sexta-feira, abril 28

A árvore da vida

Bom feriado !
Abraços,



" Quando a hora dobra em triste e tardo toque

E em noite horrenda vejo escoar-se o dia,

Quando vejo esvair-se a violeta, o que

A prata a preta têmpora assedia;

Quando vejo sem folha o tronco antigo

Que o rebanho estendia a sombra franca

E em feixe atado agora o verde trigo

Seguir o carro, a barba hirsuta e branca;

Sobre tua beleza então questiono

Que há de sofrer do Tempo a dura prova,

Pois graças do mundo em abandono

Morrem ao ver nascendo a graça nova.

Contra foice do Tempo é vão combate,

Salvo a prole, que o enfrenta se te abate"

Shakespeare, Sonetos



" Lancemos o olhar bem adiante para o futuro, e procuremos nos representar às gerações vindouras, com seus milhões de indivíduos, de costumes e modos tão estranhos para nós: uma questão, então, nos surge : mas de onde virão todos esses homens? Onde estão agora? Onde é o vasto ventre do nada prenhe de mundos, que contém agora as raças que virão? A verdadeira resposta, sorrindode tal interrogação, seria: e onde deveriam estar senão lá, onde sempreo real foi e será, no presente e no seu conteúdo, por conseguinte em ti, interrogador iludido pela aparência das coisas, que se assemelha, nessedesconhecer do seu próprio ser, à folha da árvore, que, no outono, murchando e na iminência de cair, chora seu extinguir e não quer ser consolada com aperspectiva do fresco e novo verde que revestirá a árvore na primavera e lamenta-se: Não sou isso! Essas folhas são totalmente outras!

Ó folha insensata!

Para onde pretendes ir?

E de onde devem vir as outras?

Onde é o nada, cujo o abismo temes? "


" Conhece teu próprio ser, aquele que justamente que em ti é tão sedento de existência , conhece-o na força íntima, misteriosa, na força ativa da árvore, que sempre uma e a mesma, em todas as gerações de folhas, se mantém ao abrigo do nascer e morrer. E então Qualis foliorum generatio, talis et hominum. (*) "

(*) Tal como as folhas nas árvores, assim são as raças dos homens


Arthur Schopenhauer, Da Morte




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quinta-feira, abril 20

Como Tirar Proveito dos Seus Inimigos

Todas as coisas, mesmo as que parecem inicialmente totalmente ruins, tem seu lado bom.
Abraço


" A água do mar é pouco potável e tem um gosto ruim; mas sustenta os peixes, favorece os trajetos em todos os sentidos, é uma via de acesso e um veículo para aqueles que a utilizam. O fogo queima quem o toca; mas fornece luz e calor, serve a uma infinidade de usos para aqueles que sabem utilizá-lo. Examina igualmente teu inimigo: esta criatura, de um outro lado, nociva e intratável, não dá, de alguma maneira, ensejo de ser útil? Não pode prestar-se a algum uso particular? "



" Visto que hoje a amizade só eleva fracamente voz, quando se trata de falar com franqueza, e que, verbosa na lisonja, é silenciosa os conselhos, é da boca de nossos inimigos que, às vezes, é preciso ouvir a verdade"



" Da mesma maneira que os abutres são atraídos pelo odor das caças pútridas, mas não sentem o odor dos corpos sãos e vigorosos, assim, também as partes de nossa vida que são doentias, fracas, afetadas atraem nosso inimigo; de fato, os que nos demonstram aversão investem contra elas a passos largos, tomando-as de assalto e despedaçam-nas. Isso obriga a viver com cautela, a prestar atenção em si, a nada fazer nem nada dizer estouvada e irrefletidamente."


PLUTARCO, Como Tirar Proveito dos Seus Inimigos

quarta-feira, abril 12

A vida verdadeira

 
Caros,
Como amanhã será meio expediente por aqui, vou me ausentar. Não poderia deixar de dar um "abraço virtual" em todos vocês por ocasião do feriado. Que este, se encha do seu verdadeiro sentido, de acordo com a crença de cada um, e que todos possam desfrutá-lo plenamente, digo, além dos ovos e bombons de chocolate.

Abraços,



" Pois aqui está a minha vida.

Pronta para ser usada.

Vida que não guarda

nem se esquiva, assustada.

Vida sempre a serviço da vida.

Para servir ao que vale

a pena e o preço do amor

Ainda que o gesto me doa,

não encolho a mão:

avanço

levando um ramo de sol.

Mesmo enrolada de pó,

dentro da noite mais fria,

a vida que vai comigo

é fogo:

está sempre acesa.  "

A vida verdadeira, Thiago de Melo

terça-feira, abril 11

Ontem eu olhei pela janela do meu apartamento


Ontem eu olhei pela janela do meu apartamento.
Pela janela do meu apartamento eu vi casamentos falidos
pessoas escravizadas pela culpa, domadas pelo hábito tirano
e fui testemunha secreta de suas juras e votos de felicidade eterna
Olhei pela janela e vi a solidão de um quarto e sala
Ouvi o choro dos desesperados, senti o desamparo daqueles
que foram abandonados à sua própria sorte e então chorei com eles.
Mas, pela janela do meu apartamento, também ouvi o grito de gol a notícia do telejornal, o último capítulo da novela e quando assisti a morte da consciência pude acompanhar a multidão que fugia
à realidade para encontrar asilo no oasis da alienação.
De lá, da janela do meu apartamento
Eu eu vi uma criança conectada à Internet
Ouvi um copo se quebrando, e uma panela batendo
Havia também o som de um tiro que vinha de não sei onde.
Quando senti o cheiro da comida sendo requentada
Senti fome
Quando ouvi o brindar dos copos
Senti sede
Quando ouvi os gemidos da vizinha e o apelo da ânsia da vida por si mesmo
Senti desejo
Ontem eu olhei pela janela do meu apartamento
Só para ver as estrelas
Mas eu vi a você
E vi a mim.

sexta-feira, abril 7

Sobre selvageria, civilização, tormentos e liberdade

Antes que seja tarde…
Bom fim de semana!



" Eu me perdi, na selva de pedra"

Titãs, Homem primata

" Homem, verás que são frutos próprios do Homem

A mágoa que o atormenta e os males que o consomem; "

Lysis, discípulo de Pitágoras



" Como um corcel indômito, que eriça as crinas, escarva o chão, e se debate impetuosamente à simples aproximação do freio ao passo que um cavalo domesticado sofre pacientemente o chicote e a espora, o homem "selvagem" não se dobra ao jugo que o homem civilizado suporta sem murmurar, prefere a mais tempestuosa liberdade a uma submissão tranqüila. "


" Quando os vejo (os selvagens) sacrificar os prazeres do repouso, a riqueza, o poder e a própria vida à conservação do único bem tão desdenhado por aqueles (civilizados) que o perderam ; quando vejo animais nascidos livres, e abominando o cativeiro, quebrarem a cabeça contra as grades da prisão; quando vejo multidões de "selvagens" completamente nus desprezarem as voluptuosidades, e encarar a fome, o fogo, o ferro e a morte, para não conservar senão sua independência, sinto que não compete a escravos raciocinar sobre a liberdade "


" O homem selvagem e o homem civilizado diferem de tal modo no fundo do coração e nas inclinações, que o que faz a felicidade suprema de um, reduziria o outro ao desespero. O primeiro só respira repouso e liberdade; só quer viver e desfrutar ócio. Ao contrário, o cidadão, civilizado, sempre ativo, cansa-se, agita-se, atormenta-se sem cessar para buscar ocupações ainda mais laboriosas; trabalha até à morte e renuncia à vida para adquirir a "imortalidade". Faz a corte aos grandes que odeia, e aos ricos que despreza; nada poupa para obter a honra de os servir; gaba-se orgulhosamente de sua baixeza e de sua proteção; e vaidoso da sua escravidão, fala com desdém daqueles que não tem a "honra" de a partilhar. "


J.J Rouseau, Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens


Liberdade

do Lat. libertate
s. f.,

    faculdade de uma pessoa poder dispor de si, fazendo ou deixando de fazer por seu livre arbítrio qualquer coisa;

    gozo dos direitos do homem livre;independência;autonomia; permissão;ousadia;

    (no pl. ) regalias;

    (no pl. ) privilégios;

    (no pl. ) imunidades.

    - de consciência: direito de emitir opiniões religiosas e políticas que se julguem verdadeiras;

    - de imprensa: direito concedido à publicação de algo sem necessidade de qualquer autorização ou censura prévia, mas sujeito à lei, em caso de abuso;

- individual: garantia que qualquer cidadão possui de não ser impedido de exercer e usufruir dos seus direitos, excepto em casos previstos por lei.

Fonte: Dicionário on line Priberan


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sábado, abril 1

Cotidiano

Homenagem para um amigo que não vejo há muito...onde quer que você esteja, grande abraço e obrigado por tudo...


Cotidiano
©Leonardo Andrade Fernandes
Sim, eu posso fingir que está tudo bem e gerar novos sorrisos vazios.
Posso disfarçar o que sinto e apresentar uma expressão serena.
Ninguém vai perceber.
Todos estão tão preocupados com suas máscaras e disfarces que não são capazes de vislumbrar nada além de seus próprios umbigos.
Atores lamentáveis com papéis clichés, tudo, absolutamente tudo soa falso nesse mundo sem alma.
Status, poder, postura e equilíbrio (???) sobrepõem o caráter, a éticaverdadeira e o lado humano.
Parece que quanto mais a ciência evolui, mais robotizadas e sem iniciativa aspessoas ficam, todas preocupadas em se adequar a papéis pré-formatados eengessados e não a criar novos. É o fim do Pensamento e da criatividade, é aera da Adequação.
Nada de novo é gerado, criar novas palavras para dizer exatamente as mesmascoisas virou moda, reciclar conceitos antigos e ultrapassados vendendo-os como uma "nova visão" gerou novos e fantásticos "gurus" , todos com um imenso hiato de idéias e valores.
Relações superficiais e funcionais, individualismo, valores altamentequestionáveis, ética mascarada .... onde vamos parar ?
Tudo isso me assusta, mas apesar disso continuo sentado num escritórioexatamente igual ao modelo descrito, preso, encarcerado pelas grades sociais e convencionais enquanto a vida chama lá fora. Aqui limito-me a sobreviver eaguardar o fim.
Temos que mudar isso, nos ajudar, buscar um novo sentido, temos que definir as fronteiras entre "viver" e "sobreviver" e decidirmos de que lado queremosficar.
Vamos nos ajudar ...