quinta-feira, dezembro 3

A liberdade do sátiro !

“Atrás, o sátiro saltitando
Com o pé de cabra, perna esticando,
Fina e nervosa se mostrando
Com a camurça, no monte à solta,
Ele diverte-se, olhando em volta.
Ébrio de ar livre, de penha em penha,
Homem, mulher, menino desdenha
Que lá no fundo do vale morto
Julgam ser vida o seu conforto:
Mas só a ele, puro, intocado,
Pertence o mundo lá no alto.”


Goethe, Fausto










Tu tremes com medo do que nunca virá

Antes, em vôo ousado, a imaginação

Subia até aos céus, plena de alento:

Hoje basta um espaço para a ilusão

Se afundar nos abismos do tempo.

Logo o cuidado se aninha bem dentro

Do peito e traz secreto sofrimento;

Balança inquieto, estorva prazer e paz,

São sempre novas as máscaras que traz:

É casa e bens, mulher e filhos que tiverdes,

Água, fogo, punhal, veneno, eu sei lá;

E tu tremes com medo do que nunca virá,

E choras sem cessar aquilo que não perdes.”




Gothe, Fausto




domingo, setembro 27

Desse turbilhão tamanho!

"Se desse turbilhão tamanho
Me tirou som doce e antigo,
Com felizes eco de antanho
Crenças infantis iludindo,
Maldigo hoje tudo o que enreda
A alma em falsa sedução
E com lisonja a cega e encerra
Neste antro de desolação.
Maldita seja a douta opinião
Em que a si próprio o espírito se enleia!
Maldita da aparência a ilusão
Que todos os sentidos incendeia!
Maldito o que no sonho é hipocrisia
Da glória o logro, e dos nomes afamados!
Maldita a posse, que nos lisonjeia,
De mulher, filhos, charrua, criados!
Maldito seja Mamon e o ouro
Com que nos leva ações desvairadas,
E nos entrega ao ócio duradouro,
Ajeitando-nos bem as almofadas!
Maldita do amor a bem-aventurança!
Maldita da uva a suma essência!
Maldita a fé e maldita a esperança!
E maldita mil vezes a paciência!"

Fausto, Gothe

terça-feira, setembro 1

Putrefação que caminha

"Oh! a carne, estrume vivo e sedutor, putrefação que caminha, que pensa, que fala, olha e sorri, onde os alimentos fermentam, e que é rósea, bela, tentadora, mentirosa como a alma"

Guy de Maupassant, Um caso de divórcio

terça-feira, agosto 25

Os olhos abertos e cegos do homem,

 

“ Eu vivia como todo mundo, vendo a vida com os olhos abertos e cegos do homem, sem me espantar e sem compreender. Vivia como vivem os animais, como vivemos todos, cumprindo todas as funções da existência, observando e acreditando ver, acreditando saber, acreditando conhecer o que nos cerca, quando, um dia, me dei conta de que tudo é falso.”

 

Guy de  Maupassant, Carta de um louco

quinta-feira, agosto 6

A modelo

 

“ Quem então pode determinar de maneira precisa o que existe de aspereza e o que existe de real na atitude das mulheres?  Elas são sempre sinceras numa eterna mudança de impressões. São arrebatadas, criminosas, devotadas, admiráveis, e vis, para obedecer incompreensíveis emoções. Mentem sem parar, sem querer, sem entender, e têm, com isso, e apesar disso, uma franqueza absoluta de sensações e sentimentos que afirmam através de resoluções violentas, inesperadas, inexplicáveis, que desconcertam nossos raciocínios, nossos hábitos de ponderação e todos os códigos egoístas. O imprevisto e a brusquidão de suas determinações fazem com que permaneçam para nós como enigmas indecifráveis. Perguntamo-nos sempre: elas sinceras ou são falsas? ”

 

Guy de Maupassant, O Modelo

 

 

sexta-feira, julho 24

Quantas coisas poderíamos ainda descobrir ao nosso redor

“Tudo o que nos cerca, tudo o que vemos sem olhar, tudo o que roçamos sem conhecer, tudo o que tocamos sem apalpar, tudo o que encontramos sem distinguir, exerce sobre nós, sobre nossos órgãos e, através deles, sobre nossas idéias, sobre nosso próprio coração, efeitos rápidos, surpreendentes e inexplicáveis. Como é profundo esse mistério do Invisível! Não conseguimos sondá-lo com nossos sentidos miseráveis, com nossos olhos que não sabem perceber nem o muito pequeno nem o muito grande, nem o muito perto nem o muito longe, nem os habitantes de uma estrela, nem os habitantes de uma gota d'água... com nossos ouvidos que nos enganam, pois nos transmitem as vibrações do ar em notas sonoras, são fadas que fazem o milagre de transformar em ruído o movimento e por tal metamorfose fazem nascer a música, que torna cantante a agitação muda da natureza... com nosso olfato, mais fraco do que o do cão... com nosso paladar, que mal consegue determinar a idade de um vinho! Ah! Se tivéssemos outros órgãos que realizassem a nosso favor outros milagres, quantas coisas poderíamos ainda descobrir ao nosso redor!”

 

Guy de Maupassant,  O Horla

 

 

 

 

 

 

 

 

terça-feira, julho 21

Pelos mesmos hábitos, pelas mesmas crenças, pela mesma náusea

“ Já não posso nem chegar perto das pessoas que antes eu encontrava com prazer, de tanto que as conheço, de tanto que sei o que vão me dizer e o que vou responder, de tanto que já vi o molde de seus pensamentos invariáveis, o vinco de seus argumentos. Cada cérebro é como um circo onde um pobre cavalo circula eternamente encerrado. Não importam quais sejam nossos esforços, nossos desvios, nossos subterfúgios, o limite está sempre próximo e arredondado de maneira contínua, sem saídas imprevistas e sem portas para o desconhecido. É preciso dar voltas, dar voltas sempre, pelas mesmas idéias, pelas mesmas alegrias, pelas mesmas brincadeiras, pelos mesmos hábitos, pelas mesmas crenças, pela mesma náusea.”  

 

Guy de Maupassant, Suicídios

 

sexta-feira, julho 10

Horário Comercial

“Acidade estava povoada por sonolentos acordados que só escapavam realmente ao seu destino nos raros momentos em que, de noite, sua ferida aparentemente fechada se reabria bruscamente. E, despertados em sobressalto, apalpavam então, distraídos, os bordos irritados dessa ferida, redescobrindo num lampejo seu sofrimento, subitamente rejuvenescido e com ele, a imagem perturbada do seu amor. De manhã, voltavam ao flagelo, quer dizer, à rotina.”

 

 Albert Camus, da Obra : A Peste

 

 

sexta-feira, junho 26

Os flagelos

“Os flagelos, na verdade, são uma coisa comum, mas é difícil acreditar neles quando se abatem sobre nós. Houve no mundo igual número de pestes e de guerras. E contudo as pestes, como as guerras, encontram sempre as pessoas igualmente desprevenidas”

Albert Camus, Filósofo, da obra A Peste

quarta-feira, junho 3

Onde termina o telescópio começa o microscópio

 

“ Como podemos afirmar que a criação dos mundos não é determinada pela queda de grãos de areia? Quem conhece os fluxos e refluxos recíprocos do infinitamente grande e do infinitamente pequeno, a repercussão das causas nos precipícios do ser e as avalanches da criação? O menor inseto é importante, o pequeno é grande, o grande é pequeno; tudo está em equilíbrio na necessidade, assustadora visão para o espírito. Entre os seres e as coisas há relações miraculosas; nesse inesgotável conjunto, desde o sol até o pulgão, nada se despreza; uns tem necessidade dos outros. A luz não leva para o firmamento os perfumes terrestres  sem saber o que faz;  a noite distribui a essência das estrelas às flores adormecidas. Todos os pássaros que voam têm preso nos pés o fio do infinito. A germinação se compõe da eclosão de um meteoro e da bicada de uma andorinha quebrando um ovo, e põe lado a lado o nascimento de um verme da terra e o advento de Sócrates. Onde termina o telescópio  começa o microscópio. Qual dos dois tem vista mais longa? Escolham. Uma mancha de bolor é uma plêiade de flores; uma nebulosa é um formigueiro de estrelas. E há idêntica promiscuidade, mais inaudita ainda, entre as coisas da inteligência e os fatos da substância. Os elementos e os princípios se confundem, se combinam, se casam, multiplicando-se uns pelos outros, a ponto que o mundo material e o mundo moral terminem na mesma claridade. O fenômeno se renova infinitamente. Nas grandiosas permutações cósmicas, a vida universal vai e vem em quantidades desconhecidas, tudo rolando no invisível mistério dos eflúvios, usando de tudo, sem perder um único sonho de um sono que seja, semeando, fazendo da luz uma força e do pensamento um elemento, disseminada e indivisível, dissolvendo tudo, exceto esse ponto geométrico, o ego; reconduzindo todas as coisas à alma-átomo; fazendo tudo desabrochar em Deus; confundindo, desde a mais alta até a mais mesquinha, todas as atividades na obscuridade de um mecanismo vertiginoso; ligando o vôo de um inseto ao movimento da terra, subordinando, talvez, ainda que não fosse senão pela identidade da lei, a evolução do cometa no firmamento ao voltear de um infusório numa gota de água. Máquina feita de espírito. Engrenagem enorme cujo primeiro motor é o mosquito e cuja última roda é o zodíaco.”

 

Victor Hugo, Os Miseráveis, O idílio da Rua Plumet e a epopéia da Rua Saint- Denis.

terça-feira, maio 26

Cada um sonha com o desconhecido e o impossível segundo a própria natureza

 

 

“ Com efeito, se fosse possível aos nossos olhos de carne contemplar a consciência alheia, julgaríamos com mais segurança a personalidade de um homem mais pelo que sonha fazer do que pelo que realmente faz. O pensamento supõe vontade; o sonho não. O sonho, que é completamente espontâneo, conserva, mesmo quando irrealizável, o perfil de nossa espiritualidade; nada sai mas diretamente e mais sinceramente do fundo de nossa alma que as nossas aspirações irrefletidas e sem limites para os esplendores do destino. Nessas aspirações, muito mais que nas idéias coordenadas, refletidas, sensatas, pode encontrar-se o caráter de cada homem. Nossas quimeras são as que mais se assemelham a nós. Cada um sonha com o desconhecido e o impossível segundo a própria natureza. “

 

 

Victor Hugo, Os Miseráveis, livro quinto, Marius.

 

 

sábado, maio 23

O animal perverso por excelência

" O homem no fundo é um animal selvagem e terrível. Nós o conhecemos unicamente no estado subjugado e domesticado, denominado civilização (...)Porém, onde e quando a trava e a cadeia da ordem jurídica se rompem (...) o homem não deve crueldade e intransigência a nenhum tigre ou hiena (...) à inveja, egoísmo de nossa natureza aindase alia um estoque existente de ódio, ira, raiva emaldade reunidos, como o veneno no receptáculo do dente da cobra aguardando apenas a oportunidade para vir à tona (...) qual um demônio libertado a bramir sua fúria produzindo devastação."O ódio constitui de longe o prazer mais insistente; os homens amam às pressas, mas detestam longamente". (...) Gabineau, (...des raceshumaines), denominou o homem l'animal méchant par excellence (O animal perverso por excelência), o que desagrada as pessoas, porque se sentem atingidas; contudo ele tem razão, pois o homem é o único animal que incute dor a outro sem nenhum outro fim a não ser este mesmo. (...) nenhum animal maltrata apenas pormaltratar, mas o homem sim, e isto constitui o caráter demoníaco, muito mais grave do que o simplesmente animal. "

Arthur Schopenhauer, Sobre a Maldade, Parerga e Paralimpomena (p 195 a 197)

sábado, abril 18

O caos das quimeras

"A consciência é o caos das quimeras, das ambições, e das tentações;  a fornalha dos sonhos, o antro das idéias de que temos vergonha; é o pandemônio dos sofismas, campo de batalha das paixões. Experimente, em certas horas, penetrar através das faces lívidas de um ser humano que reflete, olhar em seu íntimo, observar sua alma e examinar sua escuridão. Ali, sob o aparente silêncio, há combate de gigantes, como em Homero, batalhas de dragões, e hidras e nuvens de fantasmas como em Milton, visões de espirais em Dante. Que coisa mais sombria é esse infinito que todo homem leva em si mesmo, pelo qual desesperadamente mede os desejos do seu cérebro e as ações de sua vida!" 

Victor Hugo, Os Miseráveis, Fantine, Livro sétimo

Sua quase semelhança com o merecimento engana muito os homens

"Ter êxito, eis o ensinamento destilado gota a gota pela corrupção que avança. Diga-se de passagem, não há nada mais odioso que o sucesso. Sua quase semelhança com o merecimento engana muito os homens. Para a multidão, êxito é o mesmo que superioridade. O sucesso, sósia do talento, tem um ingênuo que nele crê facilmente: a história. (...) Hoje em dia, uma filosofia quase oficial entrou em intimidade com a história, vestindo-lhe a libré  e fazendo-lhe o serviço de porteiro. Ser bem-sucedido: eis a teoria. Progresso supõe capacidade. Ganhar na loteria: eis o máximo da habilidade. Quem triunfa é bem quisto. Tudo está em nascer com uma boa estrela. Tenham sorte, o resto virá depois; sejam felizes, e o mundo tê-los-á como grandes. Fora cinco ou seis excessões notáveis que constituem o brilho de todo um século, a admiração contemporânea é simples miopia. O que é simplesmente dourado passa por ouro puro. Ser o primeiro a chegar não constitui honra, a não ser que se chegue a ser alguma coisa. É o vulgar e velho Narcizo adorando a própria imagem, aplaudindo a vulgaridade."

Victor Hugo, Os Miseráveis, Fantine, Livro primeiro

sexta-feira, abril 17

Caranguejos morais

“ Há almas que, a imitação dos caranguejos, andam para trás, sempre em direção às trevas, retrocedendo na vida à medida que esta avança, empregando a existência em aumentar a própria deformidade, sempre em novas venturas, impregnando-se mais e mais em sua crescente perversidade”

 

Victor Hugo, Os Miseráveis, Fantine, Livro Quarto

 

 

domingo, março 15

O poder da verdade

"Pois o poder da verdade é inacreditavelmente grande e de duração indizível. Encontramos seus frequentes vestígios em todos os dogmas, mesmos os mais absurdos e bizzarros, de diferentes épocas e países, muitas vezes até mesmo em companhia estranha, em mistura esquisita, no entanto reconhecível. Ela pode ser comparada a uma planta que germina sob um amontoado de pedras e, não obstante, emerge para a luz, desenvolvendo a si mesma por desvios e curvas, desfigurando-se, empalecida, atrofiada, mas alcançando a luz."

Arthur Schopenhauer, O Mundo como Vontade e Representação

sexta-feira, março 13

Expansão para um futuro indefinidamente aberto

“Todo sujeito coloca-se concretamente através de projetos como uma transcendência; só alcança sua liberdade pela sua constante superação em vista de outras liberdades; não há outra justificação da existência presente senão sua expansão para um futuro indefinidamente aberto.”

 

Simone Beuvoir, O segundo Sexo

 

 

 

quarta-feira, fevereiro 18

Do Arrependimento

“ Minhas ações são reguladas, e conformes com o que eu sou e com a minha condição. Não posso fazer mais; e nas coisas que não estão em nossas forças, não tem lugar o arrependimento, mas sim o pesar. Imagino Inúmeras naturezas mais ordenadas que a minha, e contudo não melhoro minhas faculdades: como nem o meu braço nem o meu espírito se tornam mais vigorosos por eu conceber outros tais que o sejam. Se o imaginar e o desejar um procedimento mais nobre que o nosso produzissem o arrependimento do nosso, teríamos que nos arrepender de nossas ações mais inocentes: porquanto julgamos, decerto, que a natureza mais excelente as teria praticado com maior perfeição e dignidade; e desejaríamos fazer outro tanto.”

Montaigne, Do Arrependimento

terça-feira, fevereiro 17

To live so sturdily

 

“I went to the woods because I wished to live deliberately, to front only the essential facts of life, and see if I could not learn what it had to teach, and not, when I came to die, discover that I had not lived. I did not wish to live what was not life, living is so dear; nor did I wish to practice resignation, unless it was quite necessary. I wanted to live deep and suck out all the marrow of life, to live so sturdily and Spartan”

 

Thoreau, Walden

 

 

 

To be awake enough ...

The millions are awake enough for physical labor; but only one in a million is awake enough for effective intellectual exertion, only one in a hundred millions to a poetic or divine life. To be awake is to be alive.”

Thoreau, Walden In the Woods

segunda-feira, fevereiro 9

As the sailor or the fugitive slave

“It is by a mathematical point only that we are wise, as the sailor or the fugitive slave keeps the polestar in his eye; but that is sufficient guidance for all our life. We may not arrive at our port within a calculable period, but we would preserve the true course. “

 

Thoureau, In the Woods

 

 

I preferred some things to others, and especially valued my freedom

“ As I preferred some things to others, and especially valued my freedom, as I could fare hard and yet succeed well, I did not wish to pend my time in earning rich carpets or other fine furniture, or delicate cookery, or a house in the Grecian or the Gothic style just yet. If there are any to whom it is no interruption to acquire these things, and who know how to use them when acquired, I relinquish to them the pursuit. Some are “industrious,” and appear to love labor for its own sake, or perhaps because it keeps them out of worse mischief; to such I have at present nothing to say.”

 

Thoureau, In the Woods

 

 

 

quarta-feira, janeiro 28

Os sofredores

“Os sofredores são todos horrivelmente dispostos e inventivos, em matéria de pretextos para seus afetos dolorosos; eles fruem a própria desconfiança, a cisma com baixezas e aparentes prejuízos, eles revolvem as vísceras de seu passado e seu presente, atrás de histórias escuras e questionáveis, em que possam regalar-se em uma suspeita torturante, e intoxicar-se do próprio veneno de maldade - eles rasgam as mais antigas feridas, eles sangram de cicatrizes há muito curadas, eles transformam em malfeitores o amigo, a mulher, o filho e quem mais lhes for próximo. "Eu sofro: disso alguém deve ser culpado" – assim pensa toda ovelha doente.”

Nietzsche, A Genealogia da Moral

A liberdade diante da opressão

“(...) A liberdade diante da opressão, do incômodo, da desordem, dos negócios, os deveres, dos cuidados; a lucidez de espírito; a dança, os saltos e o vôo em seus pensamentos; um ar puro, leve, claro, livre, seco, como ar do alto das montanhas que torne todo ser animal mais espiritual e que lhes dê asas; calma nos subterrâneos; todos os cães delicadamente amarrados com correntes; nada de latidos nem rancores de pêlo eriçado; nada de verme que rói o orgulho ferido; entranhas modestas e submissas, diligentes como um moinho, mas distantes; coração estranho, do além, futuro póstumo; “

Nietzsche, A Genealogia da Moral

O que é digno de amor ?

 

“Se continuarmos a amar sinceramente o que é digno de amor, e não desperdiçarmos nosso amor em coisas insignificantes, nulas e insípidas, obteremos pouco a pouco mais luz e nos tornaremos mais fortes.”

 

Van Gogh, Cartas a Theo

 

terça-feira, janeiro 6

Seu lugar no mundo

 

“ Nenhum homem está livre do medo se não ousa ver qual é o seu lugar no mundo; nenhum homem pode atingir a grandeza de que é capaz até que tenha se permitido ver sua pequenez.”

 

Bertrand Russel, Ensaios Céticos

 

Pequenas massas impuras de carbono e água

“ O universo é muito vasto, como revela a astronomia. Não podemos dizer o que existe além do que os telescópios mostram.  Mas sabemos que é de uma imensidão inimaginável. No mundo visível, a Via Láctea é um fragmento minúsculo;  e, nesse fragmento, o sistema solar é uma partícula infinitesimal, e, dessa partícula, nosso planeta é um ponto microscópico. Nesse ponto, pequenas massas impuras de carbono e água, de estrutura complexa, com algumas raras propriedades físicas e químicas, arrastam-se por alguns anos, até serem dissolvidas outra vez nos elementos de que são compostas. Elas dividem seu tempo entre o trabalho designado para adiar o momento da sua dissolução e a luta frenética para acelerar o de outras do mesmo tipo.  As convulsões naturais destroem periodicamente milhares ou milhões delas e a doença, devasta do mesmo modo prematuro, mais algumas. Esses eventos são considerados infortúnios; mas quando o homem tem êxito ao impor semelhante destruição  por seus próprios esforços, regozijam-se e agradecem a Deus. Na vida do sistema solar, o período no qual a existência do homem terá sido fisicamente possível é uma porção minúscula do todo; mas existe alguma razão para esperar que mesmo antes desse período terminar o homem tenha posto fim à sua existência por seus próprios meios de aniquilação mútua. Assim é a vida do homem vista de fora. “

 

Bertrand Russel, Ensaios Céticos