segunda-feira, agosto 1

Silêncio


Bem aventurados os que tem a coragem de enfrentar a si mesmos...e aos seus fantasmas... Um abraço para um grande amigo e poeta.



Silêncio

O silêncio incomoda.
Porta voz não-nomeado dos meus pensamentos, sussurra-os, como se tentasse materializa-los e realizar o que minha covardia impediu.
Engasgado , grita aos quatro ventos todas as palavras não ditas por mim, por medo ou omissão.
Maldosamente gentil, convida meus fantasmas para uma reunião íntima no escuro e incita-os a me assombrar.
Senhor das entrelinhas e dos espaços vazios, explora-os ao máximo, preenchendo-os com dúvidas e incertezas.
Companheiro de nostalgia da solidão, ensina-nos verdades que só podem ser ditas fazendo trio com a escuridão.
O silêncio fere.
Açoita.
Tortura.
Dilacera.
Liberta a imaginação em um vale sem fim, dando-lhe asas coladas com cera e não prepara para a inevitável queda.
O silêncio é tudo que não preciso.
Quebre-o , afaste-o, vença-o e fale comigo.
Fale sobre as noites de solidão, sobre os castelos nos ar que nunca tiveram alicerces.
Fale sobre as quimeras, os planos vãos que jamais tiveram a pretensão de se realizar, os desvãos, Fale sobre as estrelas que ainda brilham mesmo já estando mortas.
Fale sobre nossos antigos e êfemeros sonhos febris, sobre nosso desejos que se evaporavam ao amanhecer e sobre a magia noturna que não resistia a realidade dos primeiros raios de sol.
Fale sobre o inexorável e infinito rio das mágoas, sobre a lenta e constante dor que insiste e persiste em habitar nossas almas.
Fale do ódio, tão oposto e tão próximo quanto possívl do amor, do outro lado da moeda, da porta que se deve manter fechada, dos cadáveres putrefados no armário.
Fale do filho que jamais irá nascer, da casa que nunca irá habitar, do lar que não terá.
Fale dos orgasmos vazios e solitários, do lado inabitado da cama de casal.
Fale das pragas e maldições que conjurar, do seu lado sado-masoquista de insistir em saber de vidas que não mais se entrelaçam com a sua e provavelmente sequer lembram de sua existência.
Fale qualquer coisa, mas fale, pois as palavras, quaisquer que sejam ferem muito menos que o silêncio ....

Leonardo Andrade

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