quarta-feira, janeiro 28

Os sofredores

“Os sofredores são todos horrivelmente dispostos e inventivos, em matéria de pretextos para seus afetos dolorosos; eles fruem a própria desconfiança, a cisma com baixezas e aparentes prejuízos, eles revolvem as vísceras de seu passado e seu presente, atrás de histórias escuras e questionáveis, em que possam regalar-se em uma suspeita torturante, e intoxicar-se do próprio veneno de maldade - eles rasgam as mais antigas feridas, eles sangram de cicatrizes há muito curadas, eles transformam em malfeitores o amigo, a mulher, o filho e quem mais lhes for próximo. "Eu sofro: disso alguém deve ser culpado" – assim pensa toda ovelha doente.”

Nietzsche, A Genealogia da Moral

A liberdade diante da opressão

“(...) A liberdade diante da opressão, do incômodo, da desordem, dos negócios, os deveres, dos cuidados; a lucidez de espírito; a dança, os saltos e o vôo em seus pensamentos; um ar puro, leve, claro, livre, seco, como ar do alto das montanhas que torne todo ser animal mais espiritual e que lhes dê asas; calma nos subterrâneos; todos os cães delicadamente amarrados com correntes; nada de latidos nem rancores de pêlo eriçado; nada de verme que rói o orgulho ferido; entranhas modestas e submissas, diligentes como um moinho, mas distantes; coração estranho, do além, futuro póstumo; “

Nietzsche, A Genealogia da Moral

O que é digno de amor ?

 

“Se continuarmos a amar sinceramente o que é digno de amor, e não desperdiçarmos nosso amor em coisas insignificantes, nulas e insípidas, obteremos pouco a pouco mais luz e nos tornaremos mais fortes.”

 

Van Gogh, Cartas a Theo

 

terça-feira, janeiro 6

Seu lugar no mundo

 

“ Nenhum homem está livre do medo se não ousa ver qual é o seu lugar no mundo; nenhum homem pode atingir a grandeza de que é capaz até que tenha se permitido ver sua pequenez.”

 

Bertrand Russel, Ensaios Céticos

 

Pequenas massas impuras de carbono e água

“ O universo é muito vasto, como revela a astronomia. Não podemos dizer o que existe além do que os telescópios mostram.  Mas sabemos que é de uma imensidão inimaginável. No mundo visível, a Via Láctea é um fragmento minúsculo;  e, nesse fragmento, o sistema solar é uma partícula infinitesimal, e, dessa partícula, nosso planeta é um ponto microscópico. Nesse ponto, pequenas massas impuras de carbono e água, de estrutura complexa, com algumas raras propriedades físicas e químicas, arrastam-se por alguns anos, até serem dissolvidas outra vez nos elementos de que são compostas. Elas dividem seu tempo entre o trabalho designado para adiar o momento da sua dissolução e a luta frenética para acelerar o de outras do mesmo tipo.  As convulsões naturais destroem periodicamente milhares ou milhões delas e a doença, devasta do mesmo modo prematuro, mais algumas. Esses eventos são considerados infortúnios; mas quando o homem tem êxito ao impor semelhante destruição  por seus próprios esforços, regozijam-se e agradecem a Deus. Na vida do sistema solar, o período no qual a existência do homem terá sido fisicamente possível é uma porção minúscula do todo; mas existe alguma razão para esperar que mesmo antes desse período terminar o homem tenha posto fim à sua existência por seus próprios meios de aniquilação mútua. Assim é a vida do homem vista de fora. “

 

Bertrand Russel, Ensaios Céticos