terça-feira, maio 26

Cada um sonha com o desconhecido e o impossível segundo a própria natureza

 

 

“ Com efeito, se fosse possível aos nossos olhos de carne contemplar a consciência alheia, julgaríamos com mais segurança a personalidade de um homem mais pelo que sonha fazer do que pelo que realmente faz. O pensamento supõe vontade; o sonho não. O sonho, que é completamente espontâneo, conserva, mesmo quando irrealizável, o perfil de nossa espiritualidade; nada sai mas diretamente e mais sinceramente do fundo de nossa alma que as nossas aspirações irrefletidas e sem limites para os esplendores do destino. Nessas aspirações, muito mais que nas idéias coordenadas, refletidas, sensatas, pode encontrar-se o caráter de cada homem. Nossas quimeras são as que mais se assemelham a nós. Cada um sonha com o desconhecido e o impossível segundo a própria natureza. “

 

 

Victor Hugo, Os Miseráveis, livro quinto, Marius.

 

 

sábado, maio 23

O animal perverso por excelência

" O homem no fundo é um animal selvagem e terrível. Nós o conhecemos unicamente no estado subjugado e domesticado, denominado civilização (...)Porém, onde e quando a trava e a cadeia da ordem jurídica se rompem (...) o homem não deve crueldade e intransigência a nenhum tigre ou hiena (...) à inveja, egoísmo de nossa natureza aindase alia um estoque existente de ódio, ira, raiva emaldade reunidos, como o veneno no receptáculo do dente da cobra aguardando apenas a oportunidade para vir à tona (...) qual um demônio libertado a bramir sua fúria produzindo devastação."O ódio constitui de longe o prazer mais insistente; os homens amam às pressas, mas detestam longamente". (...) Gabineau, (...des raceshumaines), denominou o homem l'animal méchant par excellence (O animal perverso por excelência), o que desagrada as pessoas, porque se sentem atingidas; contudo ele tem razão, pois o homem é o único animal que incute dor a outro sem nenhum outro fim a não ser este mesmo. (...) nenhum animal maltrata apenas pormaltratar, mas o homem sim, e isto constitui o caráter demoníaco, muito mais grave do que o simplesmente animal. "

Arthur Schopenhauer, Sobre a Maldade, Parerga e Paralimpomena (p 195 a 197)