sexta-feira, julho 7

Inconstância e Vaidade: por Gregório de Mattos



Bom fim de semana.
Abraço,


"Quando reconhecemos nosso lugar na imensidão de anos-luz e no transcorrer das eras, quando compreendemos a complexidade, a beleza e a sutileza da vida, então o sentimento sublime, misto de júbilo, humildade é certamente espiritual "

Carl Sagan


Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
 
Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.

Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.

Gregório de Mattos,
À instabilidade das coisas no mundo.

 


É a vaidade, Fábio, nesta vida                        

Rosa, que de manhã lisonjeada,                    

Púrpuras mil, com ambição dourada,            

Airosa rompe, arrasta presumida.                  

É planta, que de abril favorecida,                  

Por mares de soberba desatada,                    

Florida galeota empavesada,                         

Sulca ufana, navega destemida.                      

É nau enfim, que em breve ligeireza,              

Com presunção de Fênix generosa,                

Galhardias apresta, alentos preza:                

Mas ser planta, ser rosa, ser nau vistosa       

De que importa, se aguarda sem defesa        

Penha a nau, ferro a planta, tarde a rosa?   

Gregório Mattos, 

Dos Desenganos da Vida Humana


Gregório de Mattos

Gregório de Matos e Guerra nasceu, de família abastada, em Salvador, provavelmente em 1636. Em 1651 foi para Portugal, onde ingressou, no ano seguinte, na Universidade de Coimbra. Formando-se em 1661, casa-se com Micaela de Andrade e ocupa vários cargos na magistratura portuguesa. Enviúva em 1678 e retorna para o Brasil, abatido e desiludido, em 1681. Em Salvador, leva uma vida desregrada, improvisando poemas acompanhados de viola e satirizando os poderosos (Fonte:
www.sontetos.com.br )

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