O que faz que tão poucos sejam agradáveis na conversação é que cada qual pensa mais no que quer dizer do que no que dizem os outros. É preciso que escutemos os que falam, se quisermos ser escutados, é preciso dar-lhes a liberdade de se fazerem ouvir, e mesmo de dizerem coisas inúteis. Em lugar de os contradizer ou interromper, como sempre fazemos, devemos, ao contrário, mostrar que ouvimos, falar-lhes do que lhes interessa, louvar o que dizem, se merecer ser louvado, dar mostras de que é antes por escolha do que por complacência que louvamos. É preciso evitar contestar coisas indiferentes, raramente fazer perguntas, que são quase sempre inúteis, nunca deixar supor que pretendemos ter mais razão do que os outros e ceder com desenvoltura a vantagem da decisão.
Devemos dizer coisas naturais, fáceis e menos ou mais sérias segundo o humor e inclinação das pessoas com quem nos entretemos, não apressá-las a aprovar o que dizemos e nem mesmo a nos responder. Quando assim tivermos satisfeito os deveres da polidez, podemos falar de sentimentos, sem prevenção nem teimosia, deixando transparecer que buscamos apoiados na opinião de quem ouve.
É preciso evitar falar longamente de si mesmo e tomar-se como exemplo com freqüência. Não é de somenos o cuidado de conhecer a inclinação e o alcance daqueles com quem falamos, para fazer coro com o espírito de quem o tem mais que nós e para somar suas opiniões às nossas, deixando-os pensar, o mais possível, que é deles que as emprestamos. É hábito não esgotar os assuntos de que se trata e deixar que os outros tenham sempre algo a pensar e a dizer.
Nunca devemos falar com ares de autoridade, nem nos servirmos de palavras e termos maiores do que as coisas. Podemos manter nossas opiniões, se forem razoáveis, mas nunca, ao mantê-las, ferir os sentimentos dos outros, nem parecer chocados com o que dizem. É perigoso querer dominar a conversação e falar demasiadamente da mesma coisa; devemos entrar indiferentemente em todos os assuntos agradáveis que se apresentem, sem mostrar nunca que desejamos levar a conversa para o que temos vontade de dizer.
É necessário observar que toda espécie de conversação, por honesta e espiritual que seja, não é igualmente própria para toda espécie de pessoas honestas: é preciso escolher o que convém a cada uma e escolher mesmo o momento de dizê-lo; se há arte em saber falar com propósito, não há menos arte em saber calar. Há um silêncio que é eloqüente: ele serve às vezes para aprovar e para condenar; há um silêncio que é mofa; há um silêncio respeitoso. Há, enfim, ares, tons e maneiras que fazem amiúde o agradável e o desagradável, o delicado e o chocante na conversação; o segredo para bem empregá-los é de poucos conhecido e enganam-se por vezes mesmo os que ditam as regras, as mais certa das quais, parece-me, é não ter nenhuma que não possa ser modificada, é antes aparentar negligência que afetação no que se diz, é escutar, não falar e nunca forçar-se a falar.
Da obra: Máximas e Reflexões, La Rochefoucauld, Editora Imago
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