terça-feira, dezembro 26

Eu, o vento

Eu, o vento

Mário Nhardes

Que sou calmo e violento, sou vendaval e brisa que a mercê da vida, às vezes sou conforto, às vezes incômodo. Às vezes paz, às vezes caos.

Eu, o vento, que sou incolor e frio, sou calor e sangue, que a mercê da vida, às vezes sou dor, às vezes rotina. As vezes sou morte, às vezes vida.

Eu, o vento, que sou órfão e só, sou carinho e carente, que a mercê da vida, às vezes sou colheita, às vezes plantio. Às vezes sou notado, às vezes esquecido.

Eu, o vento, que sou força e anemia, sou opressor e vítima, que a mercê da vida, às vezes sou vento, simplesmente.

quarta-feira, dezembro 6

Mais de metade da riqueza mundial nas mãos de 2%

Nada de novo... Mas será que isso já não te incomoda?

Abraço,

Estudo do Instituto Mundial de Investigação indica que a riqueza está na América do Norte, Europa, Ásia e Pacífico.

De acordo com um estudo, realizado por um instituto de desenvolvimento das Nações Unidas (ONU) e divulgado esta quarta-feira, mais de metade da riqueza mundial, incluindo propriedades e activos financeiros, está nas mãos de apenas 2% dos adultos do planeta. Para além de os rendimentos globais estarem distribuídos de forma desigual, a distribuição da riqueza é ainda mais distorcida, indica o estudo do Instituto Mundial de Investigação sobre a Economia do Desenvolvimento, da Universidade das Nações Unidas.

«A riqueza está fortemente concentrada na América do Norte, na Europa e nos países de elevados rendimentos da Ásia e do Pacífico. Os habitantes desses países detêm juntos quase 90% do total da riqueza do planeta», revelou o estudo.

O instituto, com sede em Helsínquia, afirmou que o estudo era o primeiro com dimensão mundial sobre esta questão, para a qual há poucos dados disponíveis. «Calculamos que os 2% dos adultos mais ricos do mundo possuem mais da metade da riqueza global enquanto os 50% mais pobres detêm 1%», disse Anthony Shorrocks, director do instituto.

Shorrocks comparou o quadro a uma situação em que num grupo de 10 pessoas, uma teria 99 dólares, enquanto as restantes possuiriam apenas 1 dólar.

Fonte: TVI

segunda-feira, dezembro 4

ESPERAR ...AGUARDAR...

“ ...Aguardar significa adiantar-se, significa sentir o tempo e o presente não como uma dádiva, mas como um mero obstáculo, significa negar e aniquilar o seu valor intrínseco e saltá-los espiritualmente. Dizem que é enfadonho esperar. Mas ao mesmo tempo, e mais propriamente é divertido, porque assim devoramos quantidades de tempo sem as viver e explorar como tais. Poder-se-ia dizer que o homem que apenas espera se parece  com um comilão cujo o aparelho digestivo deixe de passar as massas de comida sem assimilar os valores nutritivos e proveitosos.”

THOMAS MANN , A MONTANHA MÁGICA

 

sexta-feira, novembro 10

Documentários / Indicação

Pessoal,

Acho que boa informação é sempre bem vinda. Principalmente quando oferece subsídios para aprimorarmos nossa visão e opinião sobre coisas relevantes que estão acontecendo a todo o momento a nossa volta, mas que, por conta da correria do dia-a-dia, nem sempre damos a devida atenção. Assisti na última semana a esses dois documentários e acredito que a informação, embora não nova para muitos, seja muito útil.

Que possamos fazer uso prático das informações apresentadas. Que possamos usá-las para melhorar nossa atitude e dar nossa pequena, porém fundamental, melhoria para qualidade do mundo em que vivemos.

Abraço,

The Corporation

Sinopse


The Corporation denuncia muitas irregularidades e apresenta diversas vitórias contra essa instituição que se diz invencível.

Cento e cinqüenta anos atrás, as corporações eram pequenas instituições de pouco valor. Hoje elas exercem uma forte influência no dia a dia de nossas vidas. Assim como o Comunismo, a Igreja e a Monarquia em outras épocas, a Corporação tornou-se uma instituição poderosa e capaz de influenciar a história através dos tempos. Neste complexo e divertido documentário, o diretor Mark Achbar e o escritor e roteirista Joel Bakan mostram as repercussões da hegemonia das corporações na sociedade e na vida das pessoas. Documentário inspirado no best-seller de Joel Bakan (
The Corporation: The Pathological Pursuit of Profit and Power) sobre os poderes das grandes corporações no mundo contemporâneo, que entrevistam presidentes de corporações como a Nike, Shell e IBM, além do Noam Chomsky, Milton Friedman e Michael Moore. Prêmio do público no Sundance Film Festival de 2004.

Uma verdade incoveniente

Sinopse


O ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore apresenta uma análise da questão do aquecimento global, mostrando os mitos e equívocos existentes em torno do tema e também possíveis saídas para que o planeta não passe por uma catástrofe climática nas próximas décadas.



sexta-feira, julho 7

Inconstância e Vaidade: por Gregório de Mattos



Bom fim de semana.
Abraço,


"Quando reconhecemos nosso lugar na imensidão de anos-luz e no transcorrer das eras, quando compreendemos a complexidade, a beleza e a sutileza da vida, então o sentimento sublime, misto de júbilo, humildade é certamente espiritual "

Carl Sagan


Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
 
Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.

Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.

Gregório de Mattos,
À instabilidade das coisas no mundo.

 


É a vaidade, Fábio, nesta vida                        

Rosa, que de manhã lisonjeada,                    

Púrpuras mil, com ambição dourada,            

Airosa rompe, arrasta presumida.                  

É planta, que de abril favorecida,                  

Por mares de soberba desatada,                    

Florida galeota empavesada,                         

Sulca ufana, navega destemida.                      

É nau enfim, que em breve ligeireza,              

Com presunção de Fênix generosa,                

Galhardias apresta, alentos preza:                

Mas ser planta, ser rosa, ser nau vistosa       

De que importa, se aguarda sem defesa        

Penha a nau, ferro a planta, tarde a rosa?   

Gregório Mattos, 

Dos Desenganos da Vida Humana


Gregório de Mattos

Gregório de Matos e Guerra nasceu, de família abastada, em Salvador, provavelmente em 1636. Em 1651 foi para Portugal, onde ingressou, no ano seguinte, na Universidade de Coimbra. Formando-se em 1661, casa-se com Micaela de Andrade e ocupa vários cargos na magistratura portuguesa. Enviúva em 1678 e retorna para o Brasil, abatido e desiludido, em 1681. Em Salvador, leva uma vida desregrada, improvisando poemas acompanhados de viola e satirizando os poderosos (Fonte:
www.sontetos.com.br )

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sexta-feira, junho 30

A adaga bruta e convulsiva da palavra

"Aproveite" seu fim de semana.
Abraços,



Busco a adaga bruta e convulsiva
da Palavra que, forjada ao ódio,
fere como faz a acha de ródio
e lacera como a voz lasciva.

Forjo, na fornalha do Intelecto,
da Verdade a aguda espada altiva,
e, cravando-a na matéria viva,
arranco-lhe o Mórbido e Imperfecto.

Da Razão a gálea dura e fúlvida
veste-me o suspiro, a dor e a dúvida,
e alumia a escuridão dos dias.

Vou ao pouco e pouco conhecendo,
os caminhos do Saber vivendo,
tornando às estóicas apatias!


Iudas Tolstovtsy


"Se toda a humanidade menos um, fosse de uma determinada opinião, e apenas uma pessoa fosse de opinião contrária, a humanidade não teria mais justificativas para silenciar aquela pessoa, do que ela, se tivesse o poder de silenciar a humanidade."



" Não existe nenhuma defesa para amparar as crenças sobre as quais temos mais certeza, exceto um convite permanente ao mundo inteiro para provar que são infundadas. Se o desafio não for aceito, ou for aceito e a tentativa falhar, ainda estaremos longe o bastante da certeza; mas fizemos o melhor que o estado atual da razão humana admite; não negligenciamos nada que pudesse dar chance à verdade de nos alcançar: se os ouvidos forem mantidos abertos podemos esperar que, se houver uma verdade melhor, ela será encontrada quando a mente humana estiver apta a recebê-la; e nesse ínterim podemos confiar ter atingido tal aproximação da verdade, da forma que é possível em nossos próprios dias. Esta é a quantidade de certeza capaz de ser obtida por um ser falível, e este é provavelmente o único modo de obtê-la. "

Stuart Mill, Ensaios sobre a Liberdade



" Moralmente, é tão condenável não querer saber se uma coisa é verdade ou não, desde que ela nos dê prazer, quanto não querer saber como conseguimos o dinheiro, desde que ele esteja na nossa mão"

Edmund Way, Circle of Seasons

sexta-feira, junho 23

VIVA O AMERICANO MÉDIO !

Aonde estamos e… para onde vamos?
Um ótimo fim de semana!
Abraços,




" Quando as estrelas começarem a cair
Me diz, me diz pra onde é que a gente vai fugir? "

Legião Urbana, Angra dos Reis



" Um americano médio, quando fizer
70 anos, já terá desperdiçado de sete
a dez anos de sua vida em frente a TV.
Só de comercial, será um ano inteirinho.
Os pais gastam 3 minutos por semana
Falando com os filhos. No mesmo período,
As crianças passam 1680 minutos em média,
Em frente a televisão. "



" Depois de casa e comida, o carro é o que mais consome o salário do americano médio. Durante toda sua vida, ele vai gastar entre 240 mil e 350 mil dólares com sua paixão. "


" Uma pesquisa da NBA (a liga que organiza o basquete) mostrou que 40 dos 66 atletas premiados no ano passado estão entre os mais agressivos. Para o americano médio, quanto mais violência em um jogo e comida na arquibancada, maior a diversão. "

" Os americanos são os maiores consumidores de cocaína e os EUA são os maiores produtores
De metanfetamina. "

" Em 1987, o número de shopping centers superou o número de High Schools (as escolas secundaristas) nos Estados Unidos. Hoje há cerca de 50 mil shoppings por lá. Para 93 % das adolescentes, ficar passeando no shopping é a atividade favorita. O americano médio passa 6 horas em média vendo lojas. Quando vai para casa atende cerca de 300 ligações de telemarketing por ano. O americano compra tanto, mas tanto, que vira e mexe faz um "garage sale" ( um tipo de feirão particular) para vender tudo que comprou no mês passado e abrir espaço para novas aquisições. "

" Para o americaninho médio, o palhaço do Mc Donald's é o personagem infantil mais famoso do mundo, logo depois de papai noel. Não é atoa que quando cresce, cada adulto consome 3 hambúrgeres e quatro pacotes de batata frita por semana. De sobremesa um sundae.
O americano médio consome 1 tonelada de sorvete durante a vida. "


" A cada dois anos, os Estados Unidos poderiam fazer uma fila de caminhões de lixo lotados daqui até a Lua. os americanos são somente 5% da população mundial, mas geram 30% de todo lixo do planeta. O lixo do americano médio equivale a de 3 japoneses, 6 mexicanos, 14 chineses, 38 indianos, 168 bengalis e 531 etíopes. Durante toda sua vida o americano médio vai jogar fora 600 vezes o seu peso. E do jeito que anda engordando... "


" Nos Estados Unidos existe uma arma para cada americano vivo"



Fonte: Revista AVENTURAS NA HISTÓRIA, Editora Abril, Edição Julho 2006.

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS


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quarta-feira, junho 14

Vamos celebrar !


Pessoal, bom feriado...e vamos celebrar!
Abraços

"Não há nesta vida nenhuma ação do homem que não seja o início de uma cadeia de conseqüências tão longa que nenhuma providência humana é excessivamente forte para dar ao homem uma idéia do final. Acontecimentos agradáveis e desagradáveis estão ligados nesta cadeia, de tal maneira que quem fizer alguma coisa para seu prazer terá que aceitar sofrer todas as dores a ele ligadas. Dores estas, que são as punições naturais daquelas ações que são o início de um mal maior que o bem. Daqui resulta que a intemperança é naturalmente castigada com doenças, a precipitação com desastres, a injustiça com a violência dos inimigos, o orgulho com a ruína e a covardia com a opressão"

Thomas Hobbes, Leviatã

Perfeição

Legião Urbana

Composição: Dado Villa-lobos, Marcelo Bonfá e Renato Russo

Vamos celebrar a estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja de assassinos
Covardes, estupradores e ladrões
Vamos celebrar a estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar nosso governo
E nosso Estado que não é nação
Celebrar a juventude sem escolas
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião
Vamos celebrar Eros e Thanatos
Persephone e Hades
Vamos celebrar nossa tristeza
Vamos celebrar nossa vaidade
Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
Os mortos por falta de hospitais
Vamos celebrar nossa justiça
A ganância e a difamação
Vamos celebrar os preconceitos
O voto dos analfabetos
Comemorar a água podre
E todos os impostos
Queimadas, mentiras e sequestros
Nosso castelo de cartas marcadas
O trabalho escravo
Nosso pequeno universo
Toda a hipocrisia e toda a afetação
Todo roubo e toda a indiferença
Vamos celebrar epidemias:
É a festa da torcida campeã
Vamos celebrar a fome
Não ter a quem ouvir
Não se ter a quem amar
Vamos alimentar o que é maldade
Vamos machucar um coração
Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado de absurdos gloriosos
Tudo que é gratuito e feio
Tudo o que é normal
Vamos cantar juntos o Hino Nacional
A lágrima é verdadeira
Vamos celebrar nossa saudade
E comemorar a nossa solidão
Vamos festejar a inveja
A intolerância e a incompreensão
Vamos festejar a violência
E esquecer da nossa gente
Que trabalhou honestamente a vida inteira
E agora não tem mais direito a nada
Vamos celebrar a aberração
De toda a nossa falta de bom senso
Nosso descaso por educação
Vamos celebrar o horror
De tudo isso
Com festa, velório e caixão
Está tudo morto e enterrado agora
Já que também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou esta canção
Venha, meu coração esta com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão (...)


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sexta-feira, junho 9

A GENTE SE ACOSTUMA


 
A gente se acostuma
Ao cheiro do esgoto
A gente se acostuma
Ao sangue na calçada
A gente se acostuma
Ao vômito na privada
A gente se acostuma
A um pedinte ignoto

A gente se acostuma
A assistir a miséria
A gente se acostuma
A copiar a matéria
A gente se acostuma
A repetir o velho refrão
A gente se acostuma
A só ver televisão

A gente se acostuma
A corrupção política
A gente se acostuma
A esquivar-se da crítica
A gente se acostuma
A fome letal da África
A gente se acostuma
Ao degelo na antártica
 
A gente se acostuma
A notícia da guerra
A gente se acostuma
A gaveta que emperra
A gente se acostuma
A notícia ruim do jornal
A gente se acostuma
A exagerar demais o sal

A gente se acostuma
A uma pimenta ardida
A gente se acostuma
Ao dedo na ferida
A gente se acostuma
A sofrimento calado
A gente se acostuma
Ao nosso grito abafado

A gente se acostuma
Mas não devia...

O MUNDO MUDOU !

Pessoal,

Hoje resolvi inovar com um texto "fora dos padrões" que costumo mandar… achei bom demais para dispensar.
Para aqueles que ainda tem concentração e paciência para ler um texto que contenha mais de 10 linhas espero que "aproveitem" bastante...

Desejo a todos um ótimo fim de semana…
Tudo de bom para vocês!
Abraço,


Perplexidade talvez seja a palavra que melhor define o sentimento da época atual. “Somos passageiros de uma nave no percurso das mudanças fundamentais que vêm ocorrendo na sociedade nas últimas décadas”, diz o psicanalista e médico psiquiatra Jorge Forbes. O que caracteriza esse processo, segundo afirma, é a comunicação planetária viabilizada pelo computador e por um acesso irrestrito ao saber. “Passamos da era moderna, dita industrial, para a pós-modernidade, a nova era globalizada”, analisa. “A sociedade, que se organizava de forma vertical, seguindo a hierarquia então vigente, passou a se pautar de maneira transversal, visando a uma multiplicidade de ideais.”

Ele ressalta que a identidade do homem é mutante e está atrelada ao relevo social de sua época. No mundo industrial, a estrutura era vertical: na família, o pai representava a tradição, apontava o caminho; na empresa, havia a figura forte do chefe, o funcionário permanecia muitos anos no emprego almejando alcançar o cargo de diretor; do ponto de vista da sociedade em geral, as pessoas se organizavam em torno dos símbolos pátrios, que davam a identidade àquele agrupamento.

Isso tudo ruiu com a globalização. O pátrio poder foi substituído pelo poder da família. Na empresa, os hábitos mudaram, o funcionário passou a ser valorizado não pelo tempo de permanência no emprego, mas pela pluralidade de sua experiência, pela ousadia, flexibilidade e criatividade. Quanto aos símbolos pátrios, o psicanalista menciona os mercados comuns para ilustrar as transformações ocorridas países de forte nacionalismo como a França abriram mão de sua moeda (o franco, que levava o seu nome) para adotar a moeda de um continente, o euro, priorizando a quebra de fronteiras.

Não é difícil lembrar como os critérios anteriores eram diferentes. Pouco tempo atrás, como salienta Forbes, as pessoas tinham um programa de vida pré-determinado. Era esperado, por exemplo, que a mulher se casasse entre os 19 e 23 anos e o homem, entre os 24 e 27. A mulher deveria ter filhos (de dois a quatro) até os 30 anos, pois acima disso o parto era considerado de risco e a mulher, “primigesta idosa”. O homem parava de trabalhar entre os 50 e 60 anos, quando começava a fase de curtir os netos e, aos 70, já era época de morrer. Com os avanços da medicina e de outras áreas de pesquisas, entretanto, a expectativa de vida aumentou substancialmente. O indivíduo não vai mais se aposentar; vai ter outro tipo de trabalho. Aliás, acabou também aquela concepção de que as profissões legítimas se restringiam a medicina, engenharia, direito ou ser funcionário do Banco do Brasil.

Diante dessa quebra de padrões e total relativização de valores, as pessoas passam a ter total poder de decisão sobre suas vidas. O psicanalista explica: “Antes, as marcações padronizadas determinavam como o homem deveria ser e agir. Havia os acomodados, favoráveis aos padrões, e os rebeldes, que combatiam essas regras. De repente, você tira tudo isso. Num primeiro momento, a sensação é de alívio, de felicidade. Essa alegria frente à liberdade, porém, dura pouco, pois traz consigo a angústia de ter de escolher em meio a múltiplas opções, sabendo que não há possibilidade de gozá-las todas”.

Culpar a globalização pelo estresse que essa situação gera é tão tolo, no seu entender, quanto atribuir o fato de alguém ser gordo à variedade de iguarias que os restaurantes de bufê oferecem. “As pessoas estão estressadas não por terem várias opções, mas por serem covardes no ato de escolher. Entre dez coisas, quando você escolhe uma, a única certeza é a de que você perdeu nove. A ‘uma’ que você escolheu é uma aposta. Como diz Etienne de La Boétie no próprio título do Discurso da servidão voluntária, ou Pascal, ao afirmar que se apavora com o silêncio desse universo infinito, com a não resposta sobre o que ele deve fazer. O homem da globalização se angustia, se sente perdido, sem norte, desbussolado. É preciso entender, entretanto, que o ‘mundo cardápio’ acabou. Hoje o indivíduo é responsável pelas próprias resoluções.”

Discípulo e um dos principais introdutores do pensamento de Lacan no Brasil, Jorge Forbes é autor, entre outros livros, de Você quer o que deseja? e co-autor de A invenção do futuro, no qual são pensados modos de viver nessa nova era de quebra dos ideais. Ele se inclui entre os autores que pesquisam soluções para os problemas recentes, para que o homem não fuja da liberdade obtida, mas avance e aprenda a usufruí-la, buscando a criatividade, inventando novos caminhos. E lamenta os movimentos de recuo dos que se agarram aos padrões morais dados pelas neo-religiões e pelos livros de auto-ajuda, que acabam adormecendo a inteligência e diminuindo a percepção do mundo, e aos dogmas cientificistas, que determinam uma maneira de ser em nome de uma pseudociência.

Em contrapartida, o psicanalista constata o crescimento da boa produção literária, aquela que leva o indivíduo a ter dúvidas, a se questionar, ver novas formas de ser, abrir a cabeça. Um gênero interessante, a seu ver, que vem ganhando força, são as biografias, que mostram as especificidades da vida de cada um, não para que o leitor as imite, mas para que conheça a forma como aquelas pessoas realizaram seus sonhos, como assumiram sua singularidade.

O mundo está vivendo um novo renascimento”, afirma. “As palavras de ordem agora são invenção e responsabilidade. Há duas opções: abrir mão da singularidade e tornar-se um genérico, ou ser criativo, responsabilizando-se pelas próprias escolhas, que serão feitas não mais a partir de necessidades e sim da vontade de cada um. As pessoas terão de inventar uma solução a partir do seu desejo, inscrevê-la, patenteá-la. A cultura, que antes era um entretenimento para as horas de lazer, algo para descansar a cabeça, hoje passa a ser o cimento social. E o passageiro desta época não precisa invejar nenhum outro de tempos anteriores, porque ele tem uma chance fantástica de inventar formas de vida diferentes, de vivenciar o renascimento das artes, da cultura, do cinema, da literatura. A cultura é uma expressão do espírito, do novo, da surpresa, do diverso, da contestação; nesse contexto não padronizado, ela adquire cada vez maior peso e significado.”

Numa análise geral do quadro contemporâneo, Forbes destaca as transformações na área da educação, em que os alunos sentem total estranheza e distanciamento em relação aos valores típicos da época anterior. A tônica não é mais aprender a pesquisar, mas aprender a inventar. Ao mesmo tempo, chama a atenção para alguns fenômenos sociais de ordenação entre os jovens, como os esportes radicais, nos quais eles buscam testar os limites do corpo, e a música eletrônica, que simboliza os monólogos articulados, ou seja, as pessoas estão juntas sem necessidade de se compreender. Outra mudança importante: as empresas deixaram de ser estáticas para atuar de forma interativa, enfatizando não mais as tarefas repetitivas, mas a expressão dos talentos, e criando mecanismos para que cada um se responsabilize frente ao desempenho geral das atividades.

Finalmente, ele diz que o consumo está se tornando mais consciente, menos de impulso, e que o amor também será mais autêntico. “Estamos na época do amor responsável. Se alguém está com o outro é porque quer, não porque as regras o levaram a isso. A família terá uma função primordial, não como padronizadora de comportamento, mas como base afetiva do gostar independentemente do jeito que o outro seja. Como a globalização abriga uma multiplicidade de singularidades, as pessoas vão aprender a gostar das diferenças e, havendo maior participação no vínculo social, maior possibilidade criativa, poderão até se sentir felizes.”

Fonte: http://www2.livrariacultura.com.br/culturanews/n144/edicao/htm/mat_01.htm

sexta-feira, junho 2

Apologia à filosofia

Desejo a você um ótimo fim de semana!
 

"Veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto:  que as pessoas não estão sempre iguais,

ainda não foram terminadas; mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam.

Verdade maior. É o que a vida me ensinou…"

 Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas



"É estranho que em nosso tempo a filosofia não seja, até para gente inteligente, mais do que um nome vão e fantástico, sem utilidade nem valor, na teoria como na prática. Creio que isso se deve aos raciocínios capciosos e embrulhados com que lhe atopetaram o caminho. Faz-se muito mal em a pintar como inacessível aos jovens, e em lhes emprestar um fisionomia severa, carrancuda e temível. Quem lhe pôs tal máscara falsa, lívida, hedionda? Pois não há nada mais alegre, mais vivo e diria quase mais divertido. Tem ar de festa e folguedo. Não habita onde haja caras tristes e enrugadas."



"A alma em que se aloja a filosofia faz com que o corpo participe de sua saúde. Leva ao exterior o brilho do seu repouso e de sua serenidade; modela o aspecto do corpo e o reveste de graciosa segurança, dá-lhe um aspecto ativo e alegre, um ar de satisfação e bonomia. (...) O ofício da filosofia é serenar as tempestades da alma e ensinar a rir da fome e da febre, não mediante um epiciclo imaginário qualquer, mas por meio de razões naturais e sólidas. Tem por fim a virtude, a qual não está colocada no cimo de algum monte alcantilado, abrupto e inacessível. Os que dela se aproximam afirmam-na, ao contrário, alojada em bela planície, fértil e florida, de onde se descortinam todas as coisas. Pode-se ir lá em se conhecendo o local, por caminhos ensombrados, cobertos de relva e suavemente floridos, sem esforço e por uma subida fácil e lisa como o da abóbada celeste. "

Montaigne, Ensaios,  Da Educação das Crianças

sexta-feira, maio 26

Só a bailarina que não tem ...


Se todo mundo tem…então porquê só reparamos nos dos outros?

Bom final de semana!

Procurando bem
Todo mundo tem pereba
Marca de bexiga ou vacina
E tem piriri, tem lombriga, tem ameba
Só a bailarina que não tem
E não tem coceira
Berruga nem frieira
Nem falta de maneira
Ela não tem


Futucando bem
Todo mundo tem piolho
Ou tem cheiro de creolina
Todo mundo tem
um irmão meio zarolho
Só a bailarina que não tem
Nem unha encardida
Nem dente com comida
Nem casca de ferida
Ela não tem



Não livra ninguém
Todo mundo tem remela
Quando acorda às seis da matina
Teve escarlatina
Ou tem febre amarela
Só a bailarina que não tem



Medo de subir, gente
Medo de cair, gente
Medo de vertigem
Quem não tem



Confessando bem
Todo mundo faz pecado
Logo assim que a missa termina
Todo mundo tem um primeiro namorado
Só a bailarina que não tem


Sujo atrás da orelha
Bigode de groselha
Calcinha um pouco velha
Ela não tem



O padre também
Pode até ficar vermelho
Se o vento levanta a batina
Reparando bem, todo mundo tem pentelho
Só a bailarina que não tem



Sala sem mobília
Goteira na vasilha
Problema na família
Quem não tem
Procurando bem
Todo mundo tem...

Ciranda Da Bailarina

Composição: Chico Buarque e Edu Lobo

sexta-feira, maio 19

Leviatã


 " O que imaginarmos será finito. Portanto, não existe qualquer idéia ou concepção de algo que possamos denominar infinito. Nenhum homem pode ter em seu espírito uma imagem de magnitude infinita, nem conceber uma velocidade infinita, um tempo infinito, ou uma força infinita ou um poder infinito. Quando dizemos que alguma coisa é infinita, queremos apenas dizer que não somos capazes de conceber os limites e fronteiras da coisa designada, não tendo concepção da coisa, mas da nossa própria incapacidade. O nome de Deus é usado, não para nos fazer concebê-lo pois Ele é incompreensível e a sua grandeza e poder são inconcebíveis, mas para que o possamos venerar."

Leviatã, Thomas Hobbes


Jó Capítulo : 41

1 Poderás tirar com anzol o leviatã, ou apertar-lhe a língua com uma corda?

2 Poderás meter-lhe uma corda de junco no nariz, ou com um gancho furar a sua queixada?

3 Porventura te fará muitas súplicas, ou brandamente te falará?

4 Fará ele aliança contigo, ou o tomarás tu por servo para sempre?

5 Brincarás com ele, como se fora um pássaro, ou o prenderás para tuas meninas?

6 Farão os sócios de pesca tráfico dele, ou o dividirão entre os negociantes?

7 Poderás encher-lhe a pele de arpões, ou a cabeça de fisgas?

8 Põe a tua mão sobre ele; lembra-te da peleja; nunca mais o farás!

9 Eis que é vã a esperança de apanhá-lo; pois não será um homem derrubado só ao vê-lo?

10 Ninguém há tão ousado, que se atreva a despertá-lo; quem, pois, é aquele que pode erguer-se diante de mim?

11 Quem primeiro me deu a mim, para que eu haja de retribuir-lhe? Pois tudo quanto existe debaixo de todo céu é meu.



 " Servirá a grandeza de Deus deixar o mundo que Ele criou em meio a tão universal desordem? Ver o perverso quase sempre prevalecer sobre o justo; o usurpador destronar o inocente; o pai tornar-se vítima da ambição de um filho desnaturado; o marido expirar sob os golpes de uma esposa bárbara e infiel? Do alto de sua grandeza, deveria Deus contemplar esses melancólicos eventos como uma fantástica diversão, sem participar deles? Por ser grande, Ele deveria ser fraco, ou injusto, ou bárbaro? Porque os homens são pequenos, dever-se-ia, permitir-lhes  ser dissolutos sem punição, ou virtuosos sem recompensa? Ah, Deus! Se isso é uma característica do Vosso supremo ser, se sois vós a quem adoramos por tão terríveis idéias, já não Vos posso reconhecer como meu pai, meu protetor, conforto da minha tristeza, amparo de minha fraqueza, recompensa da minha felicidade. Não seríes mais do que um tirano indolente e fantástico, que sacrifica os homens à sua vaidade insolente, e que os tirou do nada apenas para fazê-los servir de pilhéria do seu ócio e aos seus caprichos"

Teoria dos Sentimentos Morais, Adam Smith




quinta-feira, maio 18

FW: No caminho com Maiacóvski

O texto a seguir, me foi repassado por um grande amigo, a autoria é desconhecida.
Abraços
 
No caminho, com Maiacóvski

Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiacóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
 o coração grita - MENTIRA !



sexta-feira, maio 12

Jogo de cabra-cega pelas costas das coisas

Olhe as coisas ao seu redor... você tem certeza?
Ótimo fim de semana!
Abraços,

 
" No homem a arte da simulação atinge seu auge: aqui decepção, bajulação, mentira e trapaça, falar pelas costas, pose, viver com esplendor emprestado, ser mascarado, o disfarce da convenção, desempenhar um papel diante dos outros e de si mesmo - em suma, o constante alvoroço em torno da chama única da vaidade é de tal forma a regra e a lei, que quase nada é mais incompreensível do que uma honesta e pura ânsia pela verdade ter surgido entre os homens. Eles são profundamente imersos em ilusões e imagens oníricas; seus olhos só deslizam sobre a superfície das coisas e vêem "formas"; seus sentimentos em ponto algum levam à verdade, mas se contentam com a recepção de estímulos, jogando, por assim dizer, um jogo de cabra-cega pelas costas das coisas."

Sobre verdades e mentiras em um senso não moral, Friedrich Nietzche





"A afirmação de que os sentidos do homem representam a medida das coisas é falsa. Ao contrário, todas as percepções, tanto sensoriais quanto mentais, são relativas ao homem, não ao universo. A compreensão humana é como um espelho ondulado recebendo os raios das coisas e mesclando sua própria natureza com a natureza das coisas, que por conseguinte as distorce e as corrompe."

O Novo Organon, Francis Bacon

sexta-feira, maio 5

A máquina do mundo


Será  que estamos no lugar certo, na hora certa, com as pessoas certas fazendo e sofrendo o que nos cabe?
Bom final de semana!
Abraços.


 

"Se fossem retiradas da vida dos homens a pressão

 da necessidade, dificuldade, contrariedade e frustração,

a petulância destes cresceria até as manifestações de

 loucura e delírio. Todos necessitam  sempre de uma

 certa dose de preocupação, de dor, ou necessidade,

como navio precisa de lastro para navegar com firmeza "

Arthur Schopenhauer, Do Sofrimento do Mundo





" Mesmo as menores partes coexistentes do universo, estão perfeitamente adaptadas umas às outras, e todas contribuem para compor um sistema imenso e coerente; do mesmo modo, todos, mesmo aparentemente os mais insignificantes dos sucessivos eventos que resultam um do outro, são partes, e partes necessárias, da grande cadeia de causas e efeitos que não teve começo, e que não terá fim; e, como todos resultam necessariamente da disposição e trama originais do todo, são todos essencialmente necessários, não apenas para a prosperidade deste todo, mas para sua continuação e conservação. Quem não abraça cordialmente tudo o que lhe sucede, quem lamenta isso lhe ter sucedido, quem almeja que aquilo não tivesse acontecido, deseja, na medida de suas forças, parar o movimento do universo, romper a grande cadeia de sucessão ( por cujo o progresso unicamente tal sistema pode continuar e conservar-se), e deseja, por causa de um pequeno conforto privado, perturbar e decompor toda a máquina do mundo."

Texto atribuído ao imperador romano Marco Aurelio





sexta-feira, abril 28

A árvore da vida

Bom feriado !
Abraços,



" Quando a hora dobra em triste e tardo toque

E em noite horrenda vejo escoar-se o dia,

Quando vejo esvair-se a violeta, o que

A prata a preta têmpora assedia;

Quando vejo sem folha o tronco antigo

Que o rebanho estendia a sombra franca

E em feixe atado agora o verde trigo

Seguir o carro, a barba hirsuta e branca;

Sobre tua beleza então questiono

Que há de sofrer do Tempo a dura prova,

Pois graças do mundo em abandono

Morrem ao ver nascendo a graça nova.

Contra foice do Tempo é vão combate,

Salvo a prole, que o enfrenta se te abate"

Shakespeare, Sonetos



" Lancemos o olhar bem adiante para o futuro, e procuremos nos representar às gerações vindouras, com seus milhões de indivíduos, de costumes e modos tão estranhos para nós: uma questão, então, nos surge : mas de onde virão todos esses homens? Onde estão agora? Onde é o vasto ventre do nada prenhe de mundos, que contém agora as raças que virão? A verdadeira resposta, sorrindode tal interrogação, seria: e onde deveriam estar senão lá, onde sempreo real foi e será, no presente e no seu conteúdo, por conseguinte em ti, interrogador iludido pela aparência das coisas, que se assemelha, nessedesconhecer do seu próprio ser, à folha da árvore, que, no outono, murchando e na iminência de cair, chora seu extinguir e não quer ser consolada com aperspectiva do fresco e novo verde que revestirá a árvore na primavera e lamenta-se: Não sou isso! Essas folhas são totalmente outras!

Ó folha insensata!

Para onde pretendes ir?

E de onde devem vir as outras?

Onde é o nada, cujo o abismo temes? "


" Conhece teu próprio ser, aquele que justamente que em ti é tão sedento de existência , conhece-o na força íntima, misteriosa, na força ativa da árvore, que sempre uma e a mesma, em todas as gerações de folhas, se mantém ao abrigo do nascer e morrer. E então Qualis foliorum generatio, talis et hominum. (*) "

(*) Tal como as folhas nas árvores, assim são as raças dos homens


Arthur Schopenhauer, Da Morte




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quinta-feira, abril 20

Como Tirar Proveito dos Seus Inimigos

Todas as coisas, mesmo as que parecem inicialmente totalmente ruins, tem seu lado bom.
Abraço


" A água do mar é pouco potável e tem um gosto ruim; mas sustenta os peixes, favorece os trajetos em todos os sentidos, é uma via de acesso e um veículo para aqueles que a utilizam. O fogo queima quem o toca; mas fornece luz e calor, serve a uma infinidade de usos para aqueles que sabem utilizá-lo. Examina igualmente teu inimigo: esta criatura, de um outro lado, nociva e intratável, não dá, de alguma maneira, ensejo de ser útil? Não pode prestar-se a algum uso particular? "



" Visto que hoje a amizade só eleva fracamente voz, quando se trata de falar com franqueza, e que, verbosa na lisonja, é silenciosa os conselhos, é da boca de nossos inimigos que, às vezes, é preciso ouvir a verdade"



" Da mesma maneira que os abutres são atraídos pelo odor das caças pútridas, mas não sentem o odor dos corpos sãos e vigorosos, assim, também as partes de nossa vida que são doentias, fracas, afetadas atraem nosso inimigo; de fato, os que nos demonstram aversão investem contra elas a passos largos, tomando-as de assalto e despedaçam-nas. Isso obriga a viver com cautela, a prestar atenção em si, a nada fazer nem nada dizer estouvada e irrefletidamente."


PLUTARCO, Como Tirar Proveito dos Seus Inimigos

quarta-feira, abril 12

A vida verdadeira

 
Caros,
Como amanhã será meio expediente por aqui, vou me ausentar. Não poderia deixar de dar um "abraço virtual" em todos vocês por ocasião do feriado. Que este, se encha do seu verdadeiro sentido, de acordo com a crença de cada um, e que todos possam desfrutá-lo plenamente, digo, além dos ovos e bombons de chocolate.

Abraços,



" Pois aqui está a minha vida.

Pronta para ser usada.

Vida que não guarda

nem se esquiva, assustada.

Vida sempre a serviço da vida.

Para servir ao que vale

a pena e o preço do amor

Ainda que o gesto me doa,

não encolho a mão:

avanço

levando um ramo de sol.

Mesmo enrolada de pó,

dentro da noite mais fria,

a vida que vai comigo

é fogo:

está sempre acesa.  "

A vida verdadeira, Thiago de Melo

terça-feira, abril 11

Ontem eu olhei pela janela do meu apartamento


Ontem eu olhei pela janela do meu apartamento.
Pela janela do meu apartamento eu vi casamentos falidos
pessoas escravizadas pela culpa, domadas pelo hábito tirano
e fui testemunha secreta de suas juras e votos de felicidade eterna
Olhei pela janela e vi a solidão de um quarto e sala
Ouvi o choro dos desesperados, senti o desamparo daqueles
que foram abandonados à sua própria sorte e então chorei com eles.
Mas, pela janela do meu apartamento, também ouvi o grito de gol a notícia do telejornal, o último capítulo da novela e quando assisti a morte da consciência pude acompanhar a multidão que fugia
à realidade para encontrar asilo no oasis da alienação.
De lá, da janela do meu apartamento
Eu eu vi uma criança conectada à Internet
Ouvi um copo se quebrando, e uma panela batendo
Havia também o som de um tiro que vinha de não sei onde.
Quando senti o cheiro da comida sendo requentada
Senti fome
Quando ouvi o brindar dos copos
Senti sede
Quando ouvi os gemidos da vizinha e o apelo da ânsia da vida por si mesmo
Senti desejo
Ontem eu olhei pela janela do meu apartamento
Só para ver as estrelas
Mas eu vi a você
E vi a mim.

sexta-feira, abril 7

Sobre selvageria, civilização, tormentos e liberdade

Antes que seja tarde…
Bom fim de semana!



" Eu me perdi, na selva de pedra"

Titãs, Homem primata

" Homem, verás que são frutos próprios do Homem

A mágoa que o atormenta e os males que o consomem; "

Lysis, discípulo de Pitágoras



" Como um corcel indômito, que eriça as crinas, escarva o chão, e se debate impetuosamente à simples aproximação do freio ao passo que um cavalo domesticado sofre pacientemente o chicote e a espora, o homem "selvagem" não se dobra ao jugo que o homem civilizado suporta sem murmurar, prefere a mais tempestuosa liberdade a uma submissão tranqüila. "


" Quando os vejo (os selvagens) sacrificar os prazeres do repouso, a riqueza, o poder e a própria vida à conservação do único bem tão desdenhado por aqueles (civilizados) que o perderam ; quando vejo animais nascidos livres, e abominando o cativeiro, quebrarem a cabeça contra as grades da prisão; quando vejo multidões de "selvagens" completamente nus desprezarem as voluptuosidades, e encarar a fome, o fogo, o ferro e a morte, para não conservar senão sua independência, sinto que não compete a escravos raciocinar sobre a liberdade "


" O homem selvagem e o homem civilizado diferem de tal modo no fundo do coração e nas inclinações, que o que faz a felicidade suprema de um, reduziria o outro ao desespero. O primeiro só respira repouso e liberdade; só quer viver e desfrutar ócio. Ao contrário, o cidadão, civilizado, sempre ativo, cansa-se, agita-se, atormenta-se sem cessar para buscar ocupações ainda mais laboriosas; trabalha até à morte e renuncia à vida para adquirir a "imortalidade". Faz a corte aos grandes que odeia, e aos ricos que despreza; nada poupa para obter a honra de os servir; gaba-se orgulhosamente de sua baixeza e de sua proteção; e vaidoso da sua escravidão, fala com desdém daqueles que não tem a "honra" de a partilhar. "


J.J Rouseau, Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens


Liberdade

do Lat. libertate
s. f.,

    faculdade de uma pessoa poder dispor de si, fazendo ou deixando de fazer por seu livre arbítrio qualquer coisa;

    gozo dos direitos do homem livre;independência;autonomia; permissão;ousadia;

    (no pl. ) regalias;

    (no pl. ) privilégios;

    (no pl. ) imunidades.

    - de consciência: direito de emitir opiniões religiosas e políticas que se julguem verdadeiras;

    - de imprensa: direito concedido à publicação de algo sem necessidade de qualquer autorização ou censura prévia, mas sujeito à lei, em caso de abuso;

- individual: garantia que qualquer cidadão possui de não ser impedido de exercer e usufruir dos seus direitos, excepto em casos previstos por lei.

Fonte: Dicionário on line Priberan


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sábado, abril 1

Cotidiano

Homenagem para um amigo que não vejo há muito...onde quer que você esteja, grande abraço e obrigado por tudo...


Cotidiano
©Leonardo Andrade Fernandes
Sim, eu posso fingir que está tudo bem e gerar novos sorrisos vazios.
Posso disfarçar o que sinto e apresentar uma expressão serena.
Ninguém vai perceber.
Todos estão tão preocupados com suas máscaras e disfarces que não são capazes de vislumbrar nada além de seus próprios umbigos.
Atores lamentáveis com papéis clichés, tudo, absolutamente tudo soa falso nesse mundo sem alma.
Status, poder, postura e equilíbrio (???) sobrepõem o caráter, a éticaverdadeira e o lado humano.
Parece que quanto mais a ciência evolui, mais robotizadas e sem iniciativa aspessoas ficam, todas preocupadas em se adequar a papéis pré-formatados eengessados e não a criar novos. É o fim do Pensamento e da criatividade, é aera da Adequação.
Nada de novo é gerado, criar novas palavras para dizer exatamente as mesmascoisas virou moda, reciclar conceitos antigos e ultrapassados vendendo-os como uma "nova visão" gerou novos e fantásticos "gurus" , todos com um imenso hiato de idéias e valores.
Relações superficiais e funcionais, individualismo, valores altamentequestionáveis, ética mascarada .... onde vamos parar ?
Tudo isso me assusta, mas apesar disso continuo sentado num escritórioexatamente igual ao modelo descrito, preso, encarcerado pelas grades sociais e convencionais enquanto a vida chama lá fora. Aqui limito-me a sobreviver eaguardar o fim.
Temos que mudar isso, nos ajudar, buscar um novo sentido, temos que definir as fronteiras entre "viver" e "sobreviver" e decidirmos de que lado queremosficar.
Vamos nos ajudar ...

sexta-feira, março 31

Sapere aude !

Nem só de pão vive o homem…
Abraços e um ótimo fim de semana!


" Como vale a pena viver agora! Em vez da monótona labuta de procurar peixe junto aos barcos de pesca, temos uma razão para estar vivos! Podemos subtrair-nos à ignorância, podemos encontrar-nos como criaturas excelentes, inteligentes e hábeis. Podemos ser livres! Podemos aprender a voar ! "

Richard Bach, Fernão Capelo Gaivota



" Esclarecimento significa a saída do homem de sua minoridade, pela qual ele próprio é responsável. A minoridade é a incapacidade de se servir de seu próprio entendimento sem a tutela de um outro. É a si próprio que se deve atribuir essa minoridade, uma vez que ela não resulta da falta de entendimento, mas da falta de resolução e de coragem necessárias para utilizar seu entendimento sem a tutela de outro. Sapere Aude! 1 Tenha a coragem de te servir de teu próprio entendimento, tal é portanto a divisa do Esclarecimento. "

" Um homem pode, sem dúvida, no que diz respeito a sua pessoa, e mesmo então, somente por algum tempo, retardar o seu Esclarecimento; mas renunciar a ele, seja em caráter pessoal, e ainda mais para a seus descendentes, significa lesar os direitos sagrados da humanidade, e pisar-lhe em cima. "



Immanuel Kant, O que é o esclarecimento?

(1) "Ousa saber!" Horácio, Epistulae, livro 1, carta 2, verso 40.

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