" A natureza mortal procura, na medida do possível, ser eterna e imortal. E ela só o pode ser por êsse meio, a reprodução, pela qual sempre substitui o velho por outro novo; tanto é assim que, no termo viver quando aplicado a cada um dos sêres animados, está implícito que ele permanece o mesmo; por exemplo, diz-se que uma pessoa é a mesma da infância a velhice;embora jamais conserve em si os mesmos atributos, diz-se que é a mesma; todavia, com algumas perdas, está sempre se renovando, nos cabelos, na carne, nos ossos, no sangue, em todo seu corpo. Isso acontece não só segundo o corpo, mas também segundo a alma; os modos, o caráter, as opiniões, os desejos, os prazeres, as dores, os receios, nenhuma dessas particularidades é sempre a mesma em cada pessoa, mas umas nascem, outras perecem. Ainda muito mais desconcertante que isso tudo é que também os conhecimentos mudam; não só uns nascem outros perecem em nós e não somos jamais os mesmos nem em nossos conhecimentos, mas até cada um dos conhecimentos passa por igual mutação. (...) Desta maneira se preserva o que é mortal; não como o divino, pela absoluta constância do seu ser, mas pela substituição do que envelheceu e se foi, por outro novo, semelhante ao que havia."
Diálogos, Platão, O Banquete
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