sexta-feira, maio 26

Só a bailarina que não tem ...


Se todo mundo tem…então porquê só reparamos nos dos outros?

Bom final de semana!

Procurando bem
Todo mundo tem pereba
Marca de bexiga ou vacina
E tem piriri, tem lombriga, tem ameba
Só a bailarina que não tem
E não tem coceira
Berruga nem frieira
Nem falta de maneira
Ela não tem


Futucando bem
Todo mundo tem piolho
Ou tem cheiro de creolina
Todo mundo tem
um irmão meio zarolho
Só a bailarina que não tem
Nem unha encardida
Nem dente com comida
Nem casca de ferida
Ela não tem



Não livra ninguém
Todo mundo tem remela
Quando acorda às seis da matina
Teve escarlatina
Ou tem febre amarela
Só a bailarina que não tem



Medo de subir, gente
Medo de cair, gente
Medo de vertigem
Quem não tem



Confessando bem
Todo mundo faz pecado
Logo assim que a missa termina
Todo mundo tem um primeiro namorado
Só a bailarina que não tem


Sujo atrás da orelha
Bigode de groselha
Calcinha um pouco velha
Ela não tem



O padre também
Pode até ficar vermelho
Se o vento levanta a batina
Reparando bem, todo mundo tem pentelho
Só a bailarina que não tem



Sala sem mobília
Goteira na vasilha
Problema na família
Quem não tem
Procurando bem
Todo mundo tem...

Ciranda Da Bailarina

Composição: Chico Buarque e Edu Lobo

sexta-feira, maio 19

Leviatã


 " O que imaginarmos será finito. Portanto, não existe qualquer idéia ou concepção de algo que possamos denominar infinito. Nenhum homem pode ter em seu espírito uma imagem de magnitude infinita, nem conceber uma velocidade infinita, um tempo infinito, ou uma força infinita ou um poder infinito. Quando dizemos que alguma coisa é infinita, queremos apenas dizer que não somos capazes de conceber os limites e fronteiras da coisa designada, não tendo concepção da coisa, mas da nossa própria incapacidade. O nome de Deus é usado, não para nos fazer concebê-lo pois Ele é incompreensível e a sua grandeza e poder são inconcebíveis, mas para que o possamos venerar."

Leviatã, Thomas Hobbes


Jó Capítulo : 41

1 Poderás tirar com anzol o leviatã, ou apertar-lhe a língua com uma corda?

2 Poderás meter-lhe uma corda de junco no nariz, ou com um gancho furar a sua queixada?

3 Porventura te fará muitas súplicas, ou brandamente te falará?

4 Fará ele aliança contigo, ou o tomarás tu por servo para sempre?

5 Brincarás com ele, como se fora um pássaro, ou o prenderás para tuas meninas?

6 Farão os sócios de pesca tráfico dele, ou o dividirão entre os negociantes?

7 Poderás encher-lhe a pele de arpões, ou a cabeça de fisgas?

8 Põe a tua mão sobre ele; lembra-te da peleja; nunca mais o farás!

9 Eis que é vã a esperança de apanhá-lo; pois não será um homem derrubado só ao vê-lo?

10 Ninguém há tão ousado, que se atreva a despertá-lo; quem, pois, é aquele que pode erguer-se diante de mim?

11 Quem primeiro me deu a mim, para que eu haja de retribuir-lhe? Pois tudo quanto existe debaixo de todo céu é meu.



 " Servirá a grandeza de Deus deixar o mundo que Ele criou em meio a tão universal desordem? Ver o perverso quase sempre prevalecer sobre o justo; o usurpador destronar o inocente; o pai tornar-se vítima da ambição de um filho desnaturado; o marido expirar sob os golpes de uma esposa bárbara e infiel? Do alto de sua grandeza, deveria Deus contemplar esses melancólicos eventos como uma fantástica diversão, sem participar deles? Por ser grande, Ele deveria ser fraco, ou injusto, ou bárbaro? Porque os homens são pequenos, dever-se-ia, permitir-lhes  ser dissolutos sem punição, ou virtuosos sem recompensa? Ah, Deus! Se isso é uma característica do Vosso supremo ser, se sois vós a quem adoramos por tão terríveis idéias, já não Vos posso reconhecer como meu pai, meu protetor, conforto da minha tristeza, amparo de minha fraqueza, recompensa da minha felicidade. Não seríes mais do que um tirano indolente e fantástico, que sacrifica os homens à sua vaidade insolente, e que os tirou do nada apenas para fazê-los servir de pilhéria do seu ócio e aos seus caprichos"

Teoria dos Sentimentos Morais, Adam Smith




quinta-feira, maio 18

FW: No caminho com Maiacóvski

O texto a seguir, me foi repassado por um grande amigo, a autoria é desconhecida.
Abraços
 
No caminho, com Maiacóvski

Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiacóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
 o coração grita - MENTIRA !



sexta-feira, maio 12

Jogo de cabra-cega pelas costas das coisas

Olhe as coisas ao seu redor... você tem certeza?
Ótimo fim de semana!
Abraços,

 
" No homem a arte da simulação atinge seu auge: aqui decepção, bajulação, mentira e trapaça, falar pelas costas, pose, viver com esplendor emprestado, ser mascarado, o disfarce da convenção, desempenhar um papel diante dos outros e de si mesmo - em suma, o constante alvoroço em torno da chama única da vaidade é de tal forma a regra e a lei, que quase nada é mais incompreensível do que uma honesta e pura ânsia pela verdade ter surgido entre os homens. Eles são profundamente imersos em ilusões e imagens oníricas; seus olhos só deslizam sobre a superfície das coisas e vêem "formas"; seus sentimentos em ponto algum levam à verdade, mas se contentam com a recepção de estímulos, jogando, por assim dizer, um jogo de cabra-cega pelas costas das coisas."

Sobre verdades e mentiras em um senso não moral, Friedrich Nietzche





"A afirmação de que os sentidos do homem representam a medida das coisas é falsa. Ao contrário, todas as percepções, tanto sensoriais quanto mentais, são relativas ao homem, não ao universo. A compreensão humana é como um espelho ondulado recebendo os raios das coisas e mesclando sua própria natureza com a natureza das coisas, que por conseguinte as distorce e as corrompe."

O Novo Organon, Francis Bacon

sexta-feira, maio 5

A máquina do mundo


Será  que estamos no lugar certo, na hora certa, com as pessoas certas fazendo e sofrendo o que nos cabe?
Bom final de semana!
Abraços.


 

"Se fossem retiradas da vida dos homens a pressão

 da necessidade, dificuldade, contrariedade e frustração,

a petulância destes cresceria até as manifestações de

 loucura e delírio. Todos necessitam  sempre de uma

 certa dose de preocupação, de dor, ou necessidade,

como navio precisa de lastro para navegar com firmeza "

Arthur Schopenhauer, Do Sofrimento do Mundo





" Mesmo as menores partes coexistentes do universo, estão perfeitamente adaptadas umas às outras, e todas contribuem para compor um sistema imenso e coerente; do mesmo modo, todos, mesmo aparentemente os mais insignificantes dos sucessivos eventos que resultam um do outro, são partes, e partes necessárias, da grande cadeia de causas e efeitos que não teve começo, e que não terá fim; e, como todos resultam necessariamente da disposição e trama originais do todo, são todos essencialmente necessários, não apenas para a prosperidade deste todo, mas para sua continuação e conservação. Quem não abraça cordialmente tudo o que lhe sucede, quem lamenta isso lhe ter sucedido, quem almeja que aquilo não tivesse acontecido, deseja, na medida de suas forças, parar o movimento do universo, romper a grande cadeia de sucessão ( por cujo o progresso unicamente tal sistema pode continuar e conservar-se), e deseja, por causa de um pequeno conforto privado, perturbar e decompor toda a máquina do mundo."

Texto atribuído ao imperador romano Marco Aurelio