segunda-feira, julho 11

O burguês

“Quem tem um por quê viver suporta quase sempre o como viver.”

Friedrich Nietzsche



" O burguês, como um estado sempre presente da vida humana, não é outra coisa senão a tentativa de uma transigência, a tentativa de um equilibrado meio termo entre os inumeráveis extremos e pares opostos da conduta humana. (...) O homem tem a possibilidade de entregar-se por completo a vida espiritual (...). Também tem, por outro lado, a possibilidade de entregar-se inteiramente à vida dos instintos, aos anseios da carne, e dirigir seus esforços no sentido de satisfazer os prazeres momentâneos.

Viver intensamente só se consegue à custa do eu. Mas o burguês não aprecia nada tanto quanto o seu eu (um eu na verdade rudimentarmente desenvolvido). (...) À custa da intensidade, consegue, pois, a subsistência e a segurança; em lugar da posse de Deus cultiva a tranquilidade da consciência.; em lugar do prazer, a satisfação; em lugar da liberdade, a comodidade; em lugar dos ardores mortais, uma temperatura agradável. O burguês é, pois, segundo sua natureza, uma criatura de impulsos vitais muito débeis e angustiosos, temeroso de qualquer entrega de si mesma, fácil de governar. Por isso, colocou em lugar do poder a maioria, em lugar da autoridade, a lei, em lugar da responsabilidade as eleições."


Heraman Hesse

Da obra: O Lobo da Estepe

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