quarta-feira, agosto 3

Da incoerência de nossas ações

Just think it over ….

Abração


"Porquê sou do tamanho do que vejo e não do tamanho de minha altura"
Fernando Pessoa
Da Obra: O Livro do Desassossego


(...) Nossa maneira habitual de fazer está em seguir os nossos impulsos instintivos para a direita ou para a esquerda, para cima ou para baixo, segundo as circunstâncias. Só pensamos no que queremos no próprio instante em que o queremos, e mudamos de vontade como muda de cor o camaleão. O que nos propomos em dado momento, mudamos em seguida e voltamos atrás, e tudo não passa de oscilação e inconstância:

“Somos conduzidos como títeres que o fio manobra” (Horácio).

Não vamos, somos levados como objetos que flutuam, ora devagar, ora com violência, segundo o vento:

Acaso não vemos todo mundo indeciso; uns procurando sem descontinuar, outros mudando de lugar, como para largar uma carga pesada demais?”(Lucrécio).

Cada dia nova fantasia, e movem-se as nossas paixões de acordo com o tempo:

“o pensamento dos homens assemelha-se na terra aos cambiantes raios de luz com que Júpiter a fecunda”(Cícero).


Hesitamos em tomar partido; nada decidimos livremente, de maneira absoluta, coerente.

Michel Montaigne (1533-1592)
Da Obra: Ensaios

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