sexta-feira, julho 24

Quantas coisas poderíamos ainda descobrir ao nosso redor

“Tudo o que nos cerca, tudo o que vemos sem olhar, tudo o que roçamos sem conhecer, tudo o que tocamos sem apalpar, tudo o que encontramos sem distinguir, exerce sobre nós, sobre nossos órgãos e, através deles, sobre nossas idéias, sobre nosso próprio coração, efeitos rápidos, surpreendentes e inexplicáveis. Como é profundo esse mistério do Invisível! Não conseguimos sondá-lo com nossos sentidos miseráveis, com nossos olhos que não sabem perceber nem o muito pequeno nem o muito grande, nem o muito perto nem o muito longe, nem os habitantes de uma estrela, nem os habitantes de uma gota d'água... com nossos ouvidos que nos enganam, pois nos transmitem as vibrações do ar em notas sonoras, são fadas que fazem o milagre de transformar em ruído o movimento e por tal metamorfose fazem nascer a música, que torna cantante a agitação muda da natureza... com nosso olfato, mais fraco do que o do cão... com nosso paladar, que mal consegue determinar a idade de um vinho! Ah! Se tivéssemos outros órgãos que realizassem a nosso favor outros milagres, quantas coisas poderíamos ainda descobrir ao nosso redor!”

 

Guy de Maupassant,  O Horla

 

 

 

 

 

 

 

 

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