segunda-feira, março 20

Questões existenciais no tempo pós-moderno

Para quem ainda não foi consumido pelo vírus da pressa, tive o trabalho de compilar esse texto, muito bom por sinal, da revista Discutindo Filosofia, a qual, todos os direitos de reprodução devem ser reservados. A autora - Marta Vitória de Alencar - é professora de filosofia da escola de Aplicação da Faculdade de Educação da USP. Boa leitura!


Questões existenciais no tempo pós-moderno

Vivemos numa sociedade pós-moderna, “pra lá de moderna”. O tempo é curto, a vida é breve, os avanços tecnológicos se dão numa velocidade supersônica e tudo tem de ser muito prático, pois precisamos de tempo e condições para fruir a vida. Aliás, o modelo ideal de pessoa é a pragmática – aquela que sabe avaliar a utilidade de cada gesto, palavra ou expressão, pensamento, ação, e de cada coisa também. No entanto, essa mesma sociedade pós-moderna é produtora de milhares de coisas inúteis e efêmeras, que não nos levam a lugar algum ou pouco nos proporcionam. Acreditamos que consumir é a solução para nossa insatisfação e, no entanto, ao consumir, deparamos com o aumento desse desejo, que quer sempre mais e mais rápido.

Estamos diante de um paradoxo! Você sabe o que é isso? A filosofia explica. Opa! Mas não era Freud quem explicava tudo? Sim e por isso ele também era filósofo. Mas explicações servem para alguma coisa? Precisamos delas para viver? Será que eu preciso saber como e por que chegam à minha casa luz e água encanada, telefonia ou internet? Como e por que inventaram o automóvel e a televisão, e que diferença isso faz na minha vida? Será que preciso destas perguntas respondidas para viver e usufruir esses bens?

Sem incorrermos em erro, tranquilamente poderíamos afirmar que muitas pessoas nem sequer colocariam para si essas questões, mas questionariam somente se esses produtos têm ou não alguma utilidade. É fácil observarmos que, em nosso tempo, a maioria não está muito interessada em questionar algo que esteja para além da mera utilidade. Poderíamos até afirmar que não está muito disposta a ouvir explicações, pois elas são muito demoradas; ou que o problema não está nas explicações, mas no ouvir alguém que se apresenta como sumidade no assunto e coloca-se de forma pedante e autoritária, achando que temos tempo para ouvir algo que poderia ser dito de modo bem sucinto e que intimamente acredita poder chegar a compreender sozinho. É curioso observar que muitas vezes, quando não conseguimos compreender sozinhos ou não temos paciência para escutar a explicação do outro, rapidamente chegamos à conclusão de que o objeto em questão não serve para nada. Portanto, para que gastar tempo com explicações que não vão nos levar a lugar algum?

Mas, afinal, o que é que vai nos levar a algum lugar? As explicações, o saber ou os cacarecos inúteis e efêmeros produzidos e oferecidos incessantemente pela indústria pós-moderna? Quando adotamos a posição de imaginar que não queremos a transmissão de conhecimentos ou que somos auto-suficientes o bastante para chegarmos sozinhos aonde queremos, nos jogamos num buraco: a superficialidade e imediatez da vida pós-moderna nos levam a acreditar que os legados culturais podem ser dispensáveis, que os “como” e os “porquês” não tem muita utilidade. E mais: que podemos viver e usufruir os bens produzidos pela técnica e pela ciência sem entendê-las.

Que podemos gozar das produções artísticas sem fruí-las e transformar tudo em passatempo e entretenimento. Realmente podemos, mas, uma vez que essa perspectiva é adotada, tudo passa por nós como uma seqüência de imagens desconexas sobre as quais não podemos intervir. O tempo transforma-se em instantaneidade, o futuro torna-se uma imagem turva, e o passado uma imagem pálida. Passamos a tomar como máxima a idéia de que “devemos viver cada instante como se fosse o último”.

Existe uma razão para esse tipo de comportamento ser tão comum: vive entre nós a crença de “quanto mais, melhor”. Novamente aparecem os efeitos que a velocidade do desenvolvimento tecnológico imprime em nós. Para manter-se ativo, o capitalismo necessita do permanente consumo de mercadorias, e isto implica a idéia de que a renovação deve ser incessante e de que sempre está disponível algo novo que precisamos descobrir. Assim, produz-se o consumo frenético e compulsivo; quanto mais consumimos, mais desejosos de consumo nos tornamos. O problema dessa crença é que não questionamos a qualidade deste quanto, se ele é sempre o mesmo ou se é um mergulho, sempre mais profundo, um voltar-se para si mesmo, refletindo e indagando como e por quê.

Um comentário:

Anônimo disse...

Bom texto, porém, em minha opinião o texto " encheu muita linguiça", ex: a parte do paradoxo, falou, falou e nao disse o que significa, tornando a leitura desgastante