terça-feira, abril 11

Ontem eu olhei pela janela do meu apartamento


Ontem eu olhei pela janela do meu apartamento.
Pela janela do meu apartamento eu vi casamentos falidos
pessoas escravizadas pela culpa, domadas pelo hábito tirano
e fui testemunha secreta de suas juras e votos de felicidade eterna
Olhei pela janela e vi a solidão de um quarto e sala
Ouvi o choro dos desesperados, senti o desamparo daqueles
que foram abandonados à sua própria sorte e então chorei com eles.
Mas, pela janela do meu apartamento, também ouvi o grito de gol a notícia do telejornal, o último capítulo da novela e quando assisti a morte da consciência pude acompanhar a multidão que fugia
à realidade para encontrar asilo no oasis da alienação.
De lá, da janela do meu apartamento
Eu eu vi uma criança conectada à Internet
Ouvi um copo se quebrando, e uma panela batendo
Havia também o som de um tiro que vinha de não sei onde.
Quando senti o cheiro da comida sendo requentada
Senti fome
Quando ouvi o brindar dos copos
Senti sede
Quando ouvi os gemidos da vizinha e o apelo da ânsia da vida por si mesmo
Senti desejo
Ontem eu olhei pela janela do meu apartamento
Só para ver as estrelas
Mas eu vi a você
E vi a mim.

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