Amante da sabedoria é a tradução literal de "filósofo", que tem sua origem em filosofia, do Lat. philosophia ou do Gr. philosophía, "amor ao saber", segundo o dicionário on line Priberam. Esse blog foi criado com a finalidade de compartilhar com todos minhas viagens por livros, textos e ensaios filosóficos que de alguma forma me despertam para outras realidades...
quarta-feira, dezembro 26
O vício não está nas coisas
Seneca, Cartas a Lucílio
O imperativo da Fortuna *
Dante, A Divina Comédia, Canto 7
* fortuna
do Lat. fortuna, sorte
s. f.,
divindade que, na crença dos antigos, fazia, a seu capricho, a felicidade ou a infelicidade;
o que sucede por acaso;
azar;
destino;
sorte;
ventura;
revés da sorte;
sucesso;
êxito;
riqueza, haveres.
Da Fragilidade
Homero, A Odisséia, Canto 18
terça-feira, dezembro 18
É contra mim que luto
“ É contra mim que luto.
Não tenho outro inimigo.
O que penso, o que sinto,
o que digo, e o que faço,
é que pede castigo
e desespera a lança no
meu braço.
Absurda aliança de
criança e adulto,
o que sou é um insulto
ao que não sou;
e combato esse vulto que
à traição me invadiu e me
ocupou.
Infeliz com loucura e sem loucura,
peço à vida outra vida,
outra aventura,
outro incerto destino.
Não me dou por vencido,
nem convencido.
E agrido em mim o homem e o menino.”
Miguel Torga
Sobre o(a) autor(a):
Pseudônimo de Adolfo Correia da Rocha (1907-1995), português.
Formado médico, este escritor passeou pela poesia, prosa, ficção, drama e fez um romance autobiográfico.
Escritor independente, sem escola.
sexta-feira, novembro 30
De quem é a culpa?
Homero, A Odisséia, Canto 1, Zeus se dirigindo aos outros deuses
Os Vaidosos
“Somos como vitrines de lojas, onde passamos nosso tempo a arrumar, a esconder, a colocar em evidência as pretensas qualidades que os outros nos concedem – para enganarmos a nós mesmos”
sexta-feira, novembro 9
O DELÍRIO
QUE ME CONSTE, ainda ninguém relatou o seu próprio delírio; faço-o eu, e a ciência mo agradecerá. Se o leitor não é dado à contemplação destes fenômenos mentais pode saltar o capítulo; vá direito à narração. Mas, por menos curioso que seja, sempre lhe digo que é interessante saber o que se passou na minha cabeça durante uns vinte a trinta
minutos.
Primeiramente, tomei a figura de um barbeiro chinês, bojudo, destro, escanhoando um mandarim, que me pagava o trabalho com beliscões e confeitos: caprichos de mandarim.
Logo depois, senti-me transformado na Suma Teológica de S. Tomás, impressa num volume, e encadernada em marroquim, com fechos de prata e estampas; idéia esta que me deu ao corpo a mais completa imobilidade; e ainda agora me lembra que, sendo as minhas mãos os fechos do livro, e cruzando-as eu sobre o ventre, alguém as descruzava (Virgília decerto), porque a atitude lhe dava a imagem de um defunto.
Ultimamente, restituído à forma humana, vi chegar um hipopótamo, que me arrebatou. Deixei-me ir, calado, não sei se por medo ou confiança; mas, dentro em pouco, a carreira de tal modo se tornou vertiginosa, que me atrevi a interrogá-lo, e com alguma arte lhe disse que a viagem me
parecia sem destino.
- Engana-se, replicou o animal, nós vamos à origem dos séculos.
Insinuei que deveria ser muitíssimo longe; mas o hipopótamo não me entendeu ou não me ouviu, se é que não fingiu uma dessas cousas; e, perguntando-lhe, visto que ele falava, se era descendente do cavalo de Aquiles ou da asna de Balaão, retorquiu-me com um gesto peculiar a
estes dous quadrúpedes: abanou as orelhas. Pela minha parte fechei os olhos e deixei-me ir à ventura. Já agora não se me dá de confessar que sentia umas tais ou quais cócegas de curiosidade, por saber onde ficava a origem dos séculos, se era tão misteriosa como a origem do Nilo, e sobretudo se valia alguma cousa mais ou menos do que a consumação dos mesmos séculos: reflexões de cérebro enfermo. Como ia de olhos fechados, não via o caminho lembra-me só que a sensação de frio aumentava com a jornada, e que chegou uma ocasião em que me
pareceu entrar na região dos gelos eternos. Com efeito, abri os olhos e vi que o meu animal galopava numa planícia branca de neve, e vários animais grandes e de neve. Tudo neve; chegava a gelar-nos um sol de neve. Tentei falar, mas apenas pude grunhir esta pergunta:
-Onde estamos?
-Já passamos o Éden.
- Bem; paremos na tenda de Abraão.
-Mas se nós caminhamos para trás! Redargüiu motejando a minha cavalgadura.
Fiquei vexado e aturdido. A jornada entrou e parecer-me enfadonha e extravagante, o frio incômodo, a condução violenta, e o resultado impalpável. E depois - cogitações do enfermo - que chegássemos ao fim indicado, não era possível que os séculos, irritados com lhes devassem a
origem, me esmagassem entre as unhas, que deviam ser tão seculares como eles. Enquanto assim pensava, íamos devorando caminho, e a planície voava debaixo dos nossos pés, até que o animal estacou, e pude olhar mais tranqüilamente em torno de mim. Olhar somente; nada
vi, além da imensa brancura da neve, que desta vez invadira o próprio céu, até ali azul. Talvez, a espaços, me parecia uma ou outra planta, enorme, brutesca, meneando ao vento as suas largas folhas. O silêncio daquela região era igual ao do sepulcro: dissera-se que a vida das
cousas ficara estúpida diante do homem.
Caiu do ar? Destacou-se da terra? não sei; sei que um vulto imenso, uma figura de mulher me apareceu então, fitando-me uns olhos rutilantes como o sol. Tudo nessa figura tinha a vastidão das formas selváticas, e tudo escapava à compreensão do olhar humano, porque os contornos perdiam-se no ambiente, e o que parecia espesso era muita vez diáfano. Estupefato, não disse nada, não cheguei sequer a soltar um grito; mas, ao cabo de algum tempo, que foi breve, perguntei quem era e como se chamava: curiosidade de delírio.
-Chama-me Natureza ou Pandora; sou tua mãe e tua inimiga.
Ao ouvir esta última palavra, recuei um pouco, tomado de susto. A figura soltou uma gargalhada, que produziu em torno de nós o efeito de um tufão; as plantas torceram-se e um longo gemido quebrou a mudez das cousas externas.
-Não te assustes, disse ela, minha inimizade não mata; é sobretudo pela
vida que se afirma. Vives; não quero outro flagelo.
-Vivo? perguntei eu, enterrando as unhas nas mãos, como para
certificar-me da existência.
-Sim, verme, tu vives. Não receies perder andrajo que é teu orgulho; provarás ainda, por algumas horas, o pão da dor e o vinho da miséria. Vives: agora mesmo que ensandeceste, vives; e se a tua consciência reouver um instante de sagacidade, tu dirás que queres viver. Dizendo isto, a visão estendeu o braço, segurou-me pelos cabelos e levantou-me ao ar, como se fora uma pluma. Só então pude ver-lhe de perto o rosto, que era enorme. Nada mais quieto; nenhuma contorção violenta, nenhuma expressão de ódio ou ferocidade; a feição única, geral, completa, era a da impassibilidade egoísta, a da eterna surdez, a da vontade imóvel. Raivas, se as tinha, ficavam encerradas no coração. Ao mesmo tempo, nesse rosto de expressão glacial, havia um ar de juventude, mescla de força e viço, diante do qual me sentia eu o mais débil e decrépito dos seres.
Entendeste-me ? disse ela, no fim de algum tempo de mútua
contemplação.
-Não, respondi; nem quero entender-te; tu és absurda, tu és uma fábula. Estou sonhando, decerto, ou, se é verdade, que enlouqueci, tu não passas de uma concepção de alienado, isto é, uma cousa vã, que a razão ausente não pode reger nem palpar. Natureza tu? a Natureza que
eu conheço é só mãe e não inimiga; não faz da vida um flagelo, nem, como tu, traz esse rosto indiferente, como o sepulcro. E por que Pandora?
-Porque levo na minha bolsa os bens e os males, e o maior de todos, a esperança, consolação dos homens. Tremes?
- Sim; o teu olhar fascina-me.
- Creio; eu não sou somente a vida; sou também a morte, e tu estás prestes a devolver-me o que te emprestei. Grande lascivo, espera-te a voluptuosidade do nada.
Quando esta palavra ecoou, como um trovão, naquele imenso vale, afigurou-se-me que era o último som que chegava a meus ouvidos; pareceu-me sentir a decomposição súbita de mim mesmo. Então, encarei-a com olhos súplices, e pedi mais alguns anos.
-Pobre minuto! exclamou. Para que queres tu mais alguns instantes de vida? Para devorar e seres devorado depois? Não estás farto do espetáculo e da luta? Conheces de sobejo tudo o que eu te deparei menos torpe ou menos aflitivo: o alvor do dia. a melancolia da tarde, a quietação da noite, os aspectos da Terra, o sono, enfim, o maior benefício das minhas mãos. Que mais queres tu, sublime idiota?
-Viver somente, não te peço mais nada. Quem me pôs no coração este amor da vida, senão tu? e, se eu amo a vida, por que te hás de golpear a ti mesma, matando-me?
- Porque já não preciso de ti. Não importa ao tempo o minuto que passa, mas o minuto que vem. O minuto que vem é forte, jucundo supõe trazer em si a eternidade, e traz a morte, e perece como o outro, mas o tempo subsiste. Egoísmo, dizes tu? Sim, egoísmo, não tenho outra lei. Egoísmo, conservação. A onça mata o novilho porque o raciocínio da onça é que ela deve viver, e se o novilho é tenro tanto melhor: eis o estatuto universal. Sobe e olha.
Isto dizendo, arrebatou-me ao alto de uma montanha. Inclinei os olhos a uma das vertentes, e contemplei, durante um tempo largo, ao longe através de um nevoeiro, uma cousa única. Imagina tu leitor, uma redução dos séculos, e um desfilar de todos eles, as raças todas, todas
as paixões, o tumulto dos impérios, a guerra dos apetites e dos ódios, a destruição recíproca dos seres e das cousas. Tal era o espetáculo, acerbo e curioso espetáculo. A história do homem e da Terra tinha assim uma intensidade que lhe não podiam dar nem a imaginação nem a ciência, porque a ciência é mais lenta e a imaginação mais vaga, enquanto que o que eu ali via era a condensação viva de todos os tempos. Para descrevê-la seria preciso fixar o relâmpago. Os séculos desfilavam num turbilhão, e, não obstante, porque os olhos do delírio são outros, eu via tudo o que passava diante de mim,-flagelos e delícias, desde essa cousa que se chama glória até essa outra que se chama miséria, e via o amor multiplicando a miséria, e via a miséria agravando a debilidade. Aí vinham a cobiça que devora, a cólera que inflama, a inveja que baba, e a enxada e a pena, úmidas de suor, e a ambição, a fome, a vaidade, a melancolia, a riqueza, o amor, e todos agitavam o homem, como um chocalho, até destruí-lo, como um farrapo. Eram as formas várias de um mal, que ora mordia a víscera, ora mordia o pensamento, e passeava eternamente as suas vestes de arlequim, em derredor da espécie humana. A dor cedia alguma vez, mas cedia a indiferença, que era um sono sem sonhos, ou ao prazer, que era uma dor bastarda. Então o homem, flagelado e rebelde, corria diante da fatalidade das cousas, atrás de uma figura nebulosa e esquiva, feita de retalhos, um retalho de impalpável, outro de improvável, outro de invisível, cosidos todos a ponto precário, com a agulha da imaginação; e essa figura, - nada menos que a quimera da felicidade, - ou lhe fugia perpetuamente, ou deixava-se apanhar pela fralda, e o homem e cingia ao peito, e então ela ria, como um escárnio, e sumia-se, como uma ilusão.
Ao contemplar tanta calamidade, não pude reter um grito de angústia, que Natureza ou Pandora escutou sem protestar nem rir; e não sei por que lei de transtorno cerebral, fui eu que me pus a rir, - de um riso descompassado e idiota.
-Tens razão, disse eu, a cousa é divertida e vale a pena, - talvez monótona mas vale a pena. Quando Jó amaldiçoava o dia em que fora concebido, é porque lhe davam ganas de ver cá de cima O espetáculo.
Vamos lá, Pandora, abre o ventre, e digere-me; a cousa é divertida? mas digere-me.
A resposta foi compelir-me fortemente a olhar para baixo, e a ver os séculos que continuavam a passar, velozes e turbulentos, as gerações que se superpunham às gerações, umas tristes, como os Hebreus do cativeiro, outras alegres, como os devassos de Cômodo, e todas elas pontuais na sepultura. Quis fugir, mas uma força misteriosa me retinha os pés; então disse comigo: "Bem, os séculos vão passando, chegará o meu, e passará também, até o último, que me dará a decifração da eternidade." E fixei os olhos, e continuei a ver as idades que vinham chegando e passando, já então tranqüilo e resoluto, não sei até se alegre. Talvez alegre. Cada século trazia a sua porção de sombra e de luz, de apatia e de combate, de verdade e de erro e o seu cortejo de sistemas, de idéias novas, de novas ilusões; cada um deles rebentavam as verduras de uma primavera, e amareleciam depois, para remoçar mais tarde. Ao passo que a vida tinha assim uma regularidade de calendário, fazia-se a história e a civilização, e o homem, nu e desarmado, armava-se e vestia-se, construía o tugúrio e o palácio, a rude aldeia e Tebas de cem portas, criava a ciência, que perscruta, e a arte que enleva, fazia orador, mecânico, filósofo, corria a face do globo, descia ao ventre da Terra, subia à esfera das nuvens, colaborando assim na obra misteriosa, com que entretinha a necessidade da vida e a melancolia do desamparo. Meu olhar, enfarado e distraído, viu enfim chegar o século presente, e atrás deles os futuros. Aquele vinha ágil, destro, vibrante! cheio de si, um pouco difuso, audaz, sabedor, mas ao cabo tão miserável como os primeiros, e assim passou e assim passaram os outros com a mesma rapidez e igual monotonia. Redobrei de atenção; fitei a vistas ia enfim ver o último, - último!; mas então já a
rapidez da marcha era tal, que escapava a toda a compreensão; ao pé dela o relâmpago seria um século. Talvez por isso entraram os objetos a trocarem-se; uns cresceram, outros minguaram, outros perderam-se no ambiente, um nevoeiro cobriu tudo,- menos o hipopótamo que ali me
trouxera, e que aliás começou a diminuir, a diminuir a diminuir, até ficar do tamanho de um gato. Era efetivamente um gato. Encarei-o bem; era o meu gato Sultão, que brincava à porta da alcova, com uma bola de papel...
Machado de Assis, CAPÍTULO VII / O DELÍRIO das MEMORIAS POSTUMAS DE BRAS CUBAS
sábado, novembro 3
A Cidade, a maior ilusão !
Eça de Queiroz, As Cidades e as Serras
Escanifrado - magro, seco.
Unto - gordura, banha.
Cangalhas - óculos, em sentido figurado.
Chinós - Cabeleiras postiças, perucas.
Arrátel - peso antigo, equivalente a 459 gramas
Himineu - primitivamente este termo indicava um poesia ou hino nupcial, muito usado entre os gregos e os romanos; por extensão passou a signifcar núpcias, casamente e união.
Faunos - divindades campestres romanas; tinham corpo humano mas chifres e pés de bode.
Ninfas - divindades secundárias femininas representantes da força que preside à reprodução e a fecundidade das naturezas vegetal e animal; gozavam do privilégio da juventude eterna.
Sodoma - antiga cidade da palestina, que segundo o Antigo Testamento foi destruída pelo fogo do céu, por caus da depravação e imoralidade dos seus habitantes.
Lesbos - ilha grega, no mar Egeu, pátria de Safo, poetisa grega do século VI a.c., que teria sido sacerdotisa das práticas lesbianas.
Esgares - trajetos, caretas, macaquices.
Cabriolas - Cambalhotas.
Hestrião - literalmente: ator cômico, palhaço; figuradamente homem vil, charlatão.
sábado, outubro 27
O pensamento e a liberdade
David Hume, Investigação sobre o entendimento humano.
domingo, outubro 14
Exemplo de causa e consequencia
A Vingança de Gaia, James Lovelock
sábado, setembro 29
Mozart assassinado e a estranha máquina de entortar homens
Voltei para o meu carro e pensava: essa gente quase não sofre seu destino. E o que me atormenta aqui não é a caridade. Não se trata de se comover sobre uma ferida eternamente aberta. Os que a levam não a sentem. É alguma coisa como a espécie humana, e não com o indivíduo, que está ferida, que está lesada. Não creio na piedade. O que me atormenta é o ponto de vista do jardineiro. O que me atormenta não é essa miséria na qual, afinal de contas, a gente se acomoda, como no ócio. Gerações de orientais vivem na sujeira e gostam de viver assim.
O que me atormenta, as sopas populares não remedeiam. O que me atormenta não são essas faces escavadas nem essas feiúras. É o Mozart assassinado, um pouco, em cada um desses homens
Só o Espírito, soprando sobre a argila, pode criar o homem. "
Antoine de Saint Exupéry, Terra dos Homens
Absurdos pequenos domingos
"Não compreendo mais essas populações dos trens de subúrbio, esses homens que pensam que são homens e que entretanto estão reduzidos, por uma pressão que eles mesmos não sentem, como formigas, ao uso que deles se faz. Como enchem eles, quando estão livres, seus absurdos pequenos domingos?"
Antoine de Saint Exupéry, Terra dos Homens
segunda-feira, setembro 24
Vivendo ao acaso
“Como é estreito o cenário em que se representa a peça dos ódios, das amizades, das alegrias humanas! De onde foram tirar os homens esse gosto de eternidade, vivendo ao acaso, como vivem, sobre uma larva ainda morna, já ameaçados pelas neves ou pelas areias do futuro? Suas civilizações são enfeites bem frágeis: um vulcão as apaga, ou um mar novo, ou um vento de areia...”
Antoine Saint Exupéry, Terra dos Homens
domingo, setembro 23
Omnis festinatio ex parte diaboli est
É evidente que as reformas orientadas para frente, isto é, por novos métodos ou gadgets, trazem melhorias imediatas, mas logo se tornam problemáticas e ainda por cima custam muito caro . Não aumentam em nada o bem-estar, o contentamento, a felicidade em seu conjunto. Na maioria das vezes são suavizações passageiras da existência, como por exemplo, os processos de economizar tempo, que infelizmente só lhe precipita o ritimo, deixando-nos assim, cada vez, menos tempo. "Omnis festinatio ex parte diaboli est" (toda pressa vem do diabo), costumavam dizer os antigos mestres."
Carl Jung - Sonhos, Memórias e Reflexões
sábado, setembro 22
Melhor ser vil do que por vil ser tido....
Quando se acusa a quem não é de o ser;
E um justo prazer morre, envilecido,
Não por nós, mas por quem assim quer ver.
Por que um olhar adulterado iria
Louvar-me o sangue de impulsivo tom,
Ou se sou fraco, algum mais fraco espia,
Vir dar por mau o que eu pretendo bom?
Não, sou o que sou; quem achar iníquos
Os meus abusos, fala pelos seus:
Posso ser reto, já que são oblíquos,
Não vê a mente espúria os feitos meus;
A menos que a sentençca seja vera,
De que todos são maus e o mau impera."
Shakespeare, Soneto 121
segunda-feira, setembro 17
Na prisão
“ Minha vista, quer seja aguda, quer seja fraca, não vê senão a certa distância. Vivo e ajo neste espaço, essa linha do horizonte é meu próximo destino, grande ou pequeno ao qual não posso escapar “
Nietzsche, Aurora, Na prisão
domingo, setembro 16
Papo furado
Sobre falar merda, Harrey G Frankfurt
quarta-feira, setembro 12
Porque tudo que eu gosto é imoral, ilegal ou engorda?
“ O homem livre é imoral, porque em todas as coisas quer depender de si mesmo e não de uma tradição estabelecida: em todos os estados primitivos da humanidade, mal é sinônimo de individual, livre, arbitrário, inabitual, imprevisto e imprevisível”
Nietzsche, Aurora, Conceito da moralidade dos costumes
quinta-feira, setembro 6
O último dos réprobos
“Quem ousaria, portanto, lançar um olhar no inferno das angústias morais, as mais amargas e mais inúteis, onde provavelmente definharam os homens mais fecundos de todos os tempos! Quem ousaria escutar os suspiros dos solitários e dos transviados: ah! Dêem-me ao menos a loucura, poderes divinos! Dêem-se delírios e convulsões, horas de claridade e de trevas repentinas, aterrorizem-me com arrepios e ardores que jamais mortal algum experimentou, cerquem-me de ruídos e de fantasmas! Deixem-me uivar, gemer e rastejar como um animal: contanto que adquira a fé em mim mesmo! A dúvida me devora, matei a lei, sou o último dos réprobos.”
Nietzsche, Aurora, Significação da loucura na história da humanidade.
terça-feira, setembro 4
Girinos otimistas
“(...) Ah, essa boa gente tão zelosa e saudável sempre me dá a impressão daqueles girinos otimistas que, confinados em uma poça de água de chuva, agitam alegremente a cauda ao sol, sem pensar que no dia seguinte a água rasa secará”
Carl Jung, Memórias, Sonhos e Reflexões
terça-feira, agosto 28
terça-feira, agosto 14
Nossa importância ...
O mundo sem nós, Alan Weisman
O Homo Sapiens construindo o mundo...
O mundo sem nós, Alan Weisman
sexta-feira, agosto 3
Nesta terra que não é terra ...
“Nesta terra que não é terra, a visão estremece com a sucessão de cores, e a vestimenta onírica das pessoas parece especificamente destinada a desnortear o transeunte, com suas bizarras formas geométricas, pó-de-arroz e seios descobertos, penteados fantásticos e calçados incríveis. Provocam alucinadas emoções e sobressaltos em cada rua, acompanhados de repentinos ataques de ira, que parecem tão do agrado dos habitantes singulares desta cidade de outro mundo. Nesta terra que não é terra, a força das mulheres modifica o curso dos acontecimentos, impõe desvios repentinos na cansada razão masculina, confirma em minha mente uma sensação profunda, já experimentada várias vezes em outros lugares, quanto às virtudes superiores que elas possuem, fruto de recursos aos quais nos é negado o acesso.”
Q O Caçador de Hereges, Lutther Blissett
sexta-feira, julho 27
Apocalipse Now!
“Além daquele mar o Apocalipse* surge toda manhã, junto com o sol. Não olhe para trás, não permaneça prisioneiro da sua história.Tome o mar, corte as amarras que o pregam à terra, mantenha a mente na proa e zarpe. Zarpemos. Um mundo acaba, um outro começa, este é o Apocalipse e nós estamos no meio. “
*do Gr. apokálypsis, acção de descobrir, (fig.) revelação
Q: O caçador de Hereges, Lutter Blissett.
sexta-feira, julho 6
O Trabalho...
Q : Caçador de Hereges, Luther Blissett
sexta-feira, junho 22
A arma do gerreiro sem braços
O capitão índio era muito famoso por ter cumprido seu dever com distinção no combate à invasão pelo inimigo europeu. Um dia, os espanhóis conseguiram feri-lo e capturá-lo. Em seguida, cortaram-lhe as mãos com a intenção de incapacitá-lo para a luta. Ele resistiu. Arrancaram-lhe os braços. Depois soltaram-no , para que os outros viessem a que se expunham se não se submetessem. O índio voltou para casa, com um desejo mortal de vingança por seus ferimentos. Mesmo sem as mãos, não descansou nem um minuto. Passou a usar a língua para defender a liberdade de sua nação e continuou lutando como sempre.
No meio dos combates, ele ajudava a expulsar os espanhóis recitando palavras de estímulo, incitando seus irmãos a não recuar, a não deixar os outros avançarem, nem mesmo sobre os seus cadáveres e, se necessário, a botar fogo na mata. Para o índio-capitão sem mãos, lutavam para manter as leis e valores a que estavam acostumados, os hábitos cultivados, aprendidos e ensinados por seus antepassados.
Acusando o inimigo de covarde, demonstrava a crueldade a que ficariam expostos, caso se rendessem, mostrando seus braços decepados na metade. O índio levantava os toquinhos que lhe restavam nos ombros e apontava para o seu irmão mais próximo, de quem tinham cortado meio pé, para que nunca mais conseguisse se firmar no lombo de um cavalo.
Para ele o inimigo fazia o que queria, porque estava convencido do medo dos nativos. Se os índios pagassem com a mesma moeda, arrancando os olhos ou cortando as pernas dos soldados, o inimigo pensaria duas vezes antes de voltar a agir com tamanha desumanidade. O capitão-índio repetia que o medo é o melhor parceiro da covardia.
Assim, o índio sem mãos passou a liderar seus companheiros durante as batalhas. Encorajava-os a lutar pelas suas vidas, pernas e braços. Elogiava e enaltecia os que tombavam feridos. Dizia ser preferível morrer um homem livre do que levar uma vida de servidão indigna, dando todo o fruto do seu suor para enriquecer os nobres...
A Viagem do Pirata, E. San Martin, Relato de Richard Hawkins, corsário de Sua Majestade a Rainha da Inglaterra durante sua viagem a costa do Chilhe 1593/1594.
terça-feira, maio 22
CASANOVA 2
LAS MEMORIAS DE CASANOVA. Escritas entre 1790-1798
(Incluido sólo el Prefacio)
CASANOVA 1
LAS MEMORIAS DE CASANOVA. Escritas entre 1790-1798
(Incluido sólo el Prefacio)
terça-feira, maio 15
Renovatio !
Diálogos, Platão, O Banquete
sábado, abril 28
O que é relativo?
Thomas Nagel, Visão a Partir de Lugar Nenhum
segunda-feira, abril 16
Sobre o estranho e os monstros
Montaigne, Ensaios, A propósito de uma criança monstruosa
sábado, março 24
Do que só pode florescer quando é livre e espontâneo
Cuja a doutrina é: escolhe tua eleita,
Dentre a multidão, para amiga ou amante,
E todas as outras, mesmo a bondosa, e a brilhante,
Esquece de vez; seja êste o código, embora,
Da moral moderna e estrada a fora,
Dos pobres escravos, a passos tardos percorrida,
Que vão para casa, entre a massa falecida,
Pelos amplos caminhos do mundo, e desta forma azada,
Levando da corrente o amigo, ou talvez a inimiga malvada,
Cobrem a mais longa e penosa caminhada"
Percy Bysshe Shelley
Citação do livro de Bertrand Russell,
O Casamento e a Moral
domingo, março 18
Desejos e necessidades
Voltaire, Micromegas
terça-feira, março 13
Sem sentido
Então tudo começa
Meus olhos encontram o absurdo.
Pseudo urgências fazem alarde.
Levantei-me sem ter sentido.
O espelho ofereçe-me seu logro.
A consistência fluida da água corrente me escapa por entre os dedos.
Perdi no ralo da pia os propósitos, os motivos e os objetivos.
Abro a armário e escolho uma fantasia.
Mastigo mecanicamente algo com gosto de nada.
Saio sem ter sentido.
Acendem-se as luzes, abrem-se as cortinas do mundo.
Tudo se move mas não se desloca.
Sim ouço a música, mas onde está o maestro?
Todos tocam a esmo.
Busco meu lugar na orquestra, olho a partitura.
Não entendo,
Para mim parece sem sentido.
quarta-feira, março 7
Nem a ternura fulgaz desses belos olhos, nem os ruídos da rua, nem a claridade titubeante do amanhecer!
“Cada instante só surge para trazer os que se seguem. Apego-me a cada instante com todo o meu coração: sei que é único; insubstituível, e no entanto não faria um gesto para impedi-lo de se aniquilar. Esse último minuto que passo em Berlim, em Londres, nos braços de uma mulher que conheci na antevéspera, minuto que amo desesperadamente, vai terminar eu sei. Não tornarei a encontrar essa mulher, nem essa noite nunca mais. Debruço-me sobre cada segundo, tento esgotá-lo; nada se passa que eu não capte, não fixe para sempre em mim, nada, nem a ternura fulgaz desses belos olhos, nem os ruídos da rua, nem a claridade titubeante do amanhecer: e no entanto o minuto se esgota e não o retenho, gosto que passe”
A NÁUSEA
Jean Paul Sartre
sexta-feira, fevereiro 23
Sombras a beira do caminho...
sexta-feira, fevereiro 16
Lembranças do mar, do deserto e a eternidade...
Thomas Mann
A Montanha Mágica, pg729
terça-feira, janeiro 30
Meias na janela!
Excelente texto de uma amiga querida.
Dre, um beijo.
...Meias na janela!
Andressa Bello
Um dia cinza, mas não triste. Digamos que mais um dia para se pensar na vida - minha mãe dizia para eu pensar mais, antes de agir... Creio que eu não deveria. Quando penso demais, as bobeiras são menores que os arrependimentos! - fazer uma xícara bem açucarada de chocolate e embaçar com a fervura do leite a janela...
Lembrar das coisas mais idiotas que só o ser humano consegue fazer. Não, porque nós pobres e imploráveis bípedes somos capazes de fazer coisas imbecis até quando estamos dormindo, como o que, por exemplo??? Rolar e cair da cama, falar enquanto se dorme e o pior delas... Roncar!
Mas mesmo com as ações mais criticas, tentamos ser melhor... Comicamente "perfeitos". Sonhamos em ser, em ter e fazer tudo como um sonho... Ah bolinhas de sabão...! Mas pelo menos se chamar de virtuosos... E porque não??? Somos sim (e ponto).
Mas é tão bom sonhar acordado, assim a gente sente cheiro, gostos e ainda vê cores. Deseja ser hoje uma erva venenosa ou algodão doce na mão de uma criança.Ou quem sabe um pena para voar solta por aí ou uma na mão de alguém para fazer cócegas no pé de alguém. Na verdade não deixar de ser, fazer e ter desejos.
Entre um gole e outro, queimando o céu da boca e sentindo que o açúcar da bebida vai ficando mais acentuado, não perdemos os regalos da vida... Deixando o pensamento vagar no quase nada, o que eu acho impossível nunca se pensar nesse "nada”, fazendo projetos e planos - tudo como já havia ensinado minha mãe - vou pendurando minha meia na janela. Afinal, no fim do ano o tão esperado Papai Noel passará e deixará minhas dádivas de esperança para começar um outro ano sem habilidades raras de idiotice... (Ai! Lembrei que tenho que fazer as simpatias de virada de ano... Senão já era um Feliz Ano Novo...!).