sexta-feira, agosto 12

Há quem viveu muito e não viveu

"Aproveitem" a vida !
Abraços,


" Qualquer que seja a duração da vossa vida, ela é completa. Sua utilidade não reside na duração e sim no emprego que lhe dais. Há quem viveu muito e não viveu. Meditai sobre isso enquanto o podeis fazer, pois depende de vós, e não do número de anos, terdes vivido bastante"

Montaigne

Ensaios

"Pensas que cada dia é teu último, e aceitarás com gratidão aquele que não mais esperava"

Horácio, Poeta Romano 65-8 aC


Personalidade em Mosaico ou Fragmentos de Personas

Numa cidade qualquer, num dia qualquer de um tempo medido apenas cronologicamente, ele se levanta.
Acorda para mais um dia e olha para seu cabide imaginário de personas pensando qual fantasia vestirá hoje.

Nesse mundo globalizado e sem fronteiras, ele acha melhor assim.

Se "veste" conforme a ocasião, age como crê que gostariam que agisse e sobrevive sendo apenas mais um na multidão, não sendo notado, só mais um rosto indiscernível no meio de tantos iguais.

Ele já foi diferente, já sonhou e viu seus castelos de areia desaparecerem em marés cíclicas e incontroláveis, já lutou Quixotescamente com moinhos de vento e viu suas quimeras desaparecerem em Brumas.

Ele precisa sobreviver. Para isso abre mão de vivenciar suas idéias, seus pensamentos, suas convicções. O preço de ser diferente é muito alto e seu cacife se esgotou, ele agora é apenas um jogador passivo que não aposta mais nada e sequer blefa ...

Sonhos não alimentam o corpo e a alma ele já perdeu leiloada por migalhas há tempos.
Que bom que existem suas personas !

Ele finge ser quem quiser e os outros acreditam (ou fingem que) num simbiótico e prático acordo.


Para que arriscar ser real se tudo é de mentira ?


Assim ele finge que é feliz e pode ser tudo que quiser, pode até querer ser feliz mesmo, num mosaico de fantasias e realidade entrelaçadas e confundidas. Nada é exatamente o que parece ser, mas também para que "ser" se o "estar", transitório e impermanente pode oscilar ao sabor da maré e trazer resultados mais práticos e bem menos dolorosos.

Hoje, ele definitivamente deixa de sonhar com um mundo diferente e seu último fragmento de alma, um literal fio de esperança, se solta desaparecendo para sempre.

Agora ele é irreversivelmente mais um da tribo dos sem-alma, vivendo em festas à fantasia com trajes previamente escolhidos pelos anfitriões de sua subsistência.

Hoje mais uma estrela se apagou e o mundo tornou-se ainda mais escuro

Leornado Andrade, poeta e amigo

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