sexta-feira, outubro 31

O homem faz-se!

"o homem nada mais é do que o seu projeto; só existe na medida em que se realiza; não é nada além do conjunto de seus atos, nada mais que sua vida."

A escolha é possível, em certo sentido, porém o que não é possível é não escolher. Eu posso sempre escolher mas devo estar ciente de que, se não escolher, assim mesmo estarei escolhendo.

"O homem faz-se; ele não está pronto logo de início; ele se constrói escolhendo a sua moral; e a pressão das circunstâncias é tal que ele não pode deixar de escolher uma moral."

Aqueles que dissimularem perante si mesmos a sua total liberdade, com exigências da seriedade ou com desculpas deterministas, eu os chamarei de covardes; os outros, que tentarem demonstrar que sua existência era necessária, quando ela é a própria contingência do aparecimento do homem sobre a terra, eu os chamarei de canalhas.”

Antes de alguém viver, a vida, em si mesma, não é nada; é quem a vive que deve dar-lhe um sentido; e o valor nada mais é do que esse sentido escolhido. “

É preciso que o homem se reencontre e se convença de que nada pode salvá-lo dele próprio, nem mesmo uma prova válida da existência de Deus."

Sartre, O existencialismo é um humanismo?

quarta-feira, outubro 29

Sociedades tribais?

“No que diz respeito à religião, propriamente, o universalismo da moderna mensagem cristã tende a obscurecer um fato óbvio sobre o ensino religioso: que ele quase sempre enfatiza a diferença entre os do grupo e os que não são do grupo: nós contra eles; israelitas e filisteus; judeus e gentios; redimidos e condenados; crentes e pagãos; arianos e atanasianos; católicos e ortodoxos; protestantes e católicos; hindus e muçulmanos; sunitas e xiita.  A religião ensina a seus adeptos que eles são a raça eleita e que seus rivais são idiotas consumados, quando não subumanos. Nada há de especialmente surpreendente nisso, dada à origem da maioria das religiões, cultos sitiados em sociedades tribais.

 

Matt Ridley, As origens da virtude

 

 

quinta-feira, outubro 23

Um Baile de máscaras

Agora, abra os olhos.
Sinta a angústia de suas escolhas pesando sob seus ombros.
Encare o espelho e veja os sulcos cavados em seu rosto pelo tempo impiedoso
Eles são como que leitos secos dos rios de lágrimas já derramadas.
Às vezes é difícil encontrar porquês para dar mais um passo.
Então chore como Heráclito ou ria como Demócrito da sua condição humana.
Perceba o fluxo inexorável de nossas paixões que nos conduzem
e no entanto, nos deixam acreditar que conduzimos.
Somos tão pequenos!
Comprimidos entre infinitos
Controlados pelo tempo
Limitados pelo espaço
Qual é o tamanho do universo?
Quantos universos existem em apenas uma gota?
Quantas gerações antes e quantas por vir?
A vida é um baile de máscaras.
Então, porque você não finge que é feliz?

segunda-feira, setembro 29

Receita para uma vida simples

" Viver uma vida desapaixonada e culta, ao relento das ideias, lendo, sonhando, e pensando em escrever, uma vida suficientemente lenta para estar sempre à beira do tédio, bastante meditada para se nunca encontrar nele. Viver essa vida longe das emoções e dos pensamentos, só no pensamento das emoções e na emoção dos pensamentos. Estagnar ao sol, douradamente, como um lago obscuro rodeado de flores. Ter, na sombra, aquela fidalguia da individualidade que consiste em não insistir para nada com a vida. Ser no volteio dos mundos como uma poeira de flores, que um vento incógnito ergue pelo ar da tarde, e o torpor do anoitecer deixa baixar no lugar de acaso, indistinta entre coisas maiores. Ser isto com um conhecimento seguro, nem alegre nem triste, reconhecido ao sol do seu brilho e às estrelas do seu afastamento. Não ser mais, não ter mais, não querer mais... A música do faminto, a canção do cego, a relíquia do vianjante incógnito, as passadas no deserto do camelo vazio sem destino...”

Pessoa, Livro do Desassossego

quarta-feira, setembro 17

IF we will live simply and wisely

“ For myself I found that the occupation of a day-laborer was the most independent of any, especially as it required only thirty or forty days in a year to support one. The laborer’s day ends with the going down of the sun, and he is then free to devote himself to his chosen pursuit, independent of his labor; but his employer, who speculates from month to month, has no respite from one end of the year to the other. In short, I am convinced, both by faith and experience, that to maintain one’s self on this earth is not a hardship but a pastime, if we will live simply and wisely; ”

Thoreau, Walden

The whole of my winters, as well as most of my summers

 

“ For more than five years I maintained myself thus solely by the labor of my hands, and I found that, by working about six weeks in a year, I could meet all the expenses of living. The whole of my winters, as well as most of my summers, I had free and clear for study.”

 

Thoreau, Walden

 

terça-feira, setembro 9

but it was not so easy to create noblemen and kings

While civilization has been improving our houses, it has not equally improved the men who are to inhabit them. It has created palaces, but it was not so easy to create noblemen and kings.

Thoreau, Walden

sábado, setembro 6

Eu sou algo mais

" Eu sou algo mais, eu nasci para algo mais do que para ser escravo do meu corpo, a quem não tenho em maior conta do que a uma cadeia em torno da minha liberdade. Este corpo, oponho-o como barreira aos golpes da fortuna, e não consinto que atrvés dele algum golpe chegue a mim. Se algo em mim pode sofrer ataques é o corpo; mas neste desconfortável domicílio habita um espírito livre. Nunca esta carne me compelirá ao medo, ou alguma hipocrisia indigna de um um homem de bem; nunca serei levado a mentir por atenção a este frágil corpo. Quando chegar a altura romperei minha ligação com ele. E mesmo agora, enquanto estamos colados um ao outro, não somos companheiros com direitos iguais: o espírito arroga para si todos os direitos. O desprezo pelo próprio corpo é a certeza da liberdade."

Seneca, Cartas a Lucílio, epístola 65

segunda-feira, setembro 1

To be a philosopher is ...

 

“To be a philosopher is not merely to have subtle thoughts, nor even to found a school, but so to love wisdom as to live according to its dictates, a life of simplicity, independence, magnanimity, and trust. It is to solve some of the problems of life, not only theoretically, but practically.”

 

Thoreau, Walden

 

 

 

sexta-feira, agosto 29

It is never too late to give up our prejudices.

“It is never too late to give up our prejudices. No way of thinking or doing, however ancient, can be trusted without proof. What everybody echoes or in silence passes by as true today may turn out to be falsehood tomorrow, mere smoke of opinion, which some had trusted for a cloud that would sprinkle fertilizing rain on their fields.”

 

Thoreau, Walden: in the woods

 

 

 

 

O que se sentiu foi o que se viveu

"A vida é uma viagem experimental, feita involuntariamente. É uma viagem do espírito através da matéria, e como é o espírito que viaja, é nele que se vive. Há, por isso, almas contemplativas que têm vivido mais intensa, mais extensa, mais tumultuariamente do que outras que têm vivido externas. O resultado é tudo. O que se sentiu foi o que se viveu. "

 

Pessoa, Livro do Desassossego

 

 

 

sexta-feira, agosto 22

A febril atividade de um formigueiro

“De meu observatório nas alturas qualquer desejo ou aspiração parecia insignificante, como quando olhamos a febril atividade de um formigueiro. Para as formigas é muito importante o que estão fazendo, mas nós sabemos que basta uma pisada para que se perca o fruto daqueles esforços mínimos e incessantes. E nunca compreenderão por que aquilo aconteceu.”

 

 

 

Francesc Miralles, Amor em Minúsculas,

quinta-feira, agosto 21

And nothing else matters

 

“So close no matter how far
Couldn't be much more from the heart
Forever trusting who we are
And nothing else matters”

 

Metalica, Nothing else matter

 

 

 

 

 

 

segunda-feira, agosto 18

To be a rock and not to roll

 

“ And if you listen very hard
The tune will come to you at last
When all are one and one is all
To be a rock and not to roll “

 

Stairway to Heaven, Led Zeppelin

 

segunda-feira, agosto 11

Toda luz tem sua sombra

 

“Toda luz tem sua sombra. As pessoas aparentemente mais simples ocultam um mundo no qual acontecem coisas impensáveis. Quando penetramos nele por acaso, somos invadidos por um sentimento de desconcerto e temor, como quem invade um jardim alheio. De repente nos damos conta de que algo que sempre estivera ali nos passara despercebido. O passo seguinte é ampliar o território de dúvida aos campos contíguos. A partir daí, a região de sombra pode nos levar a lugares nunca imaginados. Afinal de contas, o reverso da moeda ocupa a mesma superfície que seu oposto. Você pode descobrir que não sabia nada de quem vive ao seu lado, ou que até agora fechara os olhos para não vê-lo. E desejaria que essa primeira revelação — que rompeu a doce rotina — não tivesse chegado nunca.”

 

Francesc Miralles, Amor em Minúsculas,

 

 

segunda-feira, agosto 4

SOBRE MULHERES E LIVROS

“ (…) O amor não é senão uma curiosidade mais ou menos viva, aliada à natural tendência que nos leva a cuidar da perpetuação da espécie. Com efeito, a mulher é como um livro, que bom ou mau, deve começar a agradar desde a capa. Se esta não for interessante, não inspira desejo de ser lido, e tal desejo está sempre na razão direta do interesse que ele nos inspira. A “capa”de uma mulher abrange-a de alto a baixo, como acontece no livro; e os seus pés, são-nos um atrativo semelhante ao que nos oferece a notícia sobre sua edição. (...) Do mesmo modo que os homens que leram muitos livros terminam por ler os novos, mesmo que maus, também, os que conheceram muitas mulheres, e todas belas, terminam curiosos também pelas feias, porque constituem para eles novidade. Podem os olhos ver o envoltório que lhes oculta a realidade, mas a paixão, transformada em vício, sugere-lhes qualquer razão favorável a falsa capa. Pode ser, dizem consigo mesmos, que a obra valha mais do que o título, e a realidade mais que o invólucro que a esconde. Tentam então percorrer o livro, que jamais fora folheado e encontram resistência; o livro vivo quer não apenas folheado, mas lido.”

Memórias de Casanova, Por ele mesmo.

quarta-feira, julho 2

Provocações filosóficas - Vol 2

 

“Ninguém sabe ainda o que é o bem e o mal, a não ser o criador. Só aquele que cria o fim dos homens e aquele que dá sentido e futuro à terra, só esse cria o bem e o mal de todas as coisas”

 

 

Assim falava Zaratustra, Nietzsche

terça-feira, junho 24

Provocações filosóficas - Vol 1

“Que o homem tenha medo da mulher quando a mulher ama. Porque ela não recuará diante de nenhum sacrifício e tudo o mais para ela não tem valor. Que o homem tenha medo da mulher quando a mulher odeia. Porque o homem, no fundo da alma, é malvado mas a mulher, no fundo de sua alma, é perversa.”

 

Assim falava Zaratustra, Nietzsche

quinta-feira, junho 19

Medo

Medo

"...Não tenho medo do tempo que se foi

Não tenho medo do tempo que passa

Não tenho medo do que não vejo

Ou daquilo que me ameaça

Eu não tenho medo

Do relento, da fome, da traça...

Da desconhecida sorte

Não tenho medo da morte!

Mas eu tenho medo

De que em minha existência

Eu perca a consciência

E viva em mediocridade...

O meu maior medo

É não mais florescer

E cair em inutilidade

Ah! Disso eu tenho medo.."

(Cláudia Azevedo)

quarta-feira, maio 28

O Futuro de uma ilusão

" É de esperar que essas classes subprivilegiadas invejem os privilégios das favorecidas e façam tudo o que podem para se liberarem de seu próprio excesso de privação. Onde isso não for possível, uma permanente parcela de descontentamento persistirá dentro da cultura interessada, o que pode conduzir a perigosas revoltas. Se, porém, uma cultura não foi além do ponto em que a satisfação de uma parte e de seus participantes depende da opressão da outra parte, parte esta talvez maior – e este é o caso em todas as culturas atuais –, é compreensível que as pessoas assim oprimidas desenvolvam uma intensa hostilidade para com uma cultura cuja existência elas tornam possível pelo seu trabalho, mas de cuja riqueza não possuem mais do que uma quota mínima. Em tais condições, não é de esperar uma internalização das proibições culturais entre as pessoas oprimidas. Pelo contrário, elas não estão preparadas para reconhecer essas proibições, têm a intenção de destruir a própria cultura e, se possível, até mesmo aniquilar os postulados em que se baseia. A hostilidade dessas classes para com civilização é tão evidente, que provocou a mais latente hostilidade dos estratos sociais mais passíveis de serem desprezados. Não é preciso dizer que uma civilização que deixa insatisfeito um número tão grande de seus participantes e os impulsiona à revolta, não tem nem merece a perspectiva de uma existência duradoura. "

O Futuro de uma ilusão, Freud

sexta-feira, maio 23

HOMO

Nenhum de vós ao certo me conhece,
Astros do espaço, ramos do arvoredo,
Nenhum adivinhou o meu segredo,
Nenhum interpretou a minha prece...

Ninguem sabe quem sou... e mais, parece
Que ha dez mil annos já, neste degredo,
Me vê passar o mar, vê-me o rochedo
E me contempla a aurora que alvorece...

Sou um parto da Terra monstruoso;
Do humus primitivo e tenebroso
Geração casual, sem pae nem mãe...

Mixto infeliz de trevas e de brilho,
Sou talvez Satanaz;--talvez um filho
Bastardo de Jehová;--talvez ninguem!

Antero de Quental

segunda-feira, maio 12

Feliz daquele ...

" Feliz daquele que descobriu a origem das coisas e pisoteou todos os medos, o destino inexorável e o inferno da avareza"

Virgilio

sexta-feira, maio 9

Nietzsche sobre a mulher...(a opinião é dele hein)

" A mulher feita quando ama, devora...Felizmente não estou disposto a deixar-me devorar. Ah! que predadorzinho perigoso, insinuante, subterrâneo! E apesar de tudo, tão agradável...Uma mulher que persegue sua vingança seria capaz de atropelar seu próprio destino. A mulher é indizivelmente mais má que o homem, e também mais inteligente; a bondade é nela uma forma de degenerescência...Como se cura uma mulher? Basta fazer-lhe um filho. A mulher necessita de filhos, o homem nunca é mais que um meio..."

Nietzsche, Ecco Homo

quinta-feira, maio 8

Medo do que não está claro

"Assim como as crianças têm medo de tudo no escuro, assim nós em plena luz, tememos coisas que não são mais de temer que aquelas que nas trevas apavoram as imaginações infantis"

(Lucrécio, A Natureza)

domingo, abril 20

Personalidade em Mosaico ou Fragmentos de Personas


Numa cidade qualquer, num dia qualquer de um tempo medido apenas cronologicamente, ele se levanta.Acorda para mais um dia e olha para seu cabide imaginário de personas pensando qual fantasia vestirá hoje.
Nesse mundo globalizado e sem fronteiras, ele acha melhor assim. Se "veste" conforme a ocasião, age como crê que gostariam que agisse e sobrevive sendo apenas mais um na multidão, não sendo notado, só mais um rosto indiscernível no meio de tantos iguais.
Ele já foi diferente, já sonhou e viu seus castelos de areia desaparecerem em marés cíclicas e incontroláveis, já lutou Quixotescamente com moinhos de vento e viu suas quimeras desaparecerem em Brumas.
Ele precisa sobreviver. Para isso abre mão de vivenciar suas idéias, seus pensamentos, suas convicções. O preço de ser diferente é muito alto e seu cacife se esgotou, ele agora é apenas um jogador passivo que não aposta mais nada e sequer blefa ...
Sonhos não alimentam o corpo e a alma ele já perdeu leiloada por migalhas há tempos. Que bom que existem suas personas ! Ele finge ser quem quiser e os outros acreditam (ou fingem que) num simbiótico e prático acordo. Para que arriscar ser real se tudo é de mentira ? Assim ele finge que é feliz e pode ser tudo que quiser, pode até querer ser feliz mesmo, num mosaico de fantasias e realidade entrelaçadas e confundidas. Nada é exatamente o que parece ser, mas também para que "ser" se o "estar", transitório e impermanente pode oscilar ao sabor da maré e trazer resultados mais práticos e bem menos dolorosos.
Hoje, ele definitivamente deixa de sonhar com um mundo diferente e seu último fragmento de alma, um literal fio de esperança, se solta desaparecendo para sempre.
Agora ele é irreversivelmente mais um da tribo dos sem-alma, vivendo em festas à fantasia com trajes previamente escolhidos pelos anfitriões de sua subsistência.
Hoje mais uma estrela se apagou e o mundo tornou-se ainda mais escuro

Leornado Andrade

domingo, abril 6

No Master

No Master

Indeed this is the sweet life! my hand

Is under no proud man's command;
There is no voice to break my rest
Before a bird has left its nest;
There is no man to change my mood,
When I go nutting in the wood;
No man to pluck my sleeve and say --
I want thy labour for this day;
No man to keep me out of sight,
When that dear Sun is shining bright.
None but my friends shall have command
Upon my time, my heart and hand;
I'll rise from sleep to help a friend,
But let no stranger orders send,
Or hear my curses fast and thick,
Which in his purse-proud throat would stick
Like burrs. If I cannot be free
To do such work as pleases me,
Near woodland pools and under trees,
You'll get no work at all, for I
Would rather live this life and die
A beggar or a thief, than be
A working slave with no days free.

William Henry Davies

segunda-feira, março 31

Quando no poente o dia se faz mudo

" Em mim tu podes ver a quadra fria
Em que as folhas, já poucas ou nenhumas,
Pendem do ramo trêmulo onde havia
Outrora ninhos e gorjeio e plumas.

Em mim contemplas essa luz que apaga
Quando no poente o dia se faz mudo
E pouco a pouco a negra noite o traga
Gêmea da morte, que cancela tudo.

Em mim tu sentes resplender o fogo
Que ardia sob as cinzas do passado
E num leito de morte expira logo
Do quanto que o nutriu ora esgotado.

Sabê-lo faz teu amor mais forte
Por quem em breve há de levar a morte."

Shakespeare, Sonetos

sexta-feira, março 28

LEISURE

What is this life if, full of care,
We have no time to stand and stare.

No time to stand beneath the boughs
And stare as long as sheep or cows.

No time to see, when woods we pass,
Where squirrels hide their nuts in grass.

No time to see, in broad daylight,
Streams full of stars, like skies at night.

No time to turn at Beauty's glance,
And watch her feet, how they can dance.

No time to wait till her mouth can
Enrich that smile her eyes began.

A poor life this if, full of care,
We have no time to stand and stare.


By Wm. Henry Davies.(Wm. Henry Davies (1871-1940) is to be considered as the poet of the tramps. Born at Newport, Wales in the UK, Davies came to America from Great Britain and lived the life of a vagabond. One day, as the result of jumping a train, he lost one of legs. Davies returned to England where he continued to live the life of a tramp and a pedlar. He wrote poetry (presumably he did right along) and, eventually, he determined to print his own book and did so with the little money he earned panhandling. A copy of this first work, A Soul's Destroyer, came into the hands of George Bernard Shaw; which, in turn, led to the popularization of the poet.

A VIDA É SEMPRE MORTAL

"A vida assemelha-se um pouco a enfermidade, à medida que proceda por crises e deslizes e tem seus altos e baixos cotidianos. À diferença das outras moléstias, A VIDA É SEMPRE MORTAL. Não admite tratamento. (...) A vida atual está contaminada até as raízes. O homem usurpou o lugar das árvores e dos animais, contaminou o ar, limitou o espaço livre. Mas o pior está por vir. O triste e altivo animal pode descobrir e pôr a seu serviço outras forças da natureza. Paira no ar uma ameaça deste gênero. Prevê uma grande riqueza...no número de homens. Cada metro quadrado será ocupado por ele. QUEM SE LIVRARÁ DA FALTA DE AR E DE ESPAÇO? Sufoco só de pensar nisso! Infelizmente não é tudo.

Qualquer esforço para restabelecer a saúde será vão. Esta só poderá pertencer ao animal que conhece apenas o progressso do seu organismo. Desde o momento que a andorinha compreendeu que para ela não havia outra vida possível senão emigrando, o músculo que move suas asas engrossou-se, tornando-se a parte mais considerável do seu corpo. A toupeira enterrou-se e todo o seu organismo se conformou a essa necessidade. O cavalo avolumou-se e seus pés se transformaram em cascos. Desconhecemos as transformações por que passam outros animais, mas elas certamente existiram e nunca lhes puseram em risco a saúde.

O homem, porém, este animal de óculos, ao contrário, inventa artefatos alheios a seu corpo, se há nobreza e valor em quem os inventa, quase sempre falta ao quem os usa. Os artefatos se compram, se vendem, se roubam, e o homem se torna cada vez mais astuto e fraco. Compreende-se mesmo que a astúcia cresça na proporção de sua fraqueza. Suas máquinas pareciam prolongamentos dos seus braço e só podiam ser eficazes em função de sua própria força, mas, hoje, o atefato já não guarda nenhuma relação com os membros. E é o artefato que cria a moléstia por abandonar a lei que foi criadora de tudo que há na Terra. A LEI DO MAIS FORTE DESAPARECEU E PERDEMOS A SELEÇÃO SALUTAR.

TALVEZ POR MEIO DE UMA CATÁSTROFE INAUDITA, PROVOCADA PELOS ARTEFATOS, HAVEREMOS DE RETORNAR A SAÚDE. Quando os gases venenosos já não bastarem, um homem feito como todos os outros, no segredo de uma câmara qualquer neste mundo, inventará um explosivo incomparável, diante do qual os explosivos de hoje serão considerados simples brincadeiras inócuas. E um outro homem, também feito da mesma forma que os outros, mas um pouco mais insano que os demais, roubará este explosivo e penetrará até o centro da Terra para pô-lo no ponto em que seu efeito possa ser o máximo. HAVERÁ UMA EXPLOSÃO ENORME QUE NINGUÉM OUVIRÁ, E A TERRA, RETORNANDO À SUA FORMA ORIGINAL NEBULOSA, ERRARÁ PELOS CÉUS, LIVRE DOS PARASITOS E DAS ENFERMIDADES"

Italo Svevo, Consciência de Zeno

A alegria de quem soube conquistar uma parte exuberante do festim

"A lei natural não dá direito a felicidade; ao contrário, prescreve miséria e sofrimento. Sempre que o alimento é exposto, acorrem parasitas de todas as partes e, se não em número suficiente, logo outros se apressam em nascer. Com pouco a presa mal é suficiente para eles, e logo em seguida já não lhes basta, pois a natureza não faz cálculos; procede por experiências. Quando o alimento começa a rarear, eis que os consumidores devem diminuir através da morte precedida pela dor; assim é que o equilíbirio, por um instante de restabelece. PARA QUE LAMENTAR-SE? No entanto, todos se lamentam. Os que nada tiveram da presa morrem gritando contra a injustiça e os que tiveram parte dela acham que deviam ter direito a muito mais. POR QUE NÃO MORREM E NÃO VIVEM EM SILÊNCIO? Por outro lado é simpática a alegria de quem soube conquistar uma parte exuberante do festim e se manisfeta em pleno sol entre os aplausos. O ÚNICO GRITO ADMISSÍVEL É DE QUEM TRIUNFA."

Italo Svevo, A Consciência de Zeno

sexta-feira, fevereiro 15

" A memória da maior parte dos homens é um cemitério abandonado, onde jazem, sem honras, os mortos que eles deixaram de amar. Toda dor prolongada é um insulto ao seu esquecimento..."

"Toda felicidade é uma obra prima: o menor erro a adultera, a menor hesitação a modifica, a menor deselegância a desfigura, a menor tolice a embrutece. "

" A morte é hedionda e a vida também é."

"Duvido que toda a filosofia do mundo seja capaz de suprimir a escravidão: no máximo mudar-lhe-ão o nome. Sou capaz de imaginar formas de servidão piores que as nossas porque mais insidiosas: seja transformando os homens em máquinas estútpidas e satisfeitas que se julgam livres quando são subjulgadas, seja desenvolvendo neles, mediante a exclusão do repouso e dos prazeres humanos, um gosto tão absorvente pelo trabalho como a paixão da guerra entre as raças bárbaras. A servidão do espírito ou da imaginação, prefiro ainda nossa escravidão de fato."

Memórias de Adriano, Marguerite Yourcenar

terça-feira, fevereiro 12

AD AMICOS

EM vão lutamos. Como névoa baça,
A incerteza das cousas nos envolve.
Nossa alma, em quanto cria, em quanto volve,
Nas suas próprias redes se embaraça.
O pensamento, que mil planos traça,
É vapor que se esvai e se dissolve;
E a vontade ambiciosa, que resolve,
Como onda entre rochedos se espedaça.
Filhos do Amor, nossa alma é como um hino
À luz, à liberdade, ao bem fecundo,
Prece e clamor d’um pressentir divino;
Mas n’um deserto só, árido e fundo,
Ecoam nossas vozes, que o Destino
Paira mudo e impassível sobre o mundo.


Antero Quental,

quinta-feira, janeiro 17

Monstro sorrateiro...

" Esta manhã, pela primeira vez, ocorreu-me a idéia de que meu corpo, este fiel companheiro, este meu amigo mais seguro e mais meu conhecido do que minha própria alma, não é senão um monstro sorrateiro que acabará por devorar o próprio dono"

Memórias de Adriano, Marguerite Yourcenar