dose de esperança para usar nos momentos de desespero.
Quem sabe a vida não muda amanhã?
O comandante da nau agradece a preferência.
Como se houvesse escolha para eles...

 

terça-feira, julho 26

Indiferentes



“Se as pessoas são boas só por temerem o castigo e almejarem uma recompensa, então realmente somos um grupo muito desprezível.”

Einstein



Indiferentes

Somos indiferentes
Nem bons nem maus
Apenas indiferentes
Julgamos os outros pelo que possuem
Não pelo que são.
Dentro de nossas roupas
escondemos a alma humana
Indiferentes...
Usando-se mutuamente como meio
Com inúmeros conhecidos e raros amigos
Esbarrando-se nas ruas como formigas operárias
Apontando falhas alheias, procurando culpados,
ressentindo-se de nossas mazelas e
suportando mais um dia com nossos braços cruzados
Somos iguais em nossa indiferença, pois afinal,
tanto faz ...


Abraços,
Carlos Santanna

segunda-feira, julho 25

A realidade das coisas


" Se eu tivesse cem línguas e cem bocas,
E férrea voz, em vão de tantos tolos
As espécies contar eu poderia,
E de tanta tolice os vários nomes"

Virgílio, Eneida




" A ignorância tem, pois, dois grandes privilégios:
um, que consiste em estar em perfeito acordo com
o amor-próprio, e outro, que consiste em trazer em
si a maior parte do gênero humano"


"É uma grande extravagância querer fazer consistir a felicidade
do homem na realidade das coisas, quando essa realidade depende
exclusivamente da opinião que se tem dela"


Erasmo de Rotterdam

Da obra: Elogio da Loucura

quarta-feira, julho 20

A coragem e a vergonha


"Eu tenho a maldição da razão"

Martin Page

Da obra: Como me tornei estúpido



" Sou mesmo de opinião que, em breve, haveria necessidade de uma nova argila e de um novo Prometeu (1). Sou eu quem a providencia, mantendo os homens na ignorância, na irreflexão, no esquecimento dos males passados e na esperança de um futuro melhor. Misturando minhas doçuras com as da volúpia, eu amenizo o
rigor do seu destino."


" Duas coisas, sobretudo, impedem que o homem saiba ao certo o que deve fazer: uma é a vergonha, que cega a inteligência e arrefece a coragem; outra é o medo, que, indicando o perigo, obriga a preferir a inércia à ação. (…) Raros são os que sabem que, para fazer fortuna, é preciso não ter vergonha de nada e arriscar tudo"

Erasmo Rotterdamn
Da obra: Elogio da Loucura



(1) Diz a mitologia que Prometeu fez o corpo humano com argila e o animou com o fogo roubado do céu.

segunda-feira, julho 18

O valor da filosofia


( ...) O valor da filosofia, na realidade, deve ser buscado, em grande medida, na sua própria incerteza. O homem que não tem algumas noções de filosofia caminha pela vida afora preso a preconceitos derivados do senso comum, das crenças habituais de sua época e do seu país, e das convicções que cresceram no seu espírito sem a cooperação ou o consentimento de uma razão deliberada. Para tal homem o mundo tende a tornar-se finito, definido, óbvio; para ele os objetos habituais não levantam problemas e as possibilidades infamiliares são desdenhosamente rejeitadas. Quando começamos a filosofar, pelo contrário, imediatamente nos damos conta (como vimos nos primeiros capítulos deste livro) de que até as coisas mais ordinárias conduzem a problemas para os quais somente respostas muito incompletas podem ser dadas. A filosofia, apesar de incapaz de nos dizer com certeza qual é a verdadeira resposta para as dúvidas que ela própria levanta, é capaz de sugerir numerosas possibilidades que ampliam nossos pensamentos, livrando-os da tirania do hábito. Desta maneira, embora diminua nosso sentimento de certeza com relação ao que as coisas são, aumenta em muito nosso conhecimento a respeito do que as coisas podem ser; ela remove o dogmatismo um tanto arrogante daqueles que nunca chegaram a empreender viagens nas regiões da dúvida libertadora; e vivifica nosso sentimento de admiração, ao mostrar as coisas familiares num determinado aspecto não familiar.

Além de sua utilidade ao mostrar insuspeitas possibilidades, a filosofia tem um valor talvez seu principal valor por causa da grandeza dos objetos que ela contempla, e da liberdade proveniente da visão rigorosa e pessoal resultante de sua contemplação. A vida do homem reduzido ao instinto encerra-se no círculo de seus interesses particulares; a família e os amigos podem ser incluídos, mas o resto do mundo para ele não conta, exceto na medida em que ele pode ajudar ou impedir o que surge dentro do círculo dos desejos instintivos. Em tal vida existe alguma coisa que é febril e limitada, em comparação com a qual a vida filosófica é serena e livre. Situado em meio de um mundo poderoso e vasto que mais cedo ou mais tarde deverá deitar nosso mundo privado em ruínas, o mundo privado dos interesses instintivos é muito pequeno. A não ser que ampliemos nosso interesse de maneira a incluir todo o mundo externo, ficaremos como uma guarnição numa praça sitiada, sabendo que o inimigo não a deixará fugir e que a capitulação final é inevitável. Não há paz em tal vida, mas uma luta contínua entre a insistência do desejo e a impotência da vontade. De uma maneira ou de outra, se pretendemos uma vida grande e livre, devemos escapar desta prisão e desta luta. (...)

 Autor: Bertrand Russell / Tradução: Jaimir Conte


Vivendo na retranca






" O homem é um deus quando sonha,
Um mendigo quando reflete "

Holderlin, poeta



" [...] Ousar o novo, tentar o não tentado, pensar o impensável é a fonte de toda mudança, de todo avanço e da ambição individual de viver melhor. Viver na retranca, sem esperança, sem aventura, não leva ao desastre, é verdade, mas também não leva a nada. Pior: leva ao nada da resignação amarga e acomodada que é a morte em vida: niilismo entediado, Inertee absurdo do cadáver adiado que procria"

Eduardo Giannetti

Da obra: Auto Engano, pág. 153

sexta-feira, julho 15

Você tem certeza?

Só sei que nada sei…

Abraço,



"Os homens simplificam o mundo pela linguagem e pelo pensamento,

e assim eles têm certezas; e ter certeza é a mais poderosa volúpia

neste mundo, muito mais poderosa que o dinheiro, o sexo e o poder reunidos.

A renúncia a uma verdadeira inteligência é o preço a pagar por ter certezas. "

Martin Page

Como me tornei estúpido




" Convicção é a crença de estar, em algum ponto do conhecimento, na posse da verdade incondicionada.(...) Não é o combate das opiniões que tornou a história tão violenta, mas o combate das crenças nas opiniões, isto é, das convicções. Se, entretanto, todos aqueles que faziam uma idéia tão alta de sua convicção lhe ofereciam sacrifícios de toda espécie e não poupavam honra, corpo e vida para servi-la houvessem dedicado apenas a metade de sua força a investigar com que direito aderiam a esta ou aquela convicção e por que caminho haviam chegado a ela: que aspecto pacífico teria a história da humanidade! "

" Há alguns basta, sobre um assunto, encontrar em geral uma hipótese, e depois são fogo e flama por ela e pensam que com isso tudo està feito. Ter uma opinião já significa, pare eles, fanatizar-se por ela e daí em diante guardá-la no coração como convicção"

Nietzsche

Humano, demasiado humano

quinta-feira, julho 14

Tão involuntária quanto a transpiração

Quantas vezes você já mentiu hoje?

Abraços,

"Nós estamos tão acostumados a nos disfarçar dos outros

que acabamos nos disfarçando de nós mesmos"

La Rochefoucauld





" Quantas intenções viciosas há assim que embarcam,
a meio caminho, numa frase inocente e pura! Chega
a fazer suspeitar que a mentira é muitas vezes
tão involuntária quanto a transpiração"

Machado de Assis
Da obra: Dom Casmurro


 


quarta-feira, julho 13

A Vida de David Gale


" Viver de desejos não traz a felicidade.
O verdadeiro significado do ser humano é a luta para viver por idéias e ideais. E não medir a vida pelo que obtiverem em termos de desejos, mas pelos momentos de integridade, compaixão, racionalidade e até auto-sacrifício. Porque no final, a única forma de medir o significado de nossas vidas é valorizando a vida dos outros...."

Do filme: A Vida de David Gale, com Kevin Spacey


" Nunca paramos de investigar.
Nunca nos satisfazemos com o que sabemos.
Mal encontramos resposta para uma pergunta, formulamos logo outra.
Esse é o maior truque da nossa espécie para continuar a sobreviver."
(...) Quando o ambiente não varia, o nosso instinto exploratório estagna"

Desmond Morris
Da obra: O Macaco Nu





terça-feira, julho 12

Pequeno ensaio sobre o auto-engano


 

O Auto-Engano faz parte da nossa natureza.

Embora paradoxal, são várias as ocasiões que acreditamos nas mentiras que contamos para nós mesmos: estamos sempre certos, traduzimos positivamente emoções ou lembranças que possam macular a nossa auto-imagem como forma de evitarmos sofrimento e, não raro, superestimamos nossas qualidades.

Como já dizia Aristóteles: "Ninguém é bom juiz em causa própria (A Política)".

Percebi que é preciso auto-engano para que possamos ousar buscar nossos sonhos. A sincera auto-ilusão de que, apesar de todos os pesares, existe a chance de alcançarmos o inimaginável (mesmo que esta chance seja mais um engano) é que, freqüentemente, nos empurra ladeira acima em direção à busca da realização.

O verbo sonhar permeia nosso caminho na Terra.
O que nos falta é justamente uma suposta "tolice"…

Falta-nos talvez, "tolice" ou "inocência" para sermos auto-enganados com respeito às dificuldades que nos separam dos nossos desejos e seguir em frente. Talvez isso, simplesmente, nos fizesse mais felizes. Felizes agora! Felizes simplesmente por estar trilhando um caminho em direção ao sonho.

Porque afinal de contas, pode ser que, ao acreditar nas realidades da vida, possamos estar também nos auto-enganando...

Abraços,

Carlos Santanna

 


segunda-feira, julho 11

Nada é mais repugnante que a maioria !

" Nada é mais repugnante que a maioria; pois ela consiste em uns poucos antecessores vigorosos, marotos que se acomodaram, em fracos que se assimilaram e na massa que vaga pela noite sem ter a mais mínima noção do que se quer"

Goethe

Obra: Máximas e reflexões


" Assim, é um perigo seguir os passos daqueles que estão à frente; e como todos preferem acreditar em vez de pensar, nunca pensamos sobre a vida, sempre acreditamos, e nós rolamos e caímos no abismo por causa do erro que passa de um para outro"



"(...)Com efeito, nada representa pior mal para nós que nos regularmos pelo rumor público, com a idéia de que o melhor é o que é recebido pela opinião geral, de tormarmos por modelo a maioria e de vivermos, não segundo a razão, mas por espírito de imitação"

Sêneca

Da obra: Sobre a vida feliz