quarta-feira, março 7

Nem a ternura fulgaz desses belos olhos, nem os ruídos da rua, nem a claridade titubeante do amanhecer!

 Cada instante só surge para trazer os que se seguem. Apego-me a cada instante com todo o meu coração: sei que é único; insubstituível, e no entanto não faria um gesto para impedi-lo de se aniquilar. Esse último minuto que passo em Berlim, em Londres, nos braços de uma mulher que conheci na antevéspera, minuto que amo desesperadamente, vai terminar eu sei.  Não tornarei a encontrar essa mulher, nem essa noite nunca mais. Debruço-me sobre cada segundo, tento esgotá-lo; nada se passa que eu não capte, não fixe para sempre em mim, nada, nem a ternura fulgaz desses belos olhos, nem os ruídos da rua, nem a claridade titubeante do amanhecer: e no entanto o minuto se esgota e não o retenho, gosto que passe

A NÁUSEA

Jean Paul Sartre

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